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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LONDON LETTERS

The Tigress, the Eagle and Monsieur D, 1982~2013

 

Só mesmo uma mente à John Le Carré para lidar com tais eventos. Quando os National Archives descerram secret documents da Premiership de uma das protagonistas políticas na queda da Union of Soviet Socialist Republics, simbolizada no derrube do Berlin Wall e na ideia de que “there is no such thing as society,” eis que surge novíssimo tipo de dissidência no outrora conhecido capitalist West.

 

Monsieur Gérard Dépardieu requere passaporte russo, busca refúgio em Moscow e evade-se de uma taxa fiscal de 75% sobre as grandes fortunas na France do Président François Hollande. – Mais non! Pas cette épouvantable affaire! Já no UK surgem os 1982 Thatcher Files, em conjunto densamente pautado no spymaster scene-setting da Cold War. – Should I ring the Agency? Das tribulações na visita a Whitehall de Mr Ronald Reagan ao abalo em Downing Street com a invasão militar argentina nas Falklands Islands até à cismática restauração de valores austeritários nos Home Affairs, a instituição do Surrey proporciona singular viagem à intrépida corte de The Rt Hon Margaret Thatcher.

 

Talvez a persuasão ideológica contenha algo da ironia. Se a evasão tributária abre trilho a novelas como ‘The Actor Who Goes into the Cold’ ou ‘Our Man in The Putin’s Kremlin,’ o superior estádio da desobediência civil gaulesa remete para a gold question de Mr Henry D Thoreau: "Que é este governo... que a cada instante perde algo da sua integridade?" Ora, igual pergunta escoltava as ondas de choque do fenómeno Thatcher até uma abrupta re-legitimação patriótica no ano de 1982. O governo vive aí o mais baixo ponto de popularidade, com o desemprego e a emigração em níveis só observados durante a Great Depression: uma em cada oito pessoas não possui trabalho, com a escalada a ultrapassar os três milhões em January e a pobreza a engolir 12,2 milhões de britânicos. Três meses depois eclode a vitoriosa Falklands War nos mares do Sul e as T-policies são subtilmente rebatizadas at home de a conservative revolution.

 

Os 1980s são duros tempos de rutura. Entre os 6,000 documentos de diversa categorização sigilosa abertos ao público avultam dois dossiês deste período: 1) a Falklands War, com destaque para as decisões de Mrs Thatcher no gabinete de crise e a correspondência trocada com o Vatican; 2) a visita de Mr Reagan, em cujo Adress to The British Parliament apela à mobilização global para o downfall of Communism. Cotejando declarações de Sir Winston Churchill contra a tirania nazi, o US President profetiza na Royal Gallery do Palace of Westminster que “[t]he march of freedom and democracy… will leave Marxism-Leninism on the ash-heap of history."

 

O UK muda com a filha de Mr Alfred Roberts, de Grantham. Sob a bandeira da “free enterprise” desenrola-se a agenda de privatizações e a desregulamentação de amplos sectores de atividade. Mas é a memória do desmantelamento do Welfare State que ecoa na leitura dos Thatcher Files. Da análise ressalta tanto a incisiveness da Lady Prime Minister como o chaos behind the scenery. E aqui só a sagacidade do Dr Who ajudará na explicação: ‒ First things first, but not necessarily in that order.

 

St James, 8th January,

 

Very sincerely yours,

 

V.