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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Ítalo Calvino:

 

creio ser fiel à « Multiplicity» (Multiplicidade), de resto, como já escrevi, sou infiel às estrelas fixas. Desconheço a que distância de horas ou anos me encontro de outros ou de outras realidades, contudo em Calvino, também lhe chamo nó, a ela à multiplicidade nele; e multiplicidade é também enciclopédia de conhecimento e rede entre factos, coisas e mundo.

 

A cada página que escrevo, a cada poema que acedo, existe um sistema múltiplo e complexo que me vai dizendo da presença da Multiplicidade que envolve as várias fases do perceber, do acontecer, do análogo, do calor e do ruído, enfim da rede que propaga a história geológica da destinação da literatura pelo amor que lhe tenho.

 

O conhecimento das coisas enquanto infinitas relações passadas e futuras, possíveis ou impossíveis, convergem para a realidade que, naquele momento, aguarda em mim o localizado semântico que diga à palavra o quanto conhecer é inserir uma realidade no real.

 

De novo com Ítalo Calvino chego à rede que liga todas as coisas como sendo o tema de Proust, afinal o tempo da multiplicidade da ideia da Recherche.

 

Uma ideia da Recherche que implica uma multiplicação infinita das dimensões do espaço e do tempo, como refere Calvino nesta quinta “Lição Americana”. E acrescenta:

 

«O mundo dilata-se até se tornar inapreensível, e para Proust o conhecimento passa através do sofrimento desta inapreensibilidade. Neste sentido o ciúme que o narrador sente por Albertine é uma típica experiência do conhecimento»

 

…Et je comprenais l’impossibilité où se heurte l’amour. (E eu compreendia a impossibilidade contra a qual se choca o amor.)

 

Nous perdons un temps précieux sur une piste absurde et nous passons sans le soupçonner à côté du vrai. ( Perdemos um tempo precioso numa pista absurda e passamos sem dar por nada ao lado da verdade.)

 

Este é um dos contentores da Multiplicidade que carece de um movimento a cada dia, de modo a variar sempre as combinações do seu código de acordo com a Leveza, a Rapidez, a Exactidão, a Visibilidade, e, não estando eu em condições de definir os acessos, todavia, da sua existência, não tenho dúvidas, nem da aproximação que a eles podemos fazer a cada dia.

 

Harvard também floresceu em vigor pois que Calvino lhe disse abertamente:

 

Quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinação de experiências, de informações, de leituras, de imaginações?(…)oxalá fosse possível uma obra concebida fora do self, uma obra que nos permitisse sair da perspectiva limitada de um eu individual, não só para entrar noutros eus semelhantes ao nosso, mas para fazer falar o que não tem palavra, o pássaro que poisa no beiral.

 

A sexta lição, «Consistency» esperava Calvino escrevê-la em Harvard. Referimo-nos até aqui às cinco conferências que Calvino levaria.

Segundo Esther Calvino o texto dactilografado das conferências encontrava-se na sua secretária, em perfeita ordem, cada conferência numa capa transparente, e o conjunto dentro de uma pasta rígida, pronto para ser metido na mala de viagem.

 


Teresa Vieira