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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Gianni Vattimo: as impossibilidades de se reconhecerem essencialidades.

 

O peso e a importância que os mass media desempenham nas sociedades actuais, levou-me a reler “A Sociedade Transparente”, livro de Vattimo, publicado entre nós pela Relógio D’Água em 1992.

 

Parece-me importante ter consciência que, nomeadamente, o destino das experiências estéticas pode estar em causa pela excessiva fábula da reprodução e conhecimento dos acontecimentos em tempos reais. Nunca o ser será pensado como fundamento, se for dado a conhecer apenas como acontecimento, desautorizado pelo destino dos tempos que só tendem a revelar uma direcção.

 

Como afirmava Heidegger, o ser não é, mas acontece, ainda que, tal como interpreto, o carácter de ornamento do não-ser e do não-mundo geram um caos, e, neste caos habita a esperança de emancipação de cada um, como se a liberdade e o desejo de diferente futuro, não fossem mais do que viver sob o tal caos organizado de direcção única que nos propõem e vão impondo.

 

Na verdade, a estética das ideias ou a sua experiência, são processos que permitem reconhecer essencialidades,  ao contrário da inautenticidade, verdadeiro agente contaminador do extermínio do pensar.

 

Confesso que encontro cada vez menos uma atitude interessada quando nos referimos à experiência estética, na qual reside também o mito, aquele que está inelutavelmente ligado ao próprio juízo estético e que tanto constitui vanguarda no grau de saborear uma leitura, um filme, uma música, um olhar.

 

Acresce que também somos invadidos pelo sentimento de que o mundo inteiro é um palco, o que até perturba a experiência estética de Kant subordinada à contemplação.

 

Desconheço até que ponto se está seguro que somos nós que entramos no mundo do sentir estético e não ele que se nos proporciona.

 

Com Habermas, a ideia geral de uma esfera pública, coloca esta, numa estreita ligação ao mecanismo da informação e da comunicação social, definidos por sistemas de recolhas e transmissões de informação na construção do mundo como imagem.

 

Vattimo, neste seu livro, apela ao cuidado para que se não permita que os mass media sejam um dos instrumentos que modelam a nossa consciência, já que a sociedade não deve assentar a sua chance final, desligitimada da estabilidade estrutural que constitui a sua própria  capacidade critica.

 

O homem não é um turista no jardim da história. O homem é parte da complexa «sociedade transparente» e a profecia de Nietzsche é uma campainha: o mundo verdadeiro transforma-se em fábula.

Pede-se apenas uma energia translúcida, real, ancorada nos encontros dos quais o homem tem sede, uma sede por toda a vida.

 

M. TERESA BRACINHA VIEIRA