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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

ET VERITAS LIBERABIT NOS…

 

Minha Princesa de mim:

 

Nas notas redigidas em 1039, aqui em Kyoto, por Fujiwara no Sukefusa, chefe da chancelaria privada do imperador, deparamos com mortes e lutos, bem como com o interdito shinto de contacto ou aproximação dos cadáveres, por deles poder advir uma poluição contagiosa. Estamos em plena era Heian, quando se desenvolve o sincretismo shinto-budista. Neste cadinho se misturará esse interdito shintoista com o ensinamento budista que proíbe a matança de animais. Assim, açougueiros, talhantes, curtidores e todos os artesãos que trabalhassem despojos animais eram marcados pela impureza do contacto, tornando-se intocáveis. Daí vêm os burakumin, que serão hoje sensivelmente 2% da população nipónica. Etnicamente indiferenciáveis dos outros japoneses, tampouco o são pelo nome ou apelido. Mas durante um milénio se foram mantendo registos da sua origem e procurados indícios dela na genealogia de candidatos a empregos ou a casamentos. Confirmada a origem, empresas e famílias afastavam os pretendentes e, muitas vezes, os despediam ou deles se divorciavam, em casos de verificação posterior. Contra este interdito de facto, pouco conseguiram leis e regulamentos desde a era Meiji aos nossos dias. As sociedades que se sujeitaram a uma estrutura de castas  -  lembra-te dos párias na Índia  -   dificilmente dela se libertarão. O interdito, ou tabu, como marca do impuro, tem muita força. A palavra tabu é de origem polinésia e diz-se que nos chegou pelo capitão de marinha Cook, que a refere em 1771. Significaria, pelos seus dois componentes ta (marcar) e bu ou pu (com força), algo intensamente marcado. Diz Moerenhout : o tabu era uma lei, uma ordenação ou um édito do sumo sacerdote, que determinava se tal ou tal objecto era sagrado ou interdito. Tanto podia ser a proibição de tocar em tais árvores, em tais frutos, em peixe, etc., como poderia pretender iniciar  -  ou mesmo fazer participar  -  na natureza dos deuses, esses mesmos objetos e sobretudo certas pessoas que assim ganhavam respeito e veneração. Afinal, dirás tu, tudo poderá ser simultaneamente puro e impuro, conforme for situado na esfera do sagrado ou do profano. O fruto da árvore do conhecimento era sagrado e intocável, a transgressão movida pela serpente arrastou imediatamente o castigo que começa por revelar-se na profanação do olhar de Adão e Eva. Mas os tabus mais comuns referem-se fundamentalmente a interditos tocantes à alimentação, às excreções corporais e à sexualidade. Curiosamente, nas três religiões monoteístas do Livro, os interditos afirmados (ou "marcados com força") no Levítico e outros cânones do Antigo Testamento vigoram hoje sobretudo no seio do judaísmo mais ortodoxo e, alguns deles, sobretudo na alimentação, no islamismo. O cristianismo, seguindo o ensinamento de Jesus de que impuro é o que sai do homem (pensamentos, palavras, atos), foi abolindo as proibições canónicas ou rituais, permitindo assim a aculturação do Evangelho a todos os povos e a tradições diversas: a boa nova de Cristo Redentor chama igualmente o escravo e o homem livre, e o cristão será romano com os romanos, grego com os gregos... Não é o cumprimento ritual ou canónico de práticas religiosas que, pela perfeição mágica do seu regulamento respeitosamente executado, adquire o bem ou a salvação: esta foi para sempre oferecida pelo sacrifício de Cristo aos corações humanos que sinceramente se convertem. Vocação universal, dirige-se a todos e a cada um. Cristo é o novo Adão, no sentido de propor à humanidade maculada pelo pecado do primeiro homem o resgate que cada qual quiser aceitar. Todavia, a tentação jurídico-canónica do Tabú também no cristianismo foi encontrando oportunidades de insinuação e permanência, muito embora se procurassem outras justificações: ao celibato eclesiástico ou ao afastamento das mulheres das ordens sacras não é estranho o interdito levítico que se refere a uma impureza congénita da mulher, tal como outras disposições canónicas atentes à prática de jejuns e abstinências são familiares das antigas normas dos períodos de purificação, etc. O próprio descanso dominical  -  apesar de Jesus se ter afirmado Senhor do Sábado  - conheceu épocas de interpretação rigorista, ao jeito de um tabu hebraico... Como cristão, afirmo o meu credo: "creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na Comunhão dos Santos, na Remissão dos Pecados"... não me lembro de alguma vez ter proclamado acreditar no Pecado. Acredito, sim, na Remissão, na Ressurreição da Carne, na Vida Eterna, Amen! O gosto sistemático da culpabilização e, sobretudo, essa ideia de uma culpa anterior a nós, que se afirma, por uma interpretação da Epístola aos Romanos feita por Santo Agostinho, terá quiçá mais a ver com o maniqueísmo donde veio o Bispo de Hipona, do que com a presença de Deus na comunhão dos santos. Ao tal pecado original o mesmo Agostinho chamará Felix culpa! que nos mereceste tal Redentor... Mas o pecado é, afinal, uma condição muito mais colectiva no judaísmo e no islamismo, já mais pessoal no cristianismo. Penso que os ritos purificadores judeus, e islâmicos, têm muito a ver com a salvaguarda de uma cultura etno-religiosa, não vá o povo ofender o Deus da sua aliança por não cumprir  -  ou permitir que no seu seio não se cumpram  -  as obrigações contratadas ou contraídas. O pecado de qualquer um(a) é, antes de mais, uma traição à comunidade de fé a que se pertence. O crente é o que se submete à vontade de Deus,expressa na aliança que Ele fez com o seu povo e registada nos livros da revelação que,no caso do Corão,é um ditado divino feito em língua árabe (que aí é a língua de Alá,do próprio Deus) ao profeta Maomé. Mesmo numa comunidade tão ilustre,científica e artisticamente,como a dos judeus sefarditas, lusitanos, de Amsterdão, no século XVII, Baruch Spinoza será excomungado, tal como, séculos depois, Salman Rushdie será objeto de uma fatwa. Ou serão apedrejadas até à morte mulheres adúlteras, ou simplesmente degoladas por irmãos de sangue as que se quiseram unir a homens de outra etnia, religião ou condição social. A vigilância sobre o "pecado", a insistência feroz no cumprimento de certas normas de conduta, sem condescendência para com as diversidades culturais,nem tempos e modos diferentes  - essa atitude que hoje se apelida de fundamentalista  -  tem sobretudo como motivo a fobia étnico-cultural, ou sectária , da heresia ou do separatismo. A Inquisição católica também assim surge e se explica. Todavia, foi ela, sim, um desvio da mensagem de abraço universal do cristianismo. Como o foram, são e serão sempre, as atitudes, práticas e prédicas que pretendam ser possuidoras privilegiadas da verdade, e por isso escutam pouco ou nada e querem impor tudo ou muito. Princesa, minha não,  mas de mim sempre, há mais verdade do que subtileza nesta distinção. No silêncio de um jardim zen, na quietude de um despojamento de formas que me leva a contemplar o mundo como enigma, a inspiração de uma cultura diferente da minha põe-me em comunhão, profunda e sentida, com a Igreja em que fui nado e criado. E nela escuto essa voz antiquíssima e íntima,vinda de tão longe e sempre tão dentro do nosso coração,que nos vai dizendo: Deus amou tanto o mundo que lhe deu o seu Filho muito amado. O Deus-connosco vence a morte e assim apaga as marcas fortes de qualquer tabú. Dou-te a mão
                             

                        Camilo Maria


Camilo Martins de Oliveira

As revistas luso-brasileiras

Na sua excelente obra As relações literárias de Portugal com o Brasil (Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1992) João Alves das Neves, recentemente falecido após muitas dezenas de anos de porfiado serviço dedicado ao estudo do relacionamento cultural luso-brasileiro, dá conta da intensa e fecunda colaboração de escritores e jornalistas portugueses na imprensa brasileira a partir sobretudo do último quartel do século XIX e que, embora fosse decrescendo muito significativamente com o tempo, teve alguma expressão até para além de meados do século XX.

Fidelino de Figueiredo, em Um século de relações luso-brasileiras (1825-1928), escreveu que «muitas penas portuguesas têm mantido a ligação espiritual do Brasil com Portugal, por meio da imprensa brasileira, falando-lhe da velha metrópole, da sua cultura e de quanto do antigo mundo possa interessar os seus longínquos leitores: Eça de Queiroz, Maria Amália Vaz de Carvalho, Ramalho Ortigão, visconde de Santo Thyrso, Pinheiro Chagas, Mariano Pina, Guilherme de Azevedo, etc.» E deveria ter também acrescentado, entre outros, Raphael Bordallo Pinheiro. Já depois daquele período, impuseram-se na imprensa brasileira nomes como Carlos Malheiro Dias, Thomaz Ribeiro Collaço, o padre Sena Freitas, Filinto de Almeida, Jaime Cortesão e, já mais próximos do nosso tempo, Jorge de Sena ou Adolfo Casais Monteiro, além de, como fazendo parte do corpo editorial e redactorial d’O Estado de São Paulo, Victor Cunha Rego e Miguel Urbano Rodrigues.

Já quanto à presença de brasileiros na imprensa portuguesa não existe nenhum levantamento sistemático, sabendo-se no entanto que ela foi muito menor do que a verificada no sentido inverso. Poder-se-á, como exemplo, referir que Eça de Queiroz abriu as páginas da Revista de Portugal à colaboração do seu grande amigo brasileiro Eduardo Prado, com o qual conviveu diariamente nos seus anos de Paris.

Mas este intercâmbio não se esgotaria na imprensa diária ou periódica brasileira e portuguesa. Ele concretizou-se também de outra forma, através da criação de revistas luso-brasileiras. Não foi, no entanto, o caso de algumas revistas publicadas em Portugal, incluindo no título o nome do Brasil, mas que não contaram com a colaboração de autores brasileiros, sendo sim publicações portuguesas visando também o mercado brasileiro ou, no caso da Mala da Europa, criada e dirigida em 1894 por Delfim Guimarães e que se manteve até 1898, definindo-se como um hebdomadário para os portugueses de além-mar que, embora não mencionasse expressamente o Brasil, tinha o país-irmão  como principal alvo. Em 1 de Abril de 1859 deu-se o aparecimento da Revista Contemporanea de Portugal e Brazil, cujos proprietários e directores foram António de Brederode e Ernesto Biester, que se extinguiu em 1865, e teve como colaboradores Alexandre Herculano, Rebelo da Silva, Mendes Leal Júnior, Camilo Castelo Brancoe outros escritores de renome, além de contar em cada número com um retrato e uma estampa de Tomaz d’Anunciação. E de 1872 a 1875 circulou, dirigida por Rangel de Lima, Artes & Letras (revista de Portugal & Brazil), também com uma valiosa colaboração de destacados autores portugueses. Porém, as revistas luso-brasileiras propriamente ditas só chegariam muito mais tarde.

No dia lº de Dezembro de 1899 foi publicado em Lisboa o primeiro número de Brasil-Portugal, revista quinzenal ilustrada, que findou em 16 de Agosto de 1914, fará em breve cem anos, com a saída do seu número 301, persistente esforço levado a cabo sob a direcção de Augusto de Castilho (que faleceria em 1912), Jayme Victor e Lorjó Tavares, editado por Luiz Antonio Sanches, tendo como colaboradores literários «os primeiros escriptores de Portugal e Brasil» e como colaboradores artísticos «os melhores desenhadores de Portugal».

Por coincidência ou não, no ano seguinte ao desaparecimento de Brasil-Portugal, em 15 de Novembro de 1915, surgiu em Lisboa a revista Atlântida – mensário artístico, literário e social para Portugal e Brasil, dirigida pelo lado português por João de Barros e do lado brasileiro por João do Rio, nome literário do escritor Paulo Barreto. Publicação independente, lançada com o alto patrocínio do Ministro das Relações Exteriores do Brasil e do Ministro dos Negócios Estrangeiros e do Fomento de Portugal, da revista foram publicados 48 números, o último dos quais em 1920.

Muito mais tarde, entre 1942 e 1945, deu-se a publicação em Lisboa e no Rio de Janeiro da primeira série de Atlântico – revista luso-brasileira, criada pelos Governos de Portugal, através do S.P.N., e do Brasil., através do D.I.P., mais tarde designados por S.N.I. e D.N.I., respectivamente. Foram seus primeiros directores António Ferro, pelo lado português, e Lourival Fontes, pelo lado brasileiro. Em 1946, teve início uma nova série, dirigida por António Ferro e por Oscar Fontenelle, terminada em 1948, a que se seguiu uma terceira e última série, até 1950, num total de 16 números, tendo entretanto havido várias alterações nos seus directores portugueses e brasileiros. Apesar de se tratar de uma publicação governamental, há que reconhecer que nela sempre foi preservada a liberdade intelectual e crítica dos seus colaboradores.

No âmbito de revistas dedicadas a estudos de temas luso-brasileiros e lusófonos, sem pretender ser exaustivo na sua enumeração, merece destaque a existência no Brasil de duas publicações em curso, ambas semestrais: Convergência Lusíada, editada pelo Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, já no número 29, e Via Atlântica, editada pela Área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa da Universidade de São Paulo, com 22 números já publicados.

Não será possível dizer com justeza que as relações literárias e intelectuais entre Portugal e Brasil sejam hoje menos intensas do que foram em tempos idos. Mas elas desenvolvem-se agora de modo diverso, muito menos através da imprensa diária e cultural (excepção feita ao JL), e muito mais através do contacto directo dos autores com  a gente de letras e os públicos em geral de ambos os lados do Atlântico, nas feiras, congressos, seminários, conferências e lançamentos de livros. No entanto, creio que ainda teria sentido um regresso ao diálogo luso-brasileiro através de uma revista daquele tipo, de carácter independente, ou então, melhor ainda, a criação de uma publicação aberta a todo o espaço da lusofonia – que, tratando-se de uma publicação on line, não parece ser um projecto dificilmente realizável. Aqui fica a sugestão.

 

Mário Quartin Graça

PAUL CELAN

Um sábio de flores

 

Nasce na Roménia em 1920 e apesar de seus pais terem sido deportados para um campo de extermínio, onde morrem, Celan sobrevive ao Holocausto apesar de se encontrar até 1943 preso num campo de trabalho.

Mais tarde vem a fixar-se em Paris.

Este poeta romeno também traduz, nomeadamente Shakespeare e Pessoa. Em 1970 suicida-se no Sena.

João Barrento numa tradução e posfácio de um livro de Celan – A Morte É Uma Flor, editado pela Cotovia, dedica

Para a Yvettte Centeno, que sabe, como Celan, que a morte é uma flor.

No poema de Celan:

 

A morte é uma flor que só abre uma vez.

Mas quando abre, nada se abre com ela.

Abre sempre que quer, e fora da estação.

E vem, grande mariposa, adornando caules ondulantes.

Deixa-me ser o caule forte da sua alegria.

 

A professora Doutora Yvette Centeno, professora da Universidade Nova de Lisboa,  entre outros autores, também traduziu Shakespeare Brecht, Goeth, Fassebiner, Paul Celan.

Imagino-a em Celan num campo aberto à batalha dos pensamentos. Imagino-a hóspede de caminhos de Paul Celan, onde habitou a própria linguagem das coisas últimas, das coisas quase, quase silenciosas.

Para mim, ler Celan, sempre significou, morar numa oficina onde inacabadas peças se casam com obras de uma completude quase total e, não necessariamente dramática, já que a escrita, quando nua, é também esperança e história de uma linguagem, que se escreve a cada dia.

Por essa mesma razão entendo que ler Celan passará sempre pelo entendimento de que a disponibilidade da sua poesia à revelação, não é silêncio; é mesmo a necessidade do que o poema tem de ser: registo de circunstâncias, memória e prece.

Leia-se neste livro a que acima me refiro:

(…)

Com os olhos de uma criança, com

os olhos da sua mãe

encontro eu a minha segunda,

a minha primeira janela.

 

E eis também a possibilidade de o poeta ter conhecimento do quanto o universo é um brinquedo dos deuses, ou coisa já criada, na qual, quem joga é quem é jogado, e a mutação do jogo é afinal a quase imobilidade da vida, ou sua inicial esperança.

E não se terá conformado Celan com a condição da vida que lhe coube, nem com a morte prematura de Walter Benjamin – ensaísta, filósofo e sociólogo judeu alemão - que coincide com o pulsar literário de Celan.

A este respeito leia-se João Barrento referindo-se às obras de Benjamin e de Celan, numa impressionante e prodigiosa digressão sobre a relação virtual entre Benjamin e Celan nas palavras de Eduardo Prado Coelho.

Enfim,

quando Celan visitou heidegger, e passearam
pelo bosque antes da chuva, ao despedir-se escreveu
no livro da casa sobre a esperança de uma
palavra a vir no coração

Afinal pedia Celan uma palavra, apenas uma palavra, e que fosse ela tudo, sem sonhos que a confundissem, nem exigissem uma alma junto ao Sena.

 

Teresa Vieira

Sec:XXI

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE COM O GRUPO FERNANDO PESSOA

Vemos Carlos Drummond de Andrade na fotografia do Grupo Fernando Pessoa no Brasil, e uma vez mais confirmamos o prestigio desta viagem dos artistas portugueses: para além da tournée propriamente dita, temos os contactos que desenvolveu e os espetadores que selecionou, entre o melhor da literatura e da intelectualidade brasileira da época.

E entre esse grupo notável da fotografia, temos então o “poeta Drummond”, como por vezes era e é designado, o que mostra desde logo, não só a projeção em si, como o significado específico que a sua criação poética alcançou e alcança ainda hoje… Mas que não pode ser limitativa.

Quer isto dizer que Drummond deixou-nos dezenas de livros de prosa e poesia, numa base biográfica profissionalmente dispersa, do jornalismo ao funcionalismo mas mesmo aí ligado ao património histórico e à gestão cultural: e desde cedo destacadíssima na geração que se seguiu à Semana de Arte Moderna de 1922.

São de facto dezenas de títulos, sobretudo de poesia mas também de ficção e de estudos de literatura e de cultura, num estilo que se vai depurando na expressão - o que ele próprio reconhecerá:

«À medida que envelheço vou-me desfazendo dos adjetivos. Chego a ver que tudo se pode dizer sem eles, melhor que com eles: Por que “noite gélida”, “noite solitária”, “profunda noite”? Basta “a noite”. O frio, a solidão, a profundidade da noite estão latentes no leitor, prestes a envolvê-lo, à simples provocação dessa palavra “noite”»… 

E se transferirmos para certo quotidiano de linguagem, encontramos por exemplo este texto curioso:

«Em Portugal era assim, não sei se ainda é: ao passar uma cachopa risonha, vestida de cores alegres, dizia-lhe o paquera: “Estás uma Páscoa” ou “És uma Páscoa”. Deu-me vontade de dizer o mesmo, trocando o tu por você, à garota pascalíssima, parada em frente à vitrina.  Certamente ela não entenderia, pelo que me remetia ao silêncio. E fiquei olhando a garota que olhava ovos de Páscoa”.

Note-se, não sabemos nem quando nem onde em Portugal se chamava a “uma cachopa” “uma Páscoa”…! Mas foi o que escreveu Drummond!

Carlos Drummond de Andrade não deixou uma obra dramatúrgica assinalável. Mas a sensibilidade, a profundidade psicológica e sentimental, e a espetacularidade intrínseca da sua poesia justificou diversas adaptações e dramatizações, que refletem também “o mundo de sempre, com problemas de hoje” como próprio autor reconhece nos seus poemas. E citamos justamente, a propósito de teatro, o poema denominado “Um Nome João”:

«Era um teatro/e todos os artistas/no mesmo papel/ciranda multívoca?/João era tudo?/tudo escondido, florindo/como flor é flor/mesmo não semeada/Mapa com acidentes/deslizando para fora, falando?/Guardava rios no bolso,/cada qual com a cor de suas águas?/sem misturar, sem conflituar/e de cada gota redigia/ nome, curva, fim,/e no destino geral/seu fado era saber/para contar sem desnudar/o que não deve ser desnudado/e por isso se veste de véus novos?»

 

DUARTE  IVO  CRUZ

A VIDA DOS LIVROS

Guilherme d'Oliveira Martins
de 24 de fevereiro a 3 de março 2014

 

Vasco Graça Moura escreveu «A Identidade Cultural Europeia» (FFMS, 2013), obra que nos permite compreender a heterogeneidade da Europa, a complexidade da sua história e a necessidade de superar a tentação de resumir as dificuldades a meia dúzia de boas intenções. É certo que precisamos da Europa, sobretudo num momento especialmente crítico, mas não haverá saídas para as dificuldades sérias que sentimos sem uma reflexão desapaixonada sobre o peso conflitual do passado e a exigência de criar condições para que a paz e a liberdade não sejam ilusões vãs.

 

 

UM DIÁLOGO PERMANENTE COM A EUROPA

Se há escritor português que mantém um diálogo permanente com a Europa, é Vasco Graça Moura (VGM). E o certo é que essa relação é versátil e crítica. Poeta, ficcionista, ensaísta e tradutor, encontramos a cada passo a proximidade e a distância relativamente ao velho continente. No ofício difícil de traduzir, assistimos a uma tensão entre a fidelidade ao texto inicial e a necessidade de o recriar fielmente para melhor ser entendido pelo leitor, como salientou Maria Alzira Seixo numa magnífica intervenção há dias na Fundação Gulbenkian, quando se discutiu a obra do autor de «Modo Mudando». Dante, Racine, Corneille, Molière, Shakespeare são companheiros na descoberta do caráter multifacetado e heterogéneo da Europa. E é esse entendimento que permite a VGM abordar, com desenvoltura e exigência, o difícil tema de «A Identidade Europeia». Cem anos depois do início da I Grande Guerra Mundial, num momento em que os melhores comentadores e analistas eram quase unânimes em afirmar que não haveria conflito ou, se houvesse, que seria rápido e tenderia a ser resolvido sem grandes delongas, sabemos o que se passou: não só houve guerra, como esta se prolongou para além do período 1914-1918, por trinta anos, já que as condições e a humilhação impostas em Versalhes à Alemanha geraram o recrudescer do conflito em 1939, com consequências trágicas, nunca antes sentidas globalmente. Se a «belle époque» pareceu anunciar um longo século de paz e entendimento, a verdade é que foi o contrário que aconteceu. VGM analisa a questão europeia depois de 1945, deixando para trás as considerações premonitórias de Keynes sobre «as consequências económicas da paz». De facto, «a identidade cultural europeia não é nem pode ser um facto imobilizado no tempo. É antes (diz o autor) um processo em marcha em que ecoam prolongamentos dessa dinâmica nascida da segunda metade da década de 1940, embora já não suscite o entusiasmo que deu lugar naquela altura». E porquê a perda desse entusiasmo? Pelo desvanecimento da memória, depois de um longuíssimo período de paz, e talvez perante a ilusão de muitos (como há cem anos) de que este tempo tenderá a estar adquirido e a não poder ser interrompido. Husserl falou, por isso, de uma Europa vencida pelo cansaço de um espírito culto e exigente. E aqui o tema é atual, não para recordar a esperança depois da inesperada afirmação da barbárie, mas para dizer que a conflitualidade europeia não pode ser superada pela ilusão e pelo cansaço, mas pela memória e pela vontade.

 

QUE É TRATAR DA IDENTIDADE? 

Com razão, VGM deixa claro que «as questões ligadas à identidade cultural não podem resolver-se nem regulamentar-se como as relativas à produção de manteiga ou à exploração de recursos do mar. Supõem aproximações e distâncias, possibilidades de coordenação e parentescos, similitudes de estruturação política (hoje em dia) e também uma certa visão do mundo que acaba por ser comum a partir de óticas que não coincidem necessariamente em todos os pontos. E tem de respeitar e preservar essas diferenças, prevendo antes modalidades e mecanismos de cooperação». Cabe, aliás, lembrar que Jean Monnet nunca disse, nem poderia ter dito, que se tivesse de recomeçar a construção europeia escolheria a cultura. Bastaria conhecer o seu percurso, o seu pensamento e a sua experiência (bem evidenciada nas suas «Memórias») para não cair nessa errónea consideração. Por que razão nasceu essa lenda? Apenas porque um dia, em Paris, Helene Glykatzi Ahrweiller lançou numa conferência a hipótese académica: e se a Europa tivesse começado a construir-se pela cultura? Ora, a leitura deste pequeno livro permite perceber-se bem por que razão a cultura não deve ser a base de uma integração. O «ideal de uma Europa harmoniosamente construída e convergente, quer no desenvolvimento económico sustentado, quer na qualidade de vida dos cidadãos» é de difícil realização e tem contado com todo o tipo de entraves e frustrações. Digo-o, sendo eu europeísta, mas não aceitando sonhos ilusórios. De facto, ainda não há uma democracia supranacional europeia, não temos um sistema de freios e contrapesos – e a ausência de um senado europeu com representação igualitária dos Estados tem-se revelado incapacitante. Não por acaso, Hans Jonas pergunta: «em que sentido se pode falar da Europa como uma comunidade de valores partilhados?». Perante uma história antiga de diferenças e conflitos, não há linearidade, pelo que a «identidade possível» tem de ser aberta, complexa, diversa, capaz de entender Karl Jaspers, quando afirmou nos Encontros Internacionais de Genebra que a Europa é: liberdade, história e ciência. Liberdade como vitória sobre o arbitrário, história como encontro e diálogo e ciência como apelo à verdade. E assim a Europa como ideia corresponde à resistência à uniformidade, ao centralismo burocrático e à criação de uma realidade tendencialmente unipolar. Mas, VGM vai mais longe e faz a pergunta, correta e pertinente, perante um certo relativismo cultural politicamente correto: «Conseguirá a Europa, e em especial a União Europeia, fazer-se ouvir e fazer valer o capital de tolerância e de saber que conseguiu acumular depois de tantas catástrofes dramáticas que ela própria viveu?»

 

HONESTO ESTUDO E ENGENHO

Camonista arguto e inteligente, o autor chama o poeta de «Os Lusíadas» na interrogação sobre a identidade europeia. «Coube a Camões afinar a utensilagem literária de que o seu canto necessitava, combinando epopeia clássica e maravilhoso medieval, processos narrativos da canção de gesta e a influência de Ariosto, trechos de crónicas, de diários de bordo e de roteiros de navegação, tradição cultural e experiência vivida, para dar a medida no novo espaço e do novo tempo…». Oiçamos é épico: «Não me falta na vida honesto estudo / Com longa experiência misturado, / Nem engenho, que aqui verei presente, / Cousas que juntas se acham raramente» (L., X, 154). A inserção europeia de Portugal liga Atlântico e Mediterrâneo, mar e continente, estudo e engenho – por isso compreendemos a complementaridade entre os infantes da «Ínclita Geração». Não deve esquecer-se, pois, que a criação cultural europeia teve um nexo próximo com o poder político e económico. A vitalidade artística e cultural europeia não pode ser compreendida sem essa ligação. E ainda Eduardo Lourenço tem-nos ensinado que o papel crítico dos mitos é fundamental para a compreensão da criação e da cultura. E, se falamos de mitos europeus, o escritor invoca Prometeu, Ulisses e Fausto – a liberdade, a aventura e o domínio do conhecimento marcam a nossa existência comum. A identidade cultural europeia existe, mas é frágil e fluida, de gestação desigual. Corresponde a um processo de autorreflexão e autoquestionamento, é um pensamento não realizado e insatisfeito, um ensinamento (como o da «Paideia») «de mandar e obedecer, tendo a justiça como fundamento». 

Guilherme d'Oliveira Martins

O AMOR DEVERÁ VENCER

 

Minha Princesa de mim:

 

De cada vez que venho ao Japão, guardo pelo menos um fim de semana para estar niponicamente instalado num ryokan, em Kyoto. Tenho encontro marcado com um certo Japão, talvez esse de quando esta cidade capital se chamava Heian-kyo (de 794 a 1185). E capital foi ela, por mais de mil anos, até à restauração Meiji (1868). Chama-se Kyoto desde o início do primeiro governo de bushi  (guerreiros), instalado em Kamakura por Minamoto no Yoritomo, no final do período Heian. Aos Minamoto sucederam (1333) os Ashikaga (período Muromachi), estes por sua vez substituídos (1568) pelos reunificadores do poder no Japão: Oda Nobunaga e Toyotomi Hideyoshi (período Azumi-Momoyama, até 1600). Seguiu-se o longo shogunato Tokugawa, que fez de Edo, a leste de Kyoto, o seu centro. Para aí se mudaria a capital imperial, depois de restabelecido o poder político efectivo do imperador Meiji sobre o bakufu ou governo shogunal. E Edo passaria então a ser Tokyo, ou capital de leste. Kyoto conservaria a sua designação de capital imperial e uma certa quintessência do Japão. A era Heian inicia-se com a mudança da capital imperial de Nara para a actual Kyoto. Fê-la o imperador Kammu  -  que, por sua, mãe descendia da linhagem Yamato, originária de coreanos expulsos da sua península pela dinastia Tang da China  -  nascido em 737, imperador desde 781 até morrer em 806. Podemos pois considerar este chefe político, militar e religioso, confucionista letrado, um contemporâneo de Carlos Magno que, como sabes, era analfabeto. Por essa altura também, era califa abássida de Bagdad o famoso Harun Al-Rachid. Deste voltarei a falar-te, contando-te a refutação que o historiador e filósofo magrebino-andaluz Ibn Khaldun (1332-1406) faz das anedotas que se contavam tradicionalmente sobre as razões que levaram o califa a condenar à morte, em 802, o seu vizir barmécida Jafar Ibn Yahia. Por agora, seguindo o conselho do hadith (ou dito do profeta Maomé) que manda "procurar a sabedoria, mesmo que seja na China", citarei o sábio muçulmano sobre a questão da linhagem e da legitimidade que, na Bagdad abássida que refiro, era coeva da que se levantou, na distante Nara, relativamente ao imperador Kammu. Neste caso, Kammu sucedeu a seu pai  -  Konin, ele mesmo de linhagem imperial menos elevada  -  apesar da humildade relativa da origem coreana de sua mãe. Sobre a "casa" e a nobreza dos clientes e dos protegidos serem as dos seus senhores e em nada dependerem das suas próprias linhagens, escreveu Ibn Khaldun o seguinte (e imagino o teu superior sorriso,minha Princesa...) : A nobreza sólida e verdadeira pertence apenas aos clãs poderosos. Quando os membros de um clã poderoso se agregam protegidos vindos de fora da sua linhagem, ou tomam escravos ou clientes com que estabelecem laços estreitos, esses tornam-se, até certo ponto, partes do clã com o qual se identificam como se fosse deles. Pela sua participação no clã, acabam por pertencer, duma certa maneira, à mesma linhagem. Disse o Profeta: "Todo o cliente pertence ao mesmo grupo que os seus senhores, seja ele escravo, protegido ou aliado". E conclui assim: É o que acontece a todos os clientes e servidores das dinastias. A sua nobreza vem-lhes da sua sólida dedicação como clientes e servidores de uma determinada dinastia, e do passado de muitos dos seus antepassados ao serviço desta. Assim os clientes turcos dos Abássidas e, antes deles, os Barmécidas puderam usufruir de uma "casa", e da nobreza, e edificar a glória da sua família, graças à sua sólida dedicação ao serviço da dinastia abássida. Jafar Ibn Yahya constituiu para si uma "casa" e chegou à mais alta nobreza graças à sua posição de cliente de Al-Rachid e sua família, e não graças à sua origem persa. O pior foi quando ele "abusou"... Mas essa história contar-te-ei depois. Hoje fico pelo Japão, na era Heian. Trouxe comigo, em francês, as Notes de l´hiver 1039, nesse ano redigidas por Fujiwara no Sukefusa que, em 1038,foi nomeado, sob o imperador Go Suzaku, Chefe da Chancelaria Privada. No sistema aristocrático-burocrático de governo em Heian-kyo, os altos funcionários costumavam anotar quotidianamente  -  além das previsões fastas ou nefastas do dia, tal como registadas num almanaque ou preditas por algum adivinho, cartomante ou astrólogo  -  as diligências, despachos e decisões do exercício governativo, bem como vicissitudes várias da vida da corte. O objectivo assumido de tais diários era facultar aos descendentes e herdeiros a informação necessária a estes poderem, mais tarde, situar-se no complexo sistema burocrático, de modo a posicionarem-se para as melhores oportunidades de colocação. Na verdade, o sistema japonês, ainda que inspirado na organização confucionista da dinastia chinesa Tang, preferia fazer a selecção das nomeações por recomendação, influência familiar ou mera relação de parentesco, do que através de concurso público. As alianças matrimoniais com a linhagem sagrada da família imperial podiam ser alavancas poderosas para a colocação de membros de outras famílias. Assim, a família Fujiwara não só conseguiu colocar 20 membros entre os 25 mais altos funcionários do governo, como atingiu enorme influência sobre imperadores por serem estes seus netos ou bisnetos. Dos 32 imperadores Heian, 14 ascenderam ao trono com menos de 8 anos de idade, sendo o poder efectivo exercido pelo regente ou tutor (Sêshô) que, à maioridade do Tennô (celeste imperador), passava a designar-se por Kampaku. Este foi sendo sempre um Fujiwara que governava a corte e nomeava os governadores das províncias que a alimentavam com arroz e outros produtos. A nobreza da capital entretinha-se com as artes da caligrafia, pintura, prosa e poesia. Até que, por volta de 1185, a família Minamoto, com a força dos seus bushi e a motivação de populações desagradadas com o excesso de sofisticação que não lhes parecia muito útil, se apoderou do poder efectivo e o exerceu a partir de Kamakura, ficando Kyoto como residência da simbólica figura imperial. Assim se iniciou um período novo da história do Império do Sol Nascente, que conduziria ao afrontamento, durante séculos, de vários senhores feudais, até que a introdução de armas de fogo pelos portugueses, no século XVI, facultou as ações militares de pacificação e unificação do Japão. Mas por quatro séculos, o tal conceito de linhagem, família e pertença, levou muitas vezes "casas" inteiras (familiares, servos, clientes e soldados) a serem mortos ou cometerem sepuku (ou harakiri, suicídio ritual) quando o seu senhor era derrotado e executado. Curiosamente, até aos finais do século XIX, quando a restauração Meiji impôs alguns conceitos e normas jurídicas europeias, a ideia de família (e o conceito de ie, "casa"), no Japão, era mais decorrente da necessária perenidade da mesma do que de laços biológicos: a adoção era frequente, os artesãos, artistas e atores que se "criavam" nas famílias profissionais ganhavam e guardavam o nome destas, acabavam por pertencer-lhes... O que para ti, europeia, nórdica e católica, aristocrata antiga, talvez seja difícil de entender é que este conceito de família, de "casa", é, de por ele mesmo, simultaneamente fechado e aberto. Fechado enquanto se propõe assegurar a perenidade do nome, da tradição e do património familiar; aberto enquanto acolhe nessa mesma instituição familiar  -  por adoção, clientelismo ou criadagem  -  todos os indivíduos necessários à garantia da permanência dessa instituição. Os laços de sangue serão os primeiros fatores, mas não excluem as alternativas que permitam, de acordo com um direito consuetudinário, a continuação da linhagem. Vai longa esta carta, regressarei contigo a Kyoto e outras histórias que mais agradavelmente te contaria ao calor de uma lareira ou durante um passeio pelos nossos parques. Mas ainda insisto em te recordar o que disse numa dessas conferências que fiz sobre o Japão, que tanto tento compreender: Quando, em 1869, o Governo Meiji mandou Mitsukuri Rinsho traduzir os códigos franceses, sugerindo que deles logo se publicasse uma tradução literal intitulada Código Civil Japonês, para que o novo sistema jurídico convencesse as potências ocidentais de que o Japão era também um país civilizado, gerou-se polémica e muita controvérsia acerca da respetiva proposta, redigida, sob a direção de Eto Shimpei e Inoue Kowashi, por um professor da Sorbonne  -  que veio então residir em Tokyo  -  Gustave Emile Boissonade de Fontarabie, daí resultando que o tal código só em 1898 fosse promulgado. Ponto fulcral de divergências e discórdias foi, precisamente, o direito da família e sucessório. Argumentavam os adversários nipónicos da aplicação, no seu sistema jurídico, dos princípios ocidentais da igualdade dos indivíduos e da liberdade contratual na esfera jurídica da família,que o conceito de "casa" (ie) e os sentimentos por ele engendrados eram intrínsecos à sociedade e aos valores tradicionais japoneses. Em 1891, um deles, Hozumi Yatsuka, publicou esta declaração: " Com a disseminação do cristianismo na Europa,o Pai nosso que estais no céu veio monopolizar o amor e respeito de todos os homens. Talvez por isso os Ocidentais negligenciem a devoção aos antepassados e o caminho da piedade filial. Com a disseminação de doutrinas de liberdade, igualdade, fraternidade, rompem a importância dos costumes étnicos e dos laços de sangue. Talvez por isso já não exista entre eles um sistema de "casa",mas uma sociedade de indivíduos igualitários, apoiada por leis individualistas"... Inquietante pode ser esta nossa humana condição, quando nos confrontamos com sentimentos e juizos uns dos outros... Mas tão motivadora, também, de interrogações e procura! Imagina que li hoje, no Mainichi Shimbun, um artigo de um sociólogo japonês que se interroga sobre a crise universal da família nuclear e ocidentalmente tradicional. E, passando por inúmeras situações inéditas e controversas, finalmente propõe à nossa reflexão, não qualquer ideia afirmativa e exclusiva, mas a demanda  -  eu diria feita a pensar sentir  -  de formas de família que sejam acolhedoras e verdadeiramente comunitárias. Reflito. Ou, se quiseres, pensossinto no assunto. Atento a sociólogos, filósofos, analistas e pensadores vários. Mas, sendo um clássico " bota de elástico", guiado pelo coração que se agarra a um princípio: Amor omnia vincit.

           Camilo Maria


Camilo Martins de Oliveira 

LONDON LETTERS

 

A post-crisis waterworld, 2014

The British response, as always. Ter orgulho nos nossos, na família, no povo ou HM The Queen, é uma emoção forte que só quem desta fica desprotegido pode inteiramente talvez compreender. A ongoing flood crisis de novo revela o bom velho espírito destas verdes ilhas, com as comunidades a autoorganizarem-se na sua proteção. Estas semanas de extreme weather ficam como uma imparável jornada de serviço, nem os Princes William e Henry se isentando do sandbagging work. — Faites-vous des amis prompts à vous censurer. Depois da inclemência dos elementos, as vítimas estão a braços com seguradoras esgrimindo que o desembolso das reparações se refletirá nos futuros premiums e um Prime Minister em circumnavegação política a elogiar a competência governamental com cheques. — Well, life goes on! Já o novo cardeal Vincent Nichols se revela um líder para os quatro milhões de católicos por cá batizados, ao condenar desassombradamente as políticas de austeridade por mais não estarem a produzir senão pobreza, injustiça e medo.

 

Ouvir uma old lady recusar a saída de casa mesmo com a cheia à porta sob a razão de que nem Herr Hitler o conseguira, é algo que só bons ouvidos dirão como termómetro de resiliência. Após o desastre da tardia resposta, com a água em Somerset e noutras flood areas finalmente bombeada com recurso a meios técnicos antes não disponíveis, os serviços de emergência atuam em força ao longo da costa, do Thames Valley a Wales. O Prime Minister ocupa agora a agenda diária em visitas às obras de recuperação. Muito bem, inclusive à tactical politics. Porém, há aqui some real questions: como é que, de repente, surge o dinheiro para o conserto que Westminster inicialmente afirmara não ter para a prevenção? Donde: qual o custo da desatenção em sofrimento humano e danos materiais? Mais: que preço pagam nisto as famílias, empresas e economia?

Olhar atento além da PR machine percebe a noção de perigo nos portões de Downing Street. Multiplicam-se sinais de um No 10 inner circle playing hard ball. Se o Chancellor of the Exchequer e Second Lord of the Treasury, Right Honourable George Osborne MP, simplesmente retira a libra aos Scottis caso votem sim à independência no referendo de September 18 (com o seu First Minister Alex Salmond afirmando o contrário, porquanto no pound–no debt), ameaça ainda a incontornável realidade de a maioria dos círculos afetados pelas cheias serem Tories marginal circles. Quando os Conservatives perdem mais um bastião para o Labour e de novo caem abaixo do UKIP, desta vez em Wythenshawe and Sale East (South Manchester), Mr David Cameron empenha-se em ripostar a todos os críticos. Eis, pois, a better Prime Minister: às águas declara que “money is no object” e ao Archbishop diz-se numa “moral mission.”

 

Uma ótima nova a fechar, além do anúncio do Bank of England to rethink economy face a recuperação insuficiente para gerar emprego à medida das necessidades. Vivem-se vésperas de a Cromwell’s revival em contraponto ao plano de encerramento do seu museu pelo Cambridgeshire County Council. A Oxford University Press ultima obra sobre as Oliver Cromwell’s letters and speeches, com a mestria do Professor John Morrill como editor geral. Também outros livros e artigos com matéria nova surgem já, thick and fast, avultando como áreas de interesse a juventude em East Anglia, a carreira de soldado na Ireland e a multitude dos aspetos do período como Lord Protector of the Commonwealth of England, Scotland and Ireland durante os 1650s. — Nothing less that the man of the cruel necessity.

 

St James, 19th February

 

Very sincerely yours,

 

V.

DE VOLTA ÀS VOLTAS DO KABUKI

 

          Minha Princesa de mim:

De regresso ao Japão, tenho os dias ocupados por intermináveis reuniões e relatórios em que procuro resumi-las. Mas lá consegui um serão para ir ao Kabuki-za, ali em Ginza, ver a peça Sukeroku Yukari no Edo Sakura, título que explanatoriamente traduziria dizendo a mais bela flor (a sakura, a da cerejeira primaveril e infrutífera) de Edo (sede do shogunato Tokugawa, de 1603 a 1867, cujo nome, depois da restauração Meiji, em 1868, se tornou Tokyo, ou capital oriental ). Sukeroku é nome de empréstimo de um burguês cavaleiro em busca do assassino de seu pai que também lhe roubou a espada façanhuda, esta chamada Tomokirimaru. Para obrigar o vilão a denunciar-se puxando pela espada furtada, Sukeroku vai arrogantemente provocando os outros frequentadores dos prazeres venéreos de Shin-Yoshiwara, recinto de bordéis que também acolhe a sua cortesã favorita, Agemaki, a flor mais linda de Edo. Finalmente, Ikiú, o homicida, trai-se ao desembainhar a espada Tomokirimaru e acaba morto às mãos de Sukeroku. Enredo simples, quase linear. Mas que espetáculo colorido, cheio de danças e acrobacias, como filme do Zorro avant la lettre! A peça estreou-se em 1713, classificam-na os entendidos como sewamono ou contemporânea no tema, por oposição a jidaimono ou histórica, que são, afinal todas as peças anteriores ao período Edo (1603-1867), contando histórias com aristocráticas personagens e guerreiros. A Sukeroku Yukari no Edo Sakura entra no grupo das dezoito grandes do teatro Kabuki, as Juhachiban. Pessoalmente, considero sobretudo kabuki as peças que tratam temas da vida corrente do período Edo, dramas, intrigas, amores, deslizes e surpresas de gente comum, através de ações e representações ao gosto popular e burguês. Por vezes com alguma intenção de crítica social e política. Aliás,muitos jidaimono de histórico só tinham a época e o cenário da ação, sendo contemporâneos a crónica e o tratamento dela... Foge-se assim à censura que poderia reconhecer demasiadamente um senhor conhecido na personagem de um facínora, ou ainda assim se evita o incómodo de parecer coeva a história de um amor incestuoso (como em Seshu Gappô ga Tsuji ) ou de um padre libertino e, finalmente, demoníaco (como Narukami). Também na ópera europeia, Verdi teve de mudar para Rigoletto o nome (Triboulet) do bobo de Francisco I de França, cuja filha o monarca seduzira, e trazer a acção toda para a Mântua de outra época. Como também assim disfarçou Stifellio, Aroldo, Un Ballo in Maschera. Mas penso que por aí se ficam as semelhanças entre o Kabuki e a nossa ópera. Apesar de que esse teatro japonês também pretende ser uma arte global, reunindo declamação, música e canto, dança, cor e movimentação. Mas o conceito reunidor de tudo isso não é o mesmo, e não esqueçamos que o nascimento do Kabuki terá sido pela kabuki odori, danças tradicionais populares desempenhadas em Kyoto, no Shijogawara, por Izumo no Okuni, fartamente representada em várias "pinturas de género", bailando e tocando pandeireta. Pierre Devaux, francês estudioso da música japonesa tradicional, afirma que esta não é concebível sem a gesticulação de músicos, actores e dançarinos. O visual e o sonoro coexistem necessariamente, representam a ação e a palavra. Numa comunicação feita em Nagoya, por ocasião de um colóquio sobre Diderot. Le XVIIIème siècle en Europe et au Japon, Delvaux fez umas observações sobre a evolução musical no Japão e em França nesse século (que, como sabes, é o do surto da ópera). E diz: "Nunca poderemos aplicar ao Japão o que Rousseau diz do Ocidente: hoje os instrumentos são mais importantes do que a voz. E prossegue referindo que a música japonesa nunca se apropria de um espaço puramente harmónico, está sempre em contacto permanente com outros elementos como o ruído (designadamente os ruídos da natureza), a palavra ou o gesto, podendo dizer-se que procede de uma natureza aberta... Haverá dissonâncias, aparentemente desencontros, faltas de harmonia para o nosso sentido dela, mas tudo, finalmente se encaixa. Delvaux sai-se com esta conclusão surpreendente para nós: A música japonesa cultivou a justaposição de sistemas diferentes, e as escalas de origem chinesa e japonesa foram vivendo, como as religiões, em coexistência pacífica... Menos pacíficos foram sendo os fados dos actores que subiam aos palcos. Entre outros significados,a palavra kabuki teve,na origem, os de inédito, inconvencional, na moda ou, ainda, vanguardista. As danças e representações de Izumo no Okuni  -  que também se tornava notada por trazer ao peito um crucifixo, símbolo religioso mas, também, acessório de moda namban  -  foram encontrando imitadoras que se produziam nas casas de chá e outros locais de diversão, inclusive bordéis. O número crescente de prostitutas que as praticavam levou a que se fosse passando da designação onna kabuki (danças de mulheres) para a de yujo kabuki (danças de prostitutas). Por isso o shogunato Tokugawa proibiu a actuação dessas companhias e o aparecimento de mulheres em palco, a partir de 1629. Foram então substituídas por grupos de rapazes (wakashu) que, em 1652 foram igualmente proibidos por razões de moralidade pública. O teatro Kabuki teve de mudar de nome, por uns tempos, em que foi conhecido por "representações de maneiras e costumes" (monomane kyogen zukushi), sempre representado  -  como hoje ainda  -  por atores adultos do sexo masculino. E assim deparamos com outro paralelo histórico definido pela semelhança de conceitos ético-sociais: a interdição, na Europa, de mulheres como atrizes. E consequentemente, entre outras, a "criação" de castrati. Minha Princesa: há coisas, parece-nos, mais fáceis de perceber do que outras. Por isso tantas vezes nos enganamos mais do que o aceitável. Quem rejubila ao julgar-se pensador rápido e sagaz, talvez não entenda que tudo se vai passando por misteriosas combinações e inesperáveis encontros do que talvez saibamos e do muito mais que nem as melhores explicações nos dão a conhecer. Surpreender semelhanças nem sempre será descobrir relações de causa a efeito. Doutras vezes somos apanhados sem aviso prévio, como eu quando deparei, a partir de um colóquio em Nagoya, com a leitura assídua de Diderot e dos das "luzes" francesas por tantos pensadores japoneses... Faz-me refletir muito no que seja pensarsentir. O encontro das culturas  -  ou seu simples cotejo  -  é um imparável caleidoscópio de sensibilidades e razões. Falar-te-ei nisso quando for ainda mais velhinho. Dou-te a mão do coração.

         Camilo Maria

Camilo Martins de Oliveira

ELIO PECORA

 

Um dos maiores poetas italianos da actualidade.

 

Para Elio a poesia é o espaço maior de um diálogo pleno com o “outro” – uma forma de o alcançar, tocar, deter. E comover.

 

Vão: mãos, pés, rostos

- infinita multidão de esperas,

de esperanças, de iguais

na fome, na morte,

um procurando o outro

que tranquilize, impeça, todos cumprindo destinos

variamente cruzados,

nunca cessando atrás das artérias,

até dentro do riso ou do grito,

o medo de ser expulso

de um recinto indefeso

 

Confesso que até achei ou quis achar, que três razões me levaram a Taormina: conhecê-la, e dela partir até ao Etna. Conhecer Elio Pecora ao ler um dos seus poemas, daqueles que, em navios, só navegam em mares de mudança.

Elio captura a emoção estética na escolha das palavras. Entendi pois fazer defesa da finura compositiva, tão necessária ao retirar da máquina opaca que hoje muito escreve e publica e pouco ou nada provoca no leitor.

A poesia de Elio Pecora suscitou que Alberto Toni (poeta de maturidade com uma tese em Roma na Universidade Sapienza  ) tornasse público o seu pensamento de que o sec.XX italiano é o século “dos grandes isolados, verdadeiras vozes de uma modernidade que autenticamente ensina qualquer coisa”.

Dario Belleza ( poeta e dramartugo lançado por Paolo  Pasolini) considerou a poesia de Elio como “ sinal de qualquer coisa que não morre, de uma fé pela poesia além dos vanguardismos estéreis, a recusa de aceitar a barbaridade”.

Elio Pecora definido como “um aristocrata da poesia”, homem de muitas e inúmeras solidões, terá visto na lava do Etna uma graciosa leveza da zanga do centro do mundo ?

Não sei. Eu interpretei assim e também me aconcheguei à ideia de que as lavas são campainhas para que não adormeçamos na paz do tão pouco.

Ainda hoje voltei a sair à rua com um dos livros de Elio Pecora na mala,  ou não fosse sempre instante de 

 

(…) o golfinho veloz

na agua azul levando

a primeira vontade de existir.

 

(…)agora, promete-me seres eterno.

(…) Eu digo: “eterno é isto que vivemos”

(…) atravessarmos estreitamente juntos

a hora da estação e o destino.

 

Nunca longe dos lugares cultos gregos e latinos, assim se é: águas de naufrágios, largadas cumpridas, e sempre o tempo de insuficientes razões.

 

 

Teresa Vieira

Sec:XXI

MANUEL BANDEIRA COM O GRUPO FERNANDO PESSOA

 

 

Voltamos à fotografia que documenta a estadia do Grupo Fernando Pessoa no Rio de Janeiro em 1962. Logo à esquerda, está Manuel Bandeira. E só por aí se assinalaria uma curiosa convergência de gerações, mentalidades, obras e biografias literárias, nesta participação de grandes escritores brasileiros nos espetáculos dos artistas portugueses no Brasil.

Vimos na semana passada Vinicius: e não por acaso, dissemos então que este diplomata de carreira é o único em mangas de camisa, sem gravata… Mas o primeiro à esquerda na fotografia é Manuel Bandeira a consultar um livro. Que livro seria?

Importa recordar que Manuel Bandeira, nascido no Recife em 1886, era desde 1940 membro da Academia Brasileira de Letras. Refere-se essa circunstância porque a eleição para a Academia, na época como ainda hoje, representa, no Brasil, por um lado a consagração de qualquer escritor, e por outro, simboliza uma tradição literária que se concilia com o reconhecimento da atualidade da figura e da obra consagrada. 

Também é interessante constatar que Manuel Bandeira cumpriu uma longa e bem preenchida carreira ligada à educação e ao ensino, como funcionário de Ministério da Instrução, professor do ensino secundário e finalmente professor de Literatura Hispano-Americana na Faculdade Nacional de Filosofia do Rio de Janeiro. É importante esta consagração como professor universitário? Não haverá duvidas, mas, atendendo à época, 1943, merece ainda mais destaque pelo que revela de abertura do estatuto universitário a quem se destacou - e de que maneira! - pela obra literária, mas também pela carreira, primeiro  burocrática, depois  no ensino médio e superior,  mas sempre ao serviço da literatura criada e estudada.

 

Bandeira publicou 16 livros de recolha de poemas, 12 livros de prosa e numerosos livros didáticos, entre monografias, ensaios de história da literatura e manuais diversos, além de um livro de memórias (“Itinerário de Pasárgada “- 1957). E precisamente, um dos seus poemas mais conhecidos denomina-se “Vou-me Embora pra Pasárgada”: “…Vou-me embora pra Pasárgada / Aqui eu não sou feliz / Lá a existência é uma aventura / De tal modo inconsequente/ Que Joana a Louca de Espanha / Rainha e falsa demente / Vem a ser contraparente / Da nora que nuca tive” / (…) Lá sou amigo do rei…”

Veja-se também, numa escolha aleatória, esta “Oitava Camoniana para Fernanda”: “De Ely e Lorita, brandos, nasce a branda/ (Vede da natureza o ideal concerto!) / Bonita e sem pecado algum Fernanda, / Que alegria dos pais será de certo. / E faça quem sobre o Universo manda / O mundo para ela um céu aberto / Onde claramente como um dia / De claro sol, a vida lhe sorria”…

É realmente camoniano!

 

Assinale-se também que Manuel Bandeira traduziu mais de uma dezena de peças de teatro, de idiomas, épocas e autores diversos: “O Auto Sacramental do Divino Narciso” de Sóror Juana Inès de la Cruz; “Maria Stuart” de Schiller; “Machbeth” de Shakespeare; “A Maquina Infernal” de Jean Cocteau; “Colóquio-Sinfonieta” de Jean Tardieu;  “Juno e o Pavão” de Sean OCasey; “O Homem que Fazia Chover” de Richard Nesh; “A Casamenteira” de  Thorton Wilder; “D. Juan Tenório” de Zorrilla; “Mireille” de Frederic Mistral; “O Circulo de Giz Caucasiano” de Bertold  Brecht; “O Advogado do Diabo” de Morris West; “Pena ser Ela o que É” de John Ford.

 

E voltamos à fotografia do Grupo Fernando Pessoa. Além de Manuel Bandeira, estão lá, como já vimos, Vinicius de Moraes e Carlos Drummond de Andrade. Ora, a Vinicius dedicou Manuel Bandeira esta “Saudação”: Marcus Vinicius / Cruz de Moraes / Eu não sabia / Que no teu nome / Tu carregavas / A tua cruz / De fogo e lavas, / Cruz de poesia? / Cruz do renome?” (…)

 

E finalmente, veja-se este poema de Carlos Drummond de Andrade, cuja obra analisaremos pois também surge na fotografia do Grupo Fernando Pessoa, e que evoca, numa recolha precisamente intitulada “Bandeira - A Vida Inteira”, o amigo escritor, poeta, dramaturgo, educador, professor: “No chão de laranjeira arma-se o teatro/ de faz de conta./ O pequenino ator/ domina a plateia cativada./ Não será João Caetano ou astro de tvê. /Será tradutor de Shakespeare e de Schiller”…

 

DUARTE IVO CRUZ                     

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