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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LONDON LETTERS

The Duchess of Devonshire, 1920-2014

Encantadora e excêntrica, sempre amável e class-conscious, algures no diálogo a maravilhar pelo pragmatismo, a senhora é a autora do mais delicioso arranque de um livro de culinária escrito nos tempos recentes. Não cozinhava desde a guerra; eu também não e assim se inicia frutífera relação literária em torno dos prazeres de sociável cozinha. Aos 94 anos de idade, parte a Dama Deborah da 16th century Chatsworth Mansion, The Dowager Duchess of Devonshire e a última das Mitford girls que marcam a alta sociedade inter-guerras. — La belle, adorable et frappant Debo. E vai outro! Nova fuga em Westminster das fileiras Conservatives para o Ukip. Como não bastasse Mr Mark Recklesss para assombrar a Tory Party Conference reunida em Birmingham, também Mr Brooks Newmark resigna de Minister for Civil Society por telas privadas publicamente expostas. — Your conduct in an elevator should be governed by circumstances! A House of Commons declara guerra no Irak contra o extremismo do Isis e o Chancellor of the Exchequer propôe ainda a new war on welfare, com a Home Secretary a erguer a bandeira dos valores e o Mayor of London a interrogar sobre quitters or splitters.

 

Hot and patchy rainy days por cá. O curso do tempo é marcado pelo desaparecimento da última das most [in]famous Mitford sistersNazi, Communist and Democratic related alike. A Duchess of Devonshire, aka Nine para os próximos, era uma distintíssima personagem de alabastro no old money global club. O Prince of Wales saúda-a como “wonderfully original.” A ela e às suas irmãs algo devem as personagens da popular série televisiva Downton Abbey. Convive quer com Sir Winston S. Churchill como com Herr Adolph Hitler, quer ainda com Mr John F. Kennedy. A amplitude ideológica reflete um ancestral clã familiar que entrelaça poder e riqueza, with ups-and-downs, com a sua geração caraterizada pela irmã Jessica/Decca como hons and rebels. Deborah Vivien é a mais jovem descendente de Lord Redesdale. Nancy, Pamela, Diana, Unity, Jessica, Deborah e Tom nascem entre 1904 e 1920 na casa de David Freeman-Mitford e Sydney Bowles em Oxfordshire. Se Tom boy morre em Burma, no tardio abril de 45, Diana divorcia-se e casa com o líder fascista Sir Oswald Mosley na presença de Herr Joseph Goebbels; Unity enamora-se pelo Führer e dispara sobre si mesma no ecodir da II World War; Jessica assume-se como comunista, interdita doadora da fortuna ao Party e depois autora de leve prosa a exemplo de Nancy; Pamela cumpre o desejo infantil de ser um pónei e desposa um jockey… 

Ora, enquanto o irmão estuda música em Vienna e as energéticas irmãs buscam Mr Right pelas redondezas de Berlin, os bright blue eyes de Debo encontram Andrew Robert Cavendish e futuro 11th Duke of Devonshire num discreto restaurante de Curzon Street. A sentimental Mitford salvará a sua vasta herança patrimonial e faz da House and Gardens of Chatsworth um local de visita obrigatória nas East Midlands enquanto o neto do 4th Marquess of Salisbury progride em Whitehall até Minister of State for Commonwealth Relations no governo do tio Sir Harold Macmillan. A Duchess é autora de must reads como Counting my chickens, Home to roost, All in one basket, entre títulos avulsos onde se destaca The Chatsworth Cookery Book com as receitas de Jerusalem artichokes au gratin ou Sticky toffee pudding with butterscotch sauce a ilustrar a good old British country cooking, a par do clássico trilho das memoirs em Wait for me e de correspondência esparsa em The Mitfords: Letters between six Sisters ou In tearing haste: The correspondence of the Duchess of Devonshire and Patrick Leigh Fermor além da história aristocrática em The House. A Portrait of Chatsworth, a ler com Round about Chatsworth

Já os Tories marcam a agenda sociopolítica na metrópole das West Midlands que exporta a revolução industrial. A conferência arrancou com más notícias da coesão interna e evolui para uma cornucópia de propostas com que os conservadores se candidatam a nova maioria, a oito meses das eleições gerais e quando as sondagens persistem na liderança do Labour para ocupar Downing Street. O Chanceller George Osborne apaga o fogo com agradáveis medidas para os pensionistas mais um draconiano novo pacote austeritário nos working-age benefits. Se o Honest George, como o cognominam os MPs ameaçados na eleição após bravo discurso, quer desonerar as pensões herdadas de impostos, também pretende poupar £3.2 billion anuais ao tesouro através de cortes que atingirão os working poor. Aos congressistas informa Lord Ashcroft que, sendo assim, o Labour ganhará com comfortable majority em May 2015.

Quem anda visivelmente feliz é o líder do Ukip, por resultados a toda a linha. Além da pesca nos parlamentares que apoiam o Prime Minister David Cameron, Mr Nigel Farage surge em alegre campanha de tom euroefusivo numa aposta entretanto ganha. O Welsh Mr Jamie Donaldson garante a terceira golf's Ryder Cup para a Europe face aos USA. Verdejantes estão ainda outras barricadas. Hong Kong vive exuberante umbrella revolution e testa a fórmula chinesa um país-dois sistemas. A Haute Assemblée de Paris acolhe dois senadores da Front National. Brussels nomeia Mr Donald Tusk como presidente do European Council e um political broker alheio a línguas que não materno polaco. — The afternoon knows what the morning never suspected!

St James, 30th September

Very sincerely yours,

V.

A VIDA DOS LIVROS


De 29 de setembro a 6 de outubro de 2014.
 

 

Agustina Bessa-Luís é a escritora portuguesa que no século XX mais exigente tem sido na procura do que somos, para além da superficialidade da nossa epiderme cultural. Em «Os Meninos de Ouro» (Guimarães, 1983) são as relações de poder em estado puro que encontramos, mas elas são visíveis em toda a sua obra fulgurante de um modo subreptício e permanente. Frederico Lourenço diz: «Todos os livros de Agustina distinguem-se, à boa maneira de Píndaro, por começos de imbatível pirotecnia: abrimos o livro na primeira página e somos colocados perante uma cintilação diamantina de inteligência, de finura irónica, de diabólica capacidade de expressão (“genial, o diabo da mulher”).

 

 

LEITORA ATENTA DAS CONTRADIÇÕES
«É raro um pinhal ser apenas um aglomerado de árvores. Mesmo na Transilvânia, com a densa obscuridade que projetam os cedros no espaço vegetal, não se trata apenas de um aglomerado de árvores; há um acordo entre o sentimento humano e aquela formação botânica de raízes e de ramos».Agustina Bessa-Luís é na literatura portuguesa uma analista atenta das contradições e dos paradoxos que constituem a nossa identidade. Longe de se contentar com os brandos costumes (em que não crê), a romancista procura descobrir dentro das dissimulações e das aparências o que estas escondem e iludem. Essa a razão pela qual se preocupa permanentemente em interrogar o poder, a sua essência e as suas manifestações. Que é, no fundo, «A Sibila» senão essa interrogação sobre o português em carne viva? E há sempre relações de poder quando cuidamos das relações humanas, desde a família à vida política. É uma característica que Agustina nunca esquece. Em «Os Meninos de Ouro», o romance que diretamente trata do tema do poder político, afirma que «o caudilho não nasce exatamente dos conflitos, para progredir num ambiente de luta pelo poder político; nasce sobretudo do ato de esperar, que é um pensamento de um povo, e da forma vazia da esperança, consequência imediata da forma repleta da esperança. A natureza do caudilho não é de maneira nenhuma rara. Em muitos homens se encontram qualidades de liderança, de humanização, responsabilidade e acomodação e reforma prontas a desenvolverem-se e a tornarem-se um polo emocional; mas se não se der esse acontecimento cíclico na esperança, a sua forma vazia do ato de esperar que é um pensamento, ele não tem hipótese de ser reconhecido». Aqui está tudo dito, indo ao encontro da compreensão do género humano, em que o caudilho é mais do que a ave de rapina que espera pacientemente a sua presa. Para Agustina, o ato de esperar é um pensamento e é mais decisivo do que imperar ou do que dominar. É uma relação paradoxal que precisa de tornar a espera esperança. Contra a lógica burocrática e a rotina, trata-se de procurar como mandar sem o controlo de se sentir seguro e protegido.

 

O GOSTO DOS PARADOXOS. - A regra é tantas vezes outra: o mando exerce-se normalmente sob a proteção de algo que reduz o risco e mascara a injustiça – isso marca a mediocridade e a irresponsabilidade. A dificuldade está em saber porque se pratica a injustiça sob honestos motivos. E o mundo está cheio de armadilhas e alçapões, mesmo e sobretudo onde menos se espera. «Apareciam as intrigas e as dissidências e, o que é pior, apareciam também as artes de enganar naqueles que eram os seus fiéis e que se consideravam nas condições de o suprimir e ultrapassar». Trata-se sempre de procurar na vida vivida a estranha contradição entre a fidelidade e a infidelidade – sendo que ambas se confundem como todas as atitudes estranhas de sobrevivência: a fidelidade protegida torna-se infidelidade e a infidelidade formal pode tornar-se autêntica fidelidade. Os honestos motivos podem motivar a injustiça… E Agustina escolhe em «Os Meninos de Ouro» um símbolo, como tanto gosta: uma flor que se chama «Iris Boissieri», de cor violeta, que cresce nas matas do Gerês e que se confunde com muitos outros lírios de curta floração. É um lírio azulado que aparece «onde o solo oferece melhor condição ao passo e brota da terra de uma maneira espontânea, como se acordasse ao grito de Pan». Para a autora nunca ninguém cantou esse sinal da «alma portuguesa» - nem Sá de Miranda, nem Bernardim, os dois que melhor o poderiam ter feito. As geresianas indicam a rota sólida que vai em direção ao caminho certo. Está em causa «o tempo original em que a alma convive com a eternidade». É a vontade que encontra o destino. «Deus dá o sinal de que passa pelas trevas distantes e tudo se imobiliza, cóleras, segredos, vento que desce da serra, ecos das torrentes, palavras que descem como torrentes, tudo – e um amor imenso paira e reconcilia todas as coisas».

 

PURO RELACIONAMENTO COM A MORTE. - Se a política pode ser o culto da angústia e da renúncia, o certo é que esta se liberta pela busca do prazer e da recusa dessa mesma angústia. E José Matildes, a personagem de «Os Meninos de Ouro», «exigia o cumprimento da realidade como prazer sem quaisquer obstáculos, como puro relacionamento com a morte». Eis a chave do paradoxo vital. E, desarmante, a romancista diz: «Se uma lágrima descer sobre estas linhas como um fio de prata é porque existe consolação até ao último homem que por último desapareça; quando a terra rolar à volta do sol, com noites e manhãs, e só talvez o lírio geresiano olhe e pense no seu seio de cinzas». É a pura literatura que aqui se encontra, jogando, a cada passo, com a humanidade complexa e contraditória. As geresianas tornam-se a chave de tudo. É, de facto, insista-se, a vontade que encontra o destino. O sentimento, o prazer da vida, a recusa da angústia, mas também a melancolia, contra a brandura de entendimento ou a mediocridade do protecionismo. Essa planta fugaz representa a durabilidade e a capacidade de renascer sempre. José Matildes, como as geresianas, dispõe-se a ir à procura da rota sólida no máximo risco. É a vontade que se dispõe a construir (mais do que um encontro é um ato criador) o destino. Somos porque queremos e não porque outros nos julguem pelas nossas imperfeições. Eduardo Lourenço apela ao valor imperfeito do incerto e aventuroso. A lembrança e o desejo saudosos, cantados por Bernardim, e depois retomados por Francisco Manuel e Garrett aí estão. E Agustina encontra-se e desencontra-se com Camilo na busca audaciosa e propositadamente imprudente das raízes profundas do ser português, contraditório, teimoso, capaz de ceder, mas também ciente da força do antes quebrar que torcer… Estamos perante a busca prática de quem somos. Agustina é, por isso, tantas vezes contraditória, como, afinal, somos.

 

Guilherme d'Oliveira Martins

FOMOS EM BUSCA DO JAPÃO

Biwa (imagem wikicommons)

24. OUTRAS MEMÓRIAS E ASSOCIAÇÕES...


Pareceu-me interessante recolher também - neste volume de memórias da viagem que, como guia, fiz ao Japão, com o Centro Nacional de Cultura - outras que guardei de diferentes idas e estadias, todas elas, aliás, publicadas no blogue do CNC, quer por referirem aspectos omissos nestas que se publicaram sob o título de FOMOS EM BUSCA DO JAPÃO, quer porque, mesmo quando novamente os apresentem ou evoquem, estabelecem pontes com diversos temas de outras culturas. Na verdade, a permanência mais prolongada - ou o contacto mais assíduo -- em qualquer cultura que não seja a que, de um ou outro modo, nos formou, leva-nos, muitas vezes, a comparar referências, mais em busca da proximidade ou familiaridade, do diálogo, do que da precisão das diferenças, ainda que estas, naturalmente, não desapareçam. Com essa intenção, irei transcrevendo trechos de crónicas passadas, embora introduzindo pequenas adaptações e alterações, ou acrescentando-lhes uma ou outra reflexão posterior. E, por me parecer um bom prefácio a esta segunda parte do nosso memorando, reproduzirei hoje partes de uma das primeiras crónicas que escrevi para o CNC, em 10 de Agosto de 2012, intitulada

A MÚSICA ENTRE MUITAS ROTAS.

Num texto introdutório a S. Francisco Xavier - A Rota do Oriente, produzido por Jordi Savall, escreveu Rui Vieira Nery: Como reagiram todas essas culturas ao impacto da música ocidental, e como reagiram os músicos peninsulares aos sons desconhecidos das tradições locais? As vilhuelas e as guitarras que iam a bordo estabeleceram contacto com outros instrumentos de corda dedilhada como o sarod indiano ou a biwa japonesa. Os tambores europeus encontraram-se com a ampla gama de virtuosísticas percussões africanas e a sosisticada tradição da tabla indiana. A flauta e a flauta doce, que podem ter acompanhado facilmente os marinheiros peninsulares, descobriram a atmosfera poética do shakuhachi japonês... Que resultou daqui? No seu Tratado em que contêm muito sucinta e abreviadamente algumas contradições e diferenças de costumes entre gente da Europa e esta província do Japão, o jesuíta Padre Luís Froes (sec.XVI) considera que a música japonesa é a mais horrenda que se pode dar, mas também reconhece que todos os nossos instrumentos lhes são insuaves e desgostosos... Já o dominicano Frei Gaspar da Cruz, no seu Tratado das cousas da China que, publicada em Évora em 1570, é a primeira monografia sobre a China a ser impressa na Europa, escreve: Os instrumentos que usam para tanger são umas violas como as nossas, ainda que não tão bem feitas, com as suas caravelhas para as temperarem, e há umas de feição de guitarras que são mais pequenas, e outras à feição de viola de arco que são menores. Usam também de doçairias e de rabecas, e de uma maneira de charamelas que quase arremedam as de nosso uso. Usam de uma maneira de cravos que têm muitas cordas de fios de latão; tangem-nos com as unhas que para issso criam; soam muito e fazem mui boa harmonia. Tangem muitas vezes muitos instrumentos juntos concertados em quatro vozes que fazem muito boa consonância... Um século depois do Tratado de Frei Gaspar, um jesuíta português, o Padre Tomás Pereira, era pessoa notável em Pequim, e muito estimado pelo imperador Kangxi. Um jesuíta belga, o Padre Verbiest, escrevia em 1680: Construímos um carrilhão numa torre da igreja e noutra colocámos um órgão fabricado com tubos de estanho conforme as regras da música. Todos querem visitá-lo e creio que, no Oriente inteiro, não há um de tamanha grandeza. Estas duas obras de arte, devidas à habilidade e engenho do Padre Pereira, músico muito habilidoso, são de uma perfeição acabada... E, em 1735, o Pe.Du Halde anotava: A facilidade com que, por meio de notas, retemos uma ária logo à primeira audição, surpreendeu o falecido imperador Kangxi. No ano de 1679, mandou que viessem ao seu palácio os Padres Grimaldi e Pereira, para tocarem um órgão e um cravo que outrora lhe tinham oferecido. Saboreou as nossas árias da Europa e pareceu ter gosto nisso. Em seguida mandou que os seus músicos tocassem uma ária da China num dos seus instrumentos, e ele mesmo o tocou com muita graça. O Padre Pereira tomou nota da ária inteira enquanto os músicos a cantavam. Quando terminaram, o Padre repetiu-a sem falhar um tom, e como se há muito já a conhecesse. O Imperador ficou muito surpreendido, custou-lhe a crer. Teceu grandes louvores à precisão, à beleza e à facilidade da música da Europa. Admirou sobretudo como o Padre em tão pouco tempo aprendera uma ária que tanto lhe havia custado a ele e aos seus músicos... Imaginemos nós também que as multidões nipónicas que, no sec.XVI, acorriam a ver os cortejos e procissões dos portugueses - e tanto nos imitavam no traje e outras modas - talvez não desgostassem assim muito das nossas músicas e animações...

 

Camilo Martins de Oliveira

A FORÇA DO ATO CRIADOR


Modrian e a Verdade que Ascende a Natureza.

 

‘For every form, even every line, represents a figure, no form is absolutely neutral.’ Piet Mondrian, 1937

 

Segundo Mondrian, no texto ‘Plastic Art and Pure Plastic Art’ (1937), existem duas inclinações humanas, diametralmente opostas, para produzir arte: uma que é expressão de uma beleza universal e outra que é expressão de uma estética individual. A primeira inclinação pretende representar uma realidade de forma objectiva e a segunda de forma subjectiva. Mondrian afirma que toda a história da cultura demonstra que a beleza universal da arte não está associada a uma característica particular da forma, mas sim associada às relações que se estabelecem a um ritmo dinâmico, dos elementos que lhe são inerentes. Revela também que as formas existem somente para criar novas relações: e que as formas criam relações e as relações criam formas. Segundo Mondrian, um dos problemas mais importantes da arte está em atingir um equilíbrio entre o subjectivo e o objectivo. Mas é sobretudo importante encontrar a solução do problema da arte através do acto de fazer e não do acto de pensar. O artista deve então ser o mais objectivo possível na representação das formas e das suas relações. E este trabalho nunca será assim vazio, porque a oposição dos elementos construtivos e a sua execução trazem consigo emoções. A expressão universal só existe através do real equilíbrio entre o universal e o individual. Gradualmente, a arte purifica-se. Mondrian acredita que a evolução da arte torna o homem consciente para o facto de que o tempo é um processo de intensificação (aprofundamento e não extensão) – uma evolução do individual para o universal, do subjectivo para o objectivo, para revelar a essência das coisas e do homem. Amar as coisas na realidade significa amá-las profundamente e vê-las como microcosmos inserido no macrocosmos – só assim, segundo Mondrian, é possível atingir a universal expressão da realidade: ‘Art  - although an end in itself, like religion – is the means through which we can know the universal.’

Mondrian acreditava que a simplicidade deveria ser o estado ideal da humanidade – e escreve em Natural Reality and Abstract Reality ‘We need not look past the natural, but we should in a sense see through it.’ Graças à teosofia, Mondrian tomou consciência que a arte poderia fornecer uma transição para as regiões mais belas pertencentes ao reino espiritual. A importância da horizontal e da vertical revelada por Helena Petrovna Blavatsky em Isis Unveiled (1877) e em The Secret Doctrine (1888) permitiu a Mondrian apreender a significação mística dos símbolos geométricos tais como o triângulo e a cruz. Blavatsky constrói igualmente a teoria do ortogonal, referindo-se à perpendicular celeste e à linha de base terrestre horizontal, e fazendo correspondência à vertical, como princípio masculino e à horizontal como princípio feminino. Na visão de Blavatsky, a cruz, intersecção de duas linhas, exprime a concepção mística e única da vida e da imortalidade. Mondrian ao encontrar a sua expressão na forma e na cor, isto é, na linha recta e na cor primária claramente definida, desejava reflectir acerca de uma realidade mais elevada ou uma verdade que transcendesse a natureza, na certeza de que ao prosseguir com esta procura poderia aceder a uma compreensão e a um conhecimento mais sublime (Moszynska, 1998). Tanto Mondrian como Blavatsky acreditavam que arte e religião caminhavam em direcções paralelas, ambas com o principal objectivo, o de transcender a matéria (Golding, 2000).

 

Ana Ruepp

FOMOS EM BUSCA DO JAPÃO


Figura na entrada do Templo de Nikko

 

23. SHINTO e SÍMBOLOS

 

O shintoísmo não tem ídolos, como os têm os pagãos por esse mundo e essa história fora, desde a Polinésia a Grécia e Roma, da África à Fenícia, e em muitas outras e variadas partes... Os missionários cristãos, como já lemos, referiam-se com frequência aos guardiões e budas dos templos budistas japoneses como se fossem ídolos, talvez por não lhes ocorrer que antes seriam simples ícones ou representações, imagens de lembrança e alerta como as que - apesar de históricas crises de iconoclastia, ainda hoje com sequelas nas confissões protestantes - foram povoando as igrejas cristãs... (Pensemos, a talho de fouce, se, por exemplo, umas estátuas católicas peregrinas não estarão mais próximas de um ídolo do que de um ícone cristão...). Os santuários shinto são simplesmente albergues ou abrigos dos kami, estes não se limitando às personagens míticas antigas, pois que são todas essas forças que habitam os corações das pedras, das águas, das árvores, dos animais, e dos homens que somos e dos que já morreram... Até ícones budistas, como kannon e muitos bodisatva entraram no panteão dos kami... . Mas, com excepção de algum leão ou outro bicho posto à entrada de um santuário, como guarda qua assusta os maus espíritos - e nem uns nem outros se veneram - nenhum ídolo se encontra num santuário shinto. Mesmo nos lares, os altares domésticos são miniaturas de santuários, como habitações dos espíritos dos antepassados ou protectores da família. A religiosidade shintoísta é uma comunhão com a natureza e a história, e a comunidade dos homens. Penso que se entenderá melhor o que aqui procuro dizer se reflectirmos no conceito de unmei ... Mas, todavia, que cada um de nós pense, antes de pretender perceber os outros: "também eu sou ocidental e cristão, nado e criado na cultura do destino e responsabilidade individual, da história da humanidade num tempo escatológico, e no culto de um Deus único e transcendente que - assim o professa a minha religião - incarnou, nascendo de mulher, para tomar a nossa condição e redimir os nossos pecados, pela sua morte e ressurreição..." Ora, para o shintoísta, não há pecado original, a natureza e o homem são inatamente bons, pesem embora as catástrofes naturais frequentes: terramotos e maremotos, furacões e vulcões... ou, ainda, as faltas e má conduta dos homens. Mas não sabemos porque se zangam os espíritos, sejam os da natureza ou os dos homens que a ela pertencem. Temos apenas de os serenar, com as nossas ofertas (que, primitivamente eram produtos da terra e do trabalho dos homens) e orações. Ou pelo cuidado da purificação, ainda que esta seja só o rito matinal da lavagem da boca e dos dedos com água clara. Podemos mesmo distraí-los, diverti-los: as festas dos santuários shinto apresentam danças rituais e coloridas (kagura), em que as dançarinas (que mexem mais os braços e inclinam o corpo, do que movimentam os pés) estão viradas para a entrada do templo - para que as veja o espírito que ali mora - e não para o público ou assembleia dos fiéis. (Lembremos que semelhante posicionamento ou atitude litúrgica também se discutiu quanto à missa católica, designadamente quando o concílio Vaticano II determinou que o celebrante estivesse voltado de frente para a assembleia, e não de costas...e também se decidiu então pelas línguas vernáculas, em vez do latim ; nos ritos shinto, continua a usar-se um japonês arcaico, só acessível a quem o estude). Mas também se apresentam outras danças clássicas (bugaku) e concursos de tiro ao arco (a pé e a cavalo), para distrair o público, e até combates de sumo, cuja arena é sagrada, purificada por sal que os lutadores lançam para afastar os maus espíritos.
Voltemos ao unmei: literalmente, traduz-se por movimento do mundo. Significa destino. É o movimento de tudo aquilo que, natural e invisivelmente, traça a nossa presença no mundo. É inimputável, e tampouco pode ser contrariado: contra ele nada podemos fazer. Por isso, o destino de cada um de nós é, simultaneamente, o pessoal e o de todos e tudo. A felicidade é a simples memória de pertencermos ao cosmos... A relação original do shintoísmo com o envolvimento da natureza, que se manteve mesmo durante séculos de economia predominantemente agrícola, explica também que ele tivesse primeiramente sacerdotisas, antes de se imporem as classes sacerdotais masculinas, aliás vinculadas a funções e famílias determinadas: os Nakatomi celebravam os ritos e preces; os Imbe eram abstinentes e asseguravam as purificações e o contacto com os kami; os Urabe eram adivinhos; os Shirakawa foram, do sec.XI ao XIX, porque família de cepa imperial, os supervisores de todos os outros. O Imperador, detentor dos três símbolos (o espelho, a espada e a joia), era o sumo pontífice. Curiosamente, até à restauração Meiji, quem celebrava no santuário imperial de Ise era uma sacerdotisa, princesa de sangue imperial. Tal função foi terminada em 1868, pelo governo Meiji que, além de ter separado o budismo do shintoísmo, e feito deste a religião nacional, quis reunir efectivamente as sumas funções religiosas e políticas na pessoa divina do imperador. Depois da 2ª Grande Guerra, com a abolição deste regime, a sacerdotisa regressou, em 1946. Em Tokyo, no santuário Meiji, onde se guardam os espíritos do imperador desse nome e sua mulher, a avenida conducente ao torii que marca a entrada do templo, chama-se Omote-sando, ou principal acesso. Os sando surgem em todos os santuários, caminhos assinalados pelos torii (de tori=pássaro e i =estar, dois caracteres que, assim juntos, significam poleiro). São portanto um símbolo de uma habitação para a qual os espíritos voam... No interior, quase sempre invisível no santo-dos-santos, guarda-se um espelho de metal, símbolo de Amaterasu, como do Imperador. No Jinno Shotoku (1339), Chikafusa Kitabatake escreveu: O espelho nada esconde. Brilha sem egocentrismo. Todas as coisas, boas e más, certas ou erradas, nele se reflectem sem falha. O espelho é fonte de honestidade porque responde de acordo com a forma dos objectos. Aponta-nos a equidade e imparcialidade da vontade divina.

 

Camilo Martins de Oliveira

O PÃO NÃO CAI DO CÉU


Obra de José Rodrigues Miguéis

 

 

- Porque é que nós não temos terra? Nem pão? Que eu já tive alguma coisita de meu, mas hoje tudo quanto eu tinha é do conde de Ferreira. Não sei porquê, que nunca o vi pegar numa enxada… Então ele, que é tão rico, precisa agora de courelas dum pobre?

Era domingo. O vento mudara. O rebate dos sinos foi-se esmorzando. À porta da casa do tio Canha, batida do primeiro rubor do sol nascente, uma mulher, com o filho adormecido nos braços, ajoelhou e fez o sinal da cruz. Os homens, compungidos, imóveis, resolutos, esperavam ordens. Não tardou que o céu se velasse de uma neblina algodoada, que aos poucos se tornou em gélidos rolos de nuvens, sob os quais pairava, como nas terras nórdicas, uma ameaça de neve.

 

Hoje revisitei José Rodrigues Miguéis, o que é uma outra forma de lutar, tal como aprendi com ele, com a sua obra!

 

M. Teresa Bracinha Vieira

Setembro 2014 

OS MAIS ANTIGOS TEATROS DE LISBOA - X


Rex

UM CINEMA TRANSFORMADO EM TEATRO
 

O Cinema Rex, nos limites da Mouraria, “na velha rua da Palma” de que falava um fado dos anos 40, foi inaugurado em 1936, no edifício onde desde 1929, tinha funcionado a Federação Espírita Portuguesa. “Com lotação de 500 lugares, diz-nos Marina Tavares Dias, o Rex possuía balcões e camarotes, tal como um cinema de estreia”. E refere que “a pouca distancia um do outro, o Lys e o Rex ocuparam uma das zonas mais importantes na história da exibição cinematográfica em Lisboa: o eixo Rua da Palma – Avenida Almirante Reis” (in “Lisboa Desaparecida” vol. 7 – 2001).

Em 1968/1969, Vasco Morgado “transforma” o Rex no Teatro Laura Alves, homenagem merecidíssima à grande atriz. E durante anos, aquilo que hoje é pouco menos do que uma ruina, vitima de incendio ocorrido em 2012, constituiu na época um dos centros urbanos de produção de espetáculo de qualidade: referimos já, nesta série, o antigo Cine-Teatro Império e os antigos Cinemas Max e Lys, que no exterior ainda perduram, com utilização variada. M. Félix Ribeiro assinala a transformação da sala do Rex em 1937 e em 1945 (in “os Mais Antigos Cinemas de Portugal” 1978).

O que restou do Rex transformou-se primeiro em hotel de baixa qualidade, e quase desapareceu no incêndio de 2012: perdura um resto de fachada de obscura utilização.

Mas em 1968/69, como já disse, tinha sido transformado em teatro: e Vasco Morgado soube conciliar o cariz popular da zona urbana, na época mais acentuado do que hoje, com uma boa qualidade de repertório e sobretudo, com uma excelente qualidade global de produção de espetáculos. Estreou-se como tal, com uma peça algo “cinematográfica”, “O Jovem Mentiroso”, de Keith Waterhouse e Willis Hall, tradução de Botelho da Silva, interpretada por grandes nomes da cena da época: nada menos do que Rui de Carvalho, Brunilde Júdice, Manuela Maria, Guida Maria, Fernanda Figueiredo, Célia de Sousa, e na estreia em palco, Vasco Morgado Júnior – numa encenação assinalável e assinalada de Jacinto Ramos.

Recordo esse espetáculo de qualidade: mas mais recordo, pela relevância do texto, a “Forja” de Alves Redol, estreada poucos dias depois da morte do autor (1969), numa encenação de Jorge Listopad, com Cármen Dolores, Jacinto Ramos, Manuela Maria e Sinde Filipe e música de Francisco d’Orey. Trata-se, como bem sabemos, de um drama rural: mas a arte de Redol como que ultrapassa quaisquer regionalismos, até porque a própria abstração do drama, passado em ”uma aldeia qualquer, junto a qualquer serra de Portugal”, coloca o espetador num ambiente humano que resultava bem no ambiente híper-urbano da sala… Pois o próprio Redol, na edição da peça (1966) esclarece que “ a forja desta tragédia é Hiroshima, tão distante e tão perto de cada um de nós”.

Mas em outubro de 1970, estreou no Laura Alves “O Preço” de Artur Miller. Interpretado por Varela Silva, Jacinto Ramos e Glória de Matos, destacou-se o retorno de José Gamboa, há anos afastado da cena. Escrevi então que a interpretação do personagem Salomon, ”misto de esperteza e ingenuidade, seriedade e manha, sabedoria e inconsciência, surge-nos vivo, viável, humano, na excelente interpretação”.

Em 1971, salientei a interpretação de Céu Guerra no papel de Ghris em “Só as Borboletas são Livres” de Leonard Gershe e em 1973 referi ainda dois espetáculos: “O Principio e o Fim” de Henry Denker e “O Príncipe e a Corista” de Terence Rattingan. Mais do que os espetáculos, interessa-me referir o cometário que, no programa, fez Jacinto Ramos, relativamente ao Teatro Laura Alves: “um pequeno teatro, sem condições técnicas e poucas possibilidades de as vir a ter – perdido num bairro popular e asfixiado entre uma garagem e um armazém de sapataria”!

Na altura, comentando esta apreciação, escrevi que “o encastoamento do teatro num bairro popular seria, não desvantagem, mas extraordinário desafio à formulação de um repertório popular” (in “Teatro em Movimento” – 1973). Mas em qualquer caso, o repertório escolhido por Jacinto Ramos, e os espetáculos que dirigiu no Teatro Laura Alves eram de qualidade.

Entretanto, desde 1972, o Laura Alves produzia espetáculos de revista. E em 26 de Junho de 1974 estreou, diz-nos Luís Francisco Rebello, a primeira revista - com texto de Eduardo Damas - não sujeita a censura prévia (in “História do Teatro de Revista em Portugal” vol. 2 -1985).

E em 1973, o Teatro da Cornucópia, dirigido por Jorge Silva Melo e Luis Miguel Sintra, leva à cena “O Misantropo” de Molière.

Mais peças e mais revistas foram levadas à cena no Teatro Laura Alves, até que fechou para o teatro e nunca mais para o teatro abriu.


Lys 

 
DUARTE IVO CRUZ

LONDON LETTERS

 

The constitutional argument, 2014-15



Uma semana em política é muitíssimo tempo, usava dizer amiúde TRH James Harold Wilson. Temo que o antigo líder trabalhista (1916-95) estonteasse com a alta velocidade a que as agendas mediáticas se afastam do Scotland Independence referendum de September 18, 2014 a consulta que reuniu todos os ingredientes capazes de mover algo all to pray for. — Chérie, fait accompli! Os Scots votam pelo United Kingdom sob fórmula Devo max. Buckingham e Westminster respiram de alívio, mas o No Thanks e a participação eleitoral de 85% apenas iniciam o diálogo constitucional que reinventará o modo de governo nas ilhas. — Hmm. Few can do us good, almost any can do us harm! Ventos frescos sopram identicamente alhures. O European Central Bank apela a Paris que reforme o mercado laboral e a Berlin que aposte na economia real para assim revitalizarem a Eurozone. Washington inicia air strikes contra o Isis na Syria, comandando uma coligação com cinco países árabes. A Obama Administration avança já novas regras para dificultar o turismo fiscal dos capitais quando a chinesa Alibaba irrompe na sua bolsa de valores e o US President discursa pela paz na ONU. Em Manchester, com toada fabril de revolutionary educator em fundo, o Labour Partyarticula uma nova visão de futuro.

Autumn is still coming, informa o tom acobreado das hydrangeas e das paeony com as montbretia carregadas de sementes. O ar quente abre a época das conferências partidárias que leva às eleições de 7 May 2015 para o 56th Parliament of the UK e à escolha dos 650 MPs na House of Commons. A contagem decrescente começa sob a agradável observação do so wonderful that the Scots decided to stay with us. A campanha escocesa acaba bem, sobretudo devido ao ardente verbo de Mr Gordon Brown como The Queen’s champion. A votação 45/55 suscitou real apreensão, mas o Balmoral expressa confiança que “the enduring love of Scotland" existente em todas as parcelas de Britain assista a que cooperem com "mutual respect" no bem comum. Demonstrado fica, porém, no olhar público, que nem a noção de mortalidade metamorfoseia qualquer profissional da política em estadista. O Prime Minister David Cameron descurou o Scottish affair e os partidos de Westminster tardaram na defesa da coroa.

A prometida devolução de poderes a Holyrood é agora um objeto institucional em busca de a fair settlement que equitativamente abarque England, Northern Ireland e Wales. Há mais no rescaldo. O No-vote demite o First Minister Alex Salmond no términus de um exemplar debate referendário, onde o drama da 307-year union combina com classic Pythonesque moments. Afinal, tal qual os Romans na Life of Brian dos Monty Python, what have the Britons ever done for us? Apart from the NHS, giving the Scots high offices... Um dos episódios hilariantes respeita à declaração de independência sugerida pelo Secretary of State for Scotland à oil-rich island of Shetland. Após Mr Alistair Carmichael, sucedem-se idênticas teses para Doncaster e mesmo South Yorkshire, para o efeito se requisitando os local historians a revisitarem os tratados medievais. A apimentar o enredo esteve tanto o Treaty of Durham de 1157, quanto Mr Ed Miliband como MP de Doncaster North.

O líder do Labour Party apresenta em Manchester as linhas gerais para a política com que se candidata à maioria parlamentar e à formação de governo nas 2015 general elections. A sua agenda para a década compreende múltiplas medidas de fiscal design para balancear as contas do reino, com realce para aposta no National Health Service sob fatura da mansion tax. Entendem os trabalhistas que as ricas propriedades contribuam para o Royal Treasury com igual aos lucros auferidos no Duchy of Cornwall: The Prince of Wales pagou ali £4.2 milhões em impostos no ano 2013/14. Nada de especialmente ousado, pois, quando as sondagens atribuem a HM Opposition vantagem de oito pontos face aos Conservatives. Aliás, aquém da Ed vision e das red policies, a estrela da party conference é outra: Mr Harry Smith, um 91-year war veteran cujas memórias da pobreza em que cresceu (antes da segurança social, no pós-guerra) literalmente levam a plateia às lágrimas.
Novidades há na frente cultural. Mrs Hilary Mantel publica a esperada coleção das suas short-stories sob subversivo título: “The Assassination of Margaret Thatcher” (John Macrae Book/Henry Holt & Company). A laureada autora ficciona um atentado contra Mrs T – a qual na realidade foi visada à bomba em Brighton (1984). Se os fãs aguardam a sequela de Wolf Hall e Bring up the bodies, os dias de Thomas Crowell que assistem à formação da moderna Britain estão em palco pela Royal Shakespeare Company no Aldwych Theatre (London). A série passa em breve do palco em West End à tela da BBC Em vésperas de nova chamada às armas pela Union Jack, que Britain deve defesa às gentes no Irak, recorde-se o Scot Robert ‘Robbie’ Burns: — Be Britain still to Britain true, / Amang ourselves united; / For never but by British hands. / Maun British wrangs be righted! / No! never but by British hands / Shall British wrangs be righted!


St James, 23rd September

Very sincerely yours,

V.

A VIDA DOS LIVROS

De 22 a 28 de setembro de 2014 

 

António Alçada Baptista é um dos grandes escritores do século XX português, como memorialista e com ensaísta de inspiração católica – as crónicas reunidas em «O Tempo nas Palavras» (1ª ed., 1973) e «Peregrinação Interior» (I vol., 1971 e II vol. 1982) constituem marcos fundamentais para a cultura portuguesa contemporânea.


UM CATÓLICO CRÍTICO

António Alçada Baptista representa na história cultural portuguesa um singular exemplo que não pode ser reduzido a uma suposta ambição política nem alvo de desatenção. Nada mais enganador do que desvalorizar o seu lugar crucial na preparação da democracia. Vindo de um meio conservador, com fortes raízes na sociedade beirã, sendo destinado a um percurso tradicional de uma advocacia de influência, depois de uma formação nos jesuítas, António Alçada recusou esse destino, apesar de ter começado por sentir um sucesso possível nos primeiros passos que começou a trilhar. Com todas as resistências do antigo regime, as mentalidades, as influências, os debates, os autores, as tendências artísticas, tudo foi mudando no final dos anos quarenta e cinquenta. Havia tensões contraditórias que a geração de Alçada Baptista soube interpretar. O «reviralho», a partir de 1945, sentiu uma evidente atração por quem tinha sido importante entre os aliados contra o domínio do «eixo», a União Soviética. Os temas sociais e o chamado neorrealismo vão ocupar um lugar proeminente. Mas, nos Estados Unidos, o «macartismo» e a caça às bruxas criaram um clima que serviu para fortalecer as simpatias intelectuais relativamente às suas vítimas. Para um católico com preocupações críticas, os motivos da rutura prendiam-se com a confusão de uma cruzada política que acenava com os fantasmas do anticlericalismo e do jacobinismo que tinham levado ao fim da Primeira República. Salazar sobrevivera em 1945 contra as expectativas de alguns, uma vez que a «guerra-fria» evitara a liberalização a sério na Península Ibérica. Mas havia transformações, e António Alçada cedo começou a compreendê-las – até porque os motivos de desconfiança iam-se acumulando. Os monárquicos perceberam que a hipótese de uma restauração, acenada numa base equívoca, tornara-se uma ilusão irrealizável pela «situação», por falta de vontade de Salazar e dos eventuais delfins. O caso do Centro Nacional de Cultura, fundado por jovens monárquicos em 1945, é ilustrativo – evoluindo no sentido de uma atitude democrática e pluralista.

 

INDO UM POUCO ATRÁS
Logo em 1945, houve esperanças numa abertura. Alguns (poucos) católicos empenharam-se na democratização no MUD. Aí encontramos Francisco Veloso, antigo dirigente do Centro Académico da Democracia Cristã, além do Padre Joaquim Alves Correia, missionário espiritano, de Sebastião José de Carvalho, monárquico liberal e de José Vieira da Luz. O Padre Abel Varzim saíra do lugar de deputado à Assembleia Nacional no final da legislatura de 1938 a 1942, tendo os membros da Liga Operária Católica (LOC) abandonado os postos diretivos dos sindicatos nacionais. Há ecos de que o Padre Varzim teria sondado algumas personalidades católicas para a eventual criação de um Partido Democrata-Cristão. Em 1946, o Padre Joaquim Alves Correia é exilado nos Estados Unidos, depois de ter publicado no «República» um artigo sobre a «noite sangrenta» de 1921. A publicação do jornal «O Trabalhador», da Ação Católica Operária, é suspensa no mesmo ano. Na campanha eleitoral de 1949, em que concorre Norton de Matos, um jovem católico, da Faculdade de Direito de Coimbra, Orlando de Carvalho, afirma: «A Ditadura porque não é um sistema de governo, mas um interregno na vida política normal (…) não tem de pensar em como renovar-se, em como subsistir, mas apenas em como findar e o mais depressa que puder (…). O único critério que até hoje me pareceu suficiente de renovação é o critério do povo, da consulta popular sincera» («Diário Popular», 24.1.49). Em resultado, o jovem vê suspenso o seu contrato.

 

O ANO EMBLEMÁTICO DE 1958
Pode dizer-se que, a partir do ano emblemático de 1958, António Alçada Baptista deu, nos meios culturais, com a Livraria Morais e depois com «O Tempo e o Modo», um contributo decisivo para pôr em xeque a chamada «frente nacional» de Salazar, do mesmo modo que a candidatura presidencial de Humberto Delgado, antigo símbolo do regime, e, na Igreja Católica, o memorando do Bispo do Porto dirigido a Salazar. É simbólica a fotografia do católico Francisco Lino Neto, com a cabeça ensanguentada, atingido pela polícia de choque na manifestação de apoio a Delgado. Estava, no fundo, em causa o que Alçada afirmaria na «Peregrinação Interior»: «Peço e insisto com os senhores especialistas de povos e planificadores de impérios que não se deem por contentinhos com o trabalho que estão a fazer e peço a todos os incomodados do mundo que não desistam de pensar como é que isto se pode consertar». Recorde-se o poema de Ruy Belo «Nós os vencidos do catolicismo». Havia um drama evidente, que misturava o ambiente do final da autocracia com a emergência da Igreja pós-conciliar. Como afirmou o Padre Manuel Antunes, não estávamos perante uma questão puramente portuguesa, apesar de ganhar aqui (e em Espanha) contornos especiais em razão dos constrangimentos políticos. Ruy Belo dirá: «a história do catolicismo português atual, a fazer um dia, não pode deixar de ser uma história dolorosa». A afirmação do poema «não é que no mais fundo não creiamos» revela o caráter de escolha decisiva, que leva o poeta, como o Padre Felicidade Alves, à lógica inconformista. «A modernidade passava também por uma espiritualidade renovada, liberta de dogmas e constrangimentos, aberta aos problemas humanos concretos, ao pulsar da vida, às culturas de protesto que a juventude dos anos 60 ia difundindo numa sociedade bloqueada» - na expressão de Sérgio Campos Matos.

 

REPERCUSSÕES DA AVENTURA DA MORAES
Na «aventura da Moraes» tratava-se de criar um movimento de opinião centrado em leigos católicos (com apoio de alguns clérigos) capaz de concretizar o programa de Emmanuel Mounier de unir católicos e não católicos no combate contra a «desordem estabelecida», ou seja, romper com a cumplicidade da Igreja com o Estado Novo. A ideia de António Alçada Baptista não tinha a ver com a criação de um Partido Democrata-Cristão, mas com uma convergência de movimentos e opiniões que permitisse uma transição pacífica de contornos abertos, segundo a lógica das democracias ocidentais. A ligação ao Congresso para a Liberdade da Cultura (com Pierre Emmanuel e Roselyne Chenu) é um sinal dessa orientação. Tratava-se de tornar ativo, em Portugal, um grupo de intelectuais sem vocação partidária ou até cristã. Por isso, Mário Soares, Salgado Zenha e Jorge Sampaio participaram na fundação de «O Tempo e o Modo». Mas Mário Soares pretendia que houvesse uma personalidade aglutinadora de uma corrente democrata-cristã. Esse entendimento deparava, porém, com a objeção do próprio Alçada e da maioria dos seus amigos, para quem não deveria haver uma política cristã, mas cristãos livres, fora de movimentos confessionais. Em nome de «desinteressados ideais», António Alçada ainda acreditou fugazmente em Marcelo, mas nas «Conversas» que publicaria percebeu que a abertura era impossível. A intervenção ética em que acreditava foi mal compreendida. Mas ninguém duvida hoje da importância da sua coragem.

 

Guilherme d'Oliveira Martins

FOMOS EM BUSCA DO JAPÃO

22. SHINTO


Em vários manuais sobre as religiões dos japoneses normalizam-se assim as diferenças principais entre shintoísmo, budismo e cristianismo : as duas primeiras são politeístas (apesar de eu considerar que não são rigorosamente identificáveis, entre eles, kami com bodisatva, nem qualquer destes com deuses, no sentido clássico, ainda que no paganismo greco-romano o Olimpo, Hades e a terra dos homens possam ser intertransitáveis), enquanto que o cristianismo é monoteísta; também contrariamente a este, shintoísmo e budismo aceitam a participação em diferentes tradições ou confissões religiosas (donde o seu sincretismo); no shintoísmo não há salvação transcendente, pois que os homens já vivem no mundo animado pelos kami e a harmonia com estes passa por ritos de purificação; já no budismo, o acesso ao nirvana, estado de paz, consegue-se pela iluminação resultante da meditação; e só o cristianismo fala da salvação pela fé na graça de Deus que redime os pecados dos homens. Mas não foram apenas estas divergências teológicas, acima simplificadas, que dificultaram a missionação cristã, apesar da natural predisposição dos japoneses ao acolhimento de mensagens de outras partes, sobretudo em períodos de instabilidade política e transformação e agitação social, como foram as últimas décadas do shogunato Ashikaga, ao tempo da chegada dos primeiros portugueses e jesuítas. Noutro plano de análise, podemos observar que o cristianismo se inicia no Japão, com a conversão de gente do povo humilde do Kyushu, provavelmente mais próxima do shintoísmo do que do budismo praticado por gente letrada e pela aristocracia. Essas classes mais elevadas só mais tarde se aproximarão dos missionários cristãos, muito em virtude do interesse dos daimyo locais pelo comércio aberto pelos portugueses. Entrámos assim em considerações várias acerca das relações entre as religiões e a sociedade nipónica, suas classes e poder político. Procurámos que tal se tornasse num exercício interessante, que nos ajude a entender melhor, não só o Japão em mudança, que os jesuítas e portugueses do sec.XVI vieram encontrar, como o Japão de sempre, na sua evolução e sobressaltos até aos dias de hoje. O nosso percurso vai do shintoísmo primitivo, onde surge o mito fundador da linhagem imperial e identidade nacional, até à Constituição promulgada em 3 de Novembro de 1946 - que determina, no artº,20: " nenhuma organização religiosa poderá receber quaisquer privilégios do Estado nem exercer qualquer autoridade política" - passando pela introdução do budismo e as várias fases da sua relação ao Estado, pela visão oficial nipónica do cristianismo como factor político e estratégico, e pela restauração Meiji do Estado shinto. O shintoísmo antigo não era uma religião organizada ou institucionalizada, antes seria uma forma de animismo, cujo culto era o convívio espiritual com a natureza e suas forças, espíritos ou kami, entre os quais se incluíam os mortos ou antepassados. Cada pessoa individual necessariamente se sentia parte integrante de uma unidade social, grupo ou clã a que se chamava uji e descendia da mesma divindade. O chefe do uji era também o seu sumo sacerdote, e a palavra matsurigoto significava simultaneamente governo e rito religioso ou mágico. A nação japonesa, como já vimos, nasce desse mesmo conceito, quando o reino de Yamato, no sec.V antes de Cristo, reúne todos os uji sob a autoridade política e religiosa da linhagem descendente da deusa solar Amaterasu. Todavia, a designação institucional de imperador - tal como a própria designação shinto (ou caminho dos espíritos) - só se imporão, já no sec.VI da nossa era, por influência chinesa. Seja como for, têm raízes muito primitivas na cultura identitária japonesa esses conceitos, tal como o de ie (casa, no sentido de família patrimonial, unidade social não necessariamente confinada à consanguinidade) que se desenvolveria já durante o shogunato Tokugawa... Numa das suas cartas, o padre Gaspar Vilela - que, como vimos, viveu no seio de uma comunidade de pescadores, habitantes da aldeia donde nasceria Nagasaki, e que teriam formado um dos primeiros núcleos cristãos do Japão, depois de se converterem das suas crenças shintoístas - refere os mitos antigos da origem do cosmos e do Japão, entre os quais a descendência de Izanagi e Izanami (a que chama, respectivamente, Yanamin e Yanagui), revelando por aí como as crónicas antigas, Kojiki e Nihonshoki, eram conhecidas dos jesuítas quinhentistas. Escreve, mais ou menos, o seguinte: No seu princípio, o mundo era um lago de água, e não havia nem terra nem gente, Um homem chamado Yanamin lançou do céu um tridente em forma de anzol dizendo "Talvez haja um rio debaixo dos céus". E agitando a água, apanhou uma gota de lama que estava debaixo da água. Este pedaço de lama colou-se ao tridente e quando chegou à tona da água tornou-se numa ilha, e o reino do Japão foi-se a pouco e pouco formando a partir daqui. Por essa razão vêem nesse homem Yanamin e nessa mulher Yanagui os primeiros fundadores do Japão e os progenitores da raça japonesa. Na mitologia shintoísta, Izanagi e Izanami são os pais de Amaterasu. E o padre João Rodrigues fala- nos, na sua História, da Tensho-Daijin (outro nome de Amaterasu): No reino de Ise há um templo dedicado ao principal kami do Japão, Tensho-daijin. Esta mulher era filha do primeiro homem e da primeira mulher, que, dizem eles, povoaram o Japão. E dizem que ela foi a primeira a reinar sobre o país, e que todos os reis do Japão descendem dela. Peregrinos vêm de todo o Japão a este templo e dão ricas esmolas... O santuário de Ise - que ainda hoje activamente existe no mesmo local - consta de duas cercas distintas, sendo que, em cada uma delas, alternadamente, é um templo destruído e reconstruído, na mesma planta, de vinte em vinte anos. Os materiais de construção utilizados, bem como as ferramentas, são sempre novos, mas a respectiva natureza e desenho, e o modus faciendi são idênticos aos que ergueram os primeiros templos, há mais de mil e duzentos anos... Aqueles missionários que seguiram - no Padroado Português do Oriente, feitos portugueses ao serviço do Senhor Dom João III - São Francisco de Xavier, encontraram um povo animista, com um coração aberto a novos kami que participassem na comunhão universal em que se sentiam convivas. Por isso lhes pareceu haver ali vasta e amorosa seara para o Senhor Jesus. Era também gente a quem a promiscuidade das seitas budistas com a aristocracia e o poder político, aliás não isenta de conflitos - foram frequentes os gosos, ou manifestações de monges budistas na capital, durante a idade média japonesa, o que levou Oda Nobunaga, iniciador da idade moderna, a dizimar os monges do Monte Hiei, cerca de Kyoto - afastava do budismo oficial e predispunha à fidelidade a um poder superior. Talvez também esse sentimento de lealdade a um poder e dever, com despojamento de si, tivesse levado muitos samurai - que já no budismo se aproximavam da ascética zen - a converterem-se ao cristianismo. Vemos alguns representados, em práticas religiosas, nos biombos namban. A história "teológica" das relações do cristianismo do sec.XVI-XVII com as religiões nipónicas está por fazer. Mas sabemos que os grandes debates apologéticos se fizeram sobretudo com o budismo zen. A perseguição e expulsão do cristianismo teve, como já dissemos, motivos predominantemente políticos. Com eles se confundiram também as forças budistas, não tanto por razões de ordem religiosa, mas pelo receio de outra possível religião de estado. Pessoalmente, creio que Nobunaga - o primeiro comandante da reunificação do Japão - terá considerado a hipótese de ir substituindo o budismo pelo cristianismo como religião do estado. Aliás, o seu filho, convertido ao cristianismo, só não lhe sucedeu, depois do assassinato do pai, por ter sido afastado por Hideyoshi. A história do Japão poderia ter sido outra. Assim, por todo o shogunato Tokugawa, de 1603 até 1867, o shintoísmo, que, desde o sec.VI, abrira o recinto dos seus santuários à instalação de templos budistas, e acolhera os budas e bodisatvas entre os seus kami, continuou a viver na sombra do budismo. Este perdera, já no advento do período Azuchi-Momoyama, parte da sua influência política, mas continuaria sendo a religião (se isso lhe podemos chamar) eleita e protegida pelo poder shogunal. Por isso mesmo, a restauração do poder e funções políticas imperiais, imposta pelo imperador Meiji, que terminou o shogunato Tokugawa em 1867, irá fazer do shintoísmo a religião oficial do Estado japonês e venerar, na mesma pessoa (o Tenno, descendente da deusa solar Amaterasu), simultaneamente o divino pontífice e o supremo chefe político e militar. Este Shintoísmo de Estado exercita-se então através do Shintoísmo da Casa Imperial, com regras e ritos próprios à liturgia do Imperador, e do Shintoísmo dos Santuários, que reúne e governa as funções dos santuários shinto mais importantes (incluindo os mais antigos), livres de interferências budistas, locais de assembleia, culto e peregrinações. A par desta religião organizada, o Estado Meiji criou uma instituição para supervisionar e controlar as muitas seitas de culto shintoísta que o povo e a história tinham produzido. Tal como instituiu um serviço de supervisão das outras religiões (que, creio, foi posteriormente integrado no ministério da educação), designadamente o budismo e o cristianismo, entretanto readmitido no Japão. Como se disse acima, todo este sistema foi abolido, tal como a afirmação constitucional da natureza divina do Imperador, pela legislação subsequente à derrota de 1945, tendo a Constituição de 1946 consagrado o princípio da separação e da liberdade religiosa. Finalmente, parece-me importante lembrar que o shintoísmo não tem fundador (no sentido de um Moisés, Jesus Cristo, Maomé ou Gautama) nem escrituras sagradas. Os seus textos de referência, os Kojiki e Nihon Shoki, são compilações ou registos de tradições orais muito mais antigas, redigidas já na nossa era cristã, depois da introdução da escrita e da cultura chinesa no Japão. A própria palavra Shinto, escrita com dois caracteres, é a chinesa Shentao, que significa via da mente ou do espírito. Os mesmos caracteres, na sua pronúncia japonesa não chinesa, podem ler-se kami michi, o caminho dos kami ou espíritos (quiçá possamos dizer almas, sendo alma o que está em cada acontecimento telúrico, nas rochas, nos mares, nos seres vivos ou já passados...). No budismo chinês há textos em que shentao refere os ensinamentos de Gautama e outros em que parece designar a alma mística; no confucionismo, tanto refere as forças misteriosas da natureza, como a senda que conduz a um túmulo; no taoísmo, aponta para os exercícios, atitudes ou, ainda, práticas mágicas que levam ao destino.

 

Camilo Martins de Oliveira

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