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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A FORÇA DO ATO CRIADOR

 

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Acerca do Expressionismo Alemão.

 

A grande afirmação da arte alemã do século XX, coincidiu com o expressionismo.

A situação artística da Alemanha, nos finais do século XIX, estava condicionada à pintura naturalista, cujos temas eram históricos. Foi em oposição a esta arte oficial que na década de noventa surgiram distintas Secessões. A primeira, que surge em Munique, pretendia elevar o conhecimento da arte impressionista de França. Na Secessão de Dresden, assiste-se a uma vontade em seguir o movimento Arts and Crafts.

Em 1899, chega o pós-impressionismo. Aqui os artistas alemães empregam cores fortes, acrescentando um efeito bidimensional. Porém, graças a sucessivas oposições às concepções artísticas do século XIX e graças ao contributo da Arte Nova (sobretudo pelo facto de atribuir características imateriais ao objecto, onde as linhas e as cores obedecem a um todo), o Expressionismo originou-se. Recebe também influências da arte pré-histórica, da escultura negra, indiana, azteca e de alguns pintores como El Greco, Goya e Daumier. E leva como que muitas vezes o romantismo a um realismo emocionalmente descrito. Dresden e Munique, ao invés de Paris, são agora o palco de tudo o que é inovador e moderno. Ambas são lugar por excelência de uma nova arte.

Entre 1905 e 1933, apareceu assim uma nova forma artística oposta ao impressionismo. Esta arte não nasce directamente da realidade observada, mas de reacções subjectivas a essa realidade (e por vezes afirma-se até como uma crítica social). Naturalismo e proporção são destruídas pela emoção do sujeito, através de distorções à forma e à cor. É concebida uma nova dimensão aos volumes, simplificando e transformando as formas e os conteúdos. Os temas variam entre a paisagem, o nu, o retrato e cenas religiosas. Afirma-se uma enorme vontade em enunciar com absoluta subjectividade o objecto que existe numa realidade específica e concreta.

Os domínios artísticos do expressionismo, na Alemanha são diversos – não só a pintura e a escultura são os meios de expressão por excelência, também a arquitectura, a literatura, o teatro, o cinema e a música manifestam esta nova linguagem, através da tentativa de criar um mundo novo.

No que diz respeito à escultura, é sobretudo Ernst Barlach e Rudolf Belling que direcionam a escultura para a nova expressão. A imitação da natureza é rejeitada e as formas apresentam tal deformação que atingem quase a abstracção. Em Barlach, a inspiração é mística e religiosa e os seus volumes são maciços e pesados.

No campo da pintura, assiste-se a dois grupos, na primeira tendência expressionista: Die Brücke e Der Blaue Reiter. Distinguem-se por se terem desenvolvido em diferente épocas e em diferentes cidades. Estes dois grupos tomaram lugar ainda antes da 1ª Guerra Mundial. Em 1905, Die Brücke formou-se em Dresden. O grupo queria tornar-se na ponte de união entre tudo o que dissesse respeito à revolução. Esta iniciativa foi tomada por um estudante de arquitetura Ernst Ludwig Kirchner, ao qual se juntaram outros jovens como Emil Nolde, Karl Schmidt-Rottluf, Erich Heckel, Max Pechstein e Otto Müller. É um grupo com algumas características fauvistas, principalmente no que diz respeito ao tratamento da cor, mas utilizam uma pincelada larga com cores violentas, contrastadas e composições simplificadas. Transporta uma tendência de ruptura com o passado, exaltando a intuição criativa. Procura a presença profunda da natureza, a representação da essência das coisas, relacionando a arte com o primitivo. Die Brücke é o desejo de transformação da realidade impregnada de religiosidade, dum significado simbólico e o encaminhar de certas situações à caricatura e à anedota. Paisagens urbanas e rurais e retratos são a temática mais frequente. No final de 1911, o grupo começa a desagregar-se.

É, em Munique, em torno de Wassily Kandinsky e Franz Marc que se forma o grupo Der Blaue Reiter. Recebe influências cubistas e dos artistas de Die Brücke, mas a pouco e pouco foram encontrando uma linguagem própria. Além de Kandinsky e Marc fazem parte também Alexei Von Jawlensky, August Macke e Paul Klee. Não foram um grupo muito coeso, nem duradouro, porque desde cedo mostraram entre eles acentuadas diferenças de linguagem, técnica e temática. As cores usadas são muito vivas e contrastadas. Os artistas insistem no poder das suas forças instintivas, reclamando um certo primitivismo. E os temas servem para explorar estudos pictóricos que irão evoluir para a abstracção.

Ora, o Die Brücke e o Der Blaue Reiter foram apenas as primeiras tendências do expressionismo. O expressionismo estendeu-se também pelo período entre as duas guerras mundiais, porém com uma nova orientação, caracterizando-se pela representação de uma realidade visionada com grande precisão, agressividade e deformação. O feio, o vergonhoso e o imoral é sugerido de maneira a ser uma crítica social feroz. Max Beckmann é um dos mais importantes artistas desta fase. Em 1933, o expressionismo deixa de ser um movimento coeso e forte. Com a tomada de poder do nacional socialismo, na Alemanha, muitos artistas tiveram de se exilar e perderam o contacto com o país que outrora fora vanguarda.

 

Ana Ruepp