Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

É DIA DE NATAL

 

16495743_zZmCA.jpeg

 

   Na nossa tradição cristã, a festa do Natal  --  cujo espírito constitutivo vai sendo esquecido pelo consumismo materialista  --  é, antes de tudo, a celebração da boa nova da incarnação de Deus que, ficando assim connosco na nossa humanidade, nos vem abrir a porta do ser tudo em todos. Por isso a festejamos em família e na Igreja, partilhamos o pão e as ofertas. Acção de graças, porque Deus nos vem dizer que já não estamos perdidos e sós: é a nossa primeira eucaristia, e comunhão...

   Juntamo-nos, damos e recebemos, socorremos os mais necessitados. Vivemos uma nova alegria de ser, sentimos no coração que, com o Menino Jesus, nos tornamos, todos, irmãos. Qualquer aconchego de famílias, qualquer passo de achega aos pobres, qualquer mão estendida, em sinal de dádiva ou oferta de perdão  --  ou em troca reconhecida de uma e de outro  --  tem, luminosamente, na festa do Natal de Deus, um estigma sacramental. E é, certamente, uma vocação que nos interroga para além da nossa feliz circunstância.

   Neste Natal de 2015, num mundo em que Cristo todos os dias sofre os horrores tamanhos que vemos e os muitos mais que desconhecemos, ajoelho-me a pedir perdão, porque também não sei, nenhum de nós sabe, não temos sabido  --  aqui fechados na nossa cultura da exclusão, do esquecimento, da injustiça e do ódio  --  responder ao Menino Jesus que nos repete a pergunta que o Pai de todos já lançara a Caim: Que fizeste de teu irmão?

   Vivemos certamente, quer queiramos, quer não, tempos de interrogação e desafio, de medo e de angústia, de tímida misericórdia, e, afinal, de amor que nos aperta a garganta, quando em nós sentimos tolhidos os seus gestos, e a emudecer a sua vocação. Lembro-me do papa Francisco, que rompe o cerco de milícias cristãs, para ir rezar com muçulmanos... E do meu neto Tomás, menino de treze anos, que todos os dias, em Bruxelas, vai para o liceu, que polícias armados circundam, por medida de segurança. Mas que, neste fim de semana, foi com amigos fazer companhia aos sem abrigo da cidade... Quiçá, num ou noutro caso, por terem pensado, como o Menino Jesus, que os outros podem ser muito mais pobres do que nós.   

   Que a alegria da boa nova e o conforto dos corações humanos que nos cercam nos dêem coragem para mais um passo para a construção de uma casa para todos. E assim seja feliz o nosso Natal!
 

Camilo Martins de Oliveira