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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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ATORES, ENCENADORES - LVI

 

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FILIPE LA FÉRIA NUM LIVRO RECENTE

 

Retomo a evocação de atores/encenadores referidos no livro de José Eduardo Franco, Rosa Fina e Susana Alves-Jesus “Portugal Vencedor” (2015), já aqui citado. E desta vez, recorda-se a carreira de Filipe La Féria, que reponde a questões levantadas por José Eduardo Franco, Susana Alves Jesus e Florentino Bernardes Franco

Nesse contexto, o depoimento visa sobretudo a atuação de La Féria como encenador e diretor de companhias que foram, no seu conjunto, verdadeiros movimentos de renovação, tanto no aspeto de repertório como na inovação de elencos e espaços cénicos, na sua vocação e rentabilização teatral. Desde logo o Teatro Politeama, na sua tradição e representatividade cultural e até “arquitetónica – urbanística”, perdoe-se o chavão, neste caso bem justificável pela utilização, em espetáculos de plena modernidade, de um edifício relevante, projeto de Ventura Terra datado de 1912.

No Politeama foram estreados e representados, por vezes durante anos, êxitos de La Féria conciliadores da dramaticidade com a musicalidade: é a expressão acabada e quase inédita do teatro dramático- musical entre nós. Recorda-se especialmente “Amália” – seis anos em cena, sucessivas temporadas para um total de milhões de espetadores, com carreira internacional (“só em Paris tivemos 50 mil espetadores”, diz La Féria na entrevista) mas também musicais como “Maria Callas”, adaptações do “West Side Story”, “A Canção de Lisboa”, “Violino no Telhado”, ou “Jesus Cristo Superstar”, entre tantos mais…

Este sucesso, La Féria explica-o pela qualidade de cada espetáculo, mas também pela inovação e originalidade do estilo, numa conciliação de certa tradição dramático-musical com uma exuberante expressão renovadora do “musical”, em temporadas de meses ou anos do mesmo espetáculo, o que é raro entre nós como bem se sabe.

E simultaneamente Filipe La Féria evoca estreias de teatro declamado em salas de assumida vocação experimental, como a Casa da Comédia, onde permaneceu mais de 15 anos, ou o Teatro Estúdio de Lisboa, a Cornucópia ou o Teatro Experimental de Cascais, entre outros. E essa exigência de repertório no teatro declamado mantem-se até hoje, com recurso ainda a uma linha de peças infantojuvenis.

Mas o espetáculo que aqui quero destacar é a adaptação histórico-antológica do género de Revista (a chamada “Revista à Portuguesa”) realizada no Teatro Nacional de D. Maria II: “Passa por Mim no Rossio” (1990), em cena durante cerca de 3 anos.

Trata-se de uma antologia das grandes revistas portuguesas. E é caso para dizer que o espetáculo em si também foi antológico do melhor que se representava e representa em Portugal, em certos caso, felizmente até hoje – com um elenco que integrava artistas como Eunice Muñoz, Rui de Carvalho, Varela Silva…

Em diversas salas, designadamente no Politeama mas não só, encenou e realizou Filipe La Féria muitos dos grandes espetáculos da moderna dramaturgia musical ou com enredo ligado á musica. Cito o recente “Portugal à Gargalhada”.

Ora bem: para terminar, o depoimento de Amélia Rey Colaço sobre a estreia da peça “A Locomotiva” de André Roussin (Março de 1968):

“Nesta «Locomotiva» contracenei com várias pessoas que me honraram muito. À cabeça o Costinha de que gostei imenso (…) Outro foi este rapaz que agora já está com o seu nome feito, Filipe La Féria, que fazia o meu neto, que me dizem ser um encenador de muito mérito, tenho pena de não ver as encenações que ele faz”… (in ”O Veneno do Teatro ou Conversas com Amélia Rey Colaço” de Vitor Pavão dos Santos - 2015 – pág 226).

 

DUARTE IVO CRUZ