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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO

 

XXIII - POLÍTICAS LINGUÍSTICAS - I  

 

1. Da atitude dominante das soberanias europeias de considerar que “a língua é nossa”, para o conceito de “a língua também é nossa”, transitou-se de uma visão patrimonial da língua, para uma conceção não patrimonial, resultado da mestiçagem ou crioulização a que os idiomas estão sujeitos, convivendo com a corruptela decorrente do seu uso global, de tendência crescente à medida que aumenta a sua utilização mundial.

 

Esta mudança coexistiu com a ascensão do Direito Internacional Público e de organizações internacionais, pondo de lado a ideia tradicional de que os problemas da língua eram da responsabilidade das Academias, segundo a regra de que cada soberania transferia esses modelos para os territórios pelos quais era responsável.

 

Sustenta-se a necessidade de “… substituir essa sede das Academias, que têm uma herança ainda à luz de uma tradição colonial, por um instituto onde todos estivessem em pé de igualdade. Veio daí a ideia de um Instituto Internacional da Língua Portuguesa …, mas que, …, não tem funcionado. Tem uma debilidade equivalente à dos países da CPLP… Julgo que ambas as instituições correspondem a uma conceção mais atualizada do papel da relação das culturas e do papel da língua, mas não vejo que tenha sido assumido…porque ainda não foi assumido que o paradigma de relação entre as áreas culturais mudou desde meados do século passado” (Adriano Moreira, “A Língua Portuguesa: Presente e Futuro”, Fundação C. Gulbenkian, pág.ª 290). 

 

Defende-se um organismo onde estejam em pé de igualdade todos os Estados que têm como idioma comum a língua portuguesa, visando a definição e a prossecução de interesses comuns, ao arrepio da opinião de defensores puristas que advogam sistemas de imobilidade, proclamando uma estrita visão patrimonial da língua.

 

No caso português, uma política multicultural da língua portuguesa põe de lado o monocentrismo homogeneizador da norma metropolitana, dando lugar a um policentrismo baseado na variedade de fatores antropológicos, culturais, étnicos, geográficos, linguísticos, sociais, entre outros, daquilo que se designa por lusofonia. Neste espaço ou mundo lusófono, a língua portuguesa pertence de igual modo a todos os povos, países e Estados que a têm como língua materna, nativa, nacional, oficial ou comunicacional, nela se comunicando e expressando, falando-a, escrevendo-a e exportando-a. Dada a ausência de proprietários da língua, ninguém tem mordomias ou privilégios sobre ela.

 

Com consciência de que a língua portuguesa é uma questão estratégica de longo ou médio prazo, não só a nível de imagem externa, mas também de afirmação cultural dos seus países e comunidades falantes, além de, num contexto alargado, ser parte representativa de uma comunidade de mais de 200 milhões de pessoas.

 

É, ao mesmo tempo, uma visão estratégica para dar maior unidade e visibilidade aos seus falantes, não os subalternizando, mas direcionando-os para fazer frente à força concorrencial e globalizante de outros blocos  histórico-linguísticos, de aproximações  culturais e ideológicas que se associaram como comunidades com interesses convergentes, como a anglofonia, francofonia, hispanofonia, reavivando-se a germanofonia, após a queda do muro de Berlim, embora esta de localização europeia e não transcontinental.  

 

Enquadra-se, neste contexto, a criação de organizações como o Instituto de Alta Cultura (ICALP), o Instituto Camões, o British Council, a Alliance Française, o Instituto Cervantes, o Goethe Institut e o Instituto Confúcio, servindo não apenas para defesa das línguas a eles afetas, mas também para a sua difusão, expansão e exportação. 

 

21.02.2017
Joaquim Miguel De Morgado Patrício