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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CENTROS CULTURAIS POLIVALENTES

 

A Casa de Artes e Cultura do Tejo de Vila Velha de Ródão 

 

Temos referido a renovação e descentralização a nível nacional de centros de espetáculo e divulgação cultural em meios por vezes afastados das grandes áreas urbanas. São iniciativas muito meritórias, pois representam e dinamizam a descentralização cultural: e sobretudo acompanham e traduzem, no plano da cultura e do espetáculo, o desenvolvimento económico e a renovação infraestrutural do país, designadamente também no que significa no profissionalismo da atividade teatral. É de certo modo a desejável simbiose entre economia e cultura, ou, se quisermos, entre cultura e economia…

 

Acresce que esse movimento representa uma evolução daquilo que se processou, e aqui temos referido e estudado, a partir dos anos 40/50 do século passado, no que chamamos a geração dos cineteatros. Note-se que, em boa hora, esse movimento não acabou, quanto mais não seja pela conservação e atividade de tantos e tantos exemplos por esse país fora, de que aqui temos dado notícia.

 

É certo que a arquitetura, a economia e a sociologia do espetáculo mudou: hoje, são dominantes os cine-estúdios, tantos deles instalados na base de edifícios comerciais ou de habitação; tal como os centros culturais e museológicos polivalentes com salas de espetáculo, uns e outros nas zonas de expansão urbana. Mas o que importa é a existência e atividade em zonas antes menos acessíveis a essas atividades. O que também se liga à infraestrutura rodoviária e de comunicações: uma simbiose perfeita da economia e da cultura.

 

Exemplo notável deste movimento é a Casa de Artes e Cultura do Sul do Tejo, construída e dinamizada pela Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão, projeto dos arquitetos Henrique Barros Gomes e Pedro Hébil: e como já escrevemos, a própria localização geo-urbanística  assim, valoriza sobremaneira tanto o edifício em si, como a área urbana – e consequentemente, o público e até a perspetiva de ambiente cultural e artístico que lá se pratica.

 

Trata-se efetivamente de uma Casa da Cultura, com todas as implicações e com toda a heterogeneidade de atividades que a expressão envolve, e tanto mais meritória, neste caso concreto, quanto mais significativa é a dimensão urbana em que se inscreve.

 

Desde logo, pela qualidade e modernidade do projeto arquitetónico em si. E essa modernidade não colide com o ambiente urbano em que se insere. E mais: realça a pluralidade de manifestações culturais que comporta e  perspetiva-se numa harmonia que em nada colide com a tradição urbana envolvente. Insistimos neste aspeto, porque ele é de realçar, no contexto de uma zona urbana de dimensões comparativamente reduzidas e tradicionais. Pois a Casa da Cultura contrasta pela modernidade mas integra-se no urbanismo tradicional.

 

E mais: a estrutura arquitetónica valoriza a sua própria implantação urbana e paisagística. O edifício marca pela presença dominante do Tejo, através da acessibilidade visual: um edifício de teatro, uma biblioteca e uma sala de exposições arquitetonicamente revestido de grandes janelas que trazem o Tejo para junto dos espetadores, permita-se a expressão.

 

A sala principal tem mais de 200 lugares e o edifício comporta ainda salas adaptáveis a menores lotações e a espetáculos de câmara, chamemos-lhes assim numa terminologia tradicional. Recorde-se que este Centro se chama Casa de Artes e Cultura do Tejo. Nesse sentido cito em parte o que noutra ocasião escrevi:

 

O que mais impressiona o visitante é a presença dominante do próprio Tejo, através de janelas que conferem ao conjunto uma visão “cenográfica”, tanto nas salas do interior como na possível instalação de público no exterior. Esta implantação no excecional ambiente paisagístico, valorizando a perspetiva do Tejo, dá uma utilização muito moderna aos materiais e mesmo aos processos de construção tradicionais.

 

E refira-se finamente o que significa esta modernidade harmonizada, num aglomerado que até há não muitos anos surgia “encravado” no interior do País. A pluralidade cultural da Casa das Artes é também por isso merecedora de citação, pelo que constitui em si mesma e pelo que significa.

 

DUARTE IVO CRUZ