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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LONDON LETTERS

 

The End of The Affair, 2017-19

 

Et voilá! Brexit begins with the Springtime. A coreografia diplomática é singela. RH Theresa May aciona o Article 50 do Treaty of Lisbon e inicia a contagem

decrescente para a saída programada do United Kingdom da European Union, a 29 March 2019, com ou sem acordo sobre os laços comerciais. Começa também um outro futuro para o projeto europeu e o papel da EU no mundo. O momento é de refundação para o clube dos estados continentais, mas decisões só as haverá depois das eleições outonais em Germany. Para o UK, faltam 717 dias de navegação até oceano aberto. — Chérie. Goûts et couleurs ne se discutent pas. A Prime Minister visita o Arabian Gulf para conversações de trade & defense. Na mala leva um cheque de £1,2b para apoio local aos refugiados sírios. — Hmm. Do not be wise in words, be wise in deeds. O terror jihadista ataca de St Petersburg a Stockholm. O US President DJ Trump lança ataque punitivo na Syria, recebe o líder egípcio Abdel-Fattah el-Sissi e dá uma entrevista ao FT de leitura forçosa para aferir da agenda geopolítica da superpotência. A corrida ao Élysée soma sinais do êxito no desenho do sistema eleitoral: produzir um decisor centrista. O Prince Charles of Wales prepara an European charm tour. Nas ilhas, Northern Ireland persiste no limbo governamental e Scotland vota pelo IndyRef2. O Labour Party continua em queda livre, com perdas estimadas de 125 lugares nas eleições locais de May a favor dos Liberal Democrats e dos Conservatives.

 



Lovely weather at Central London. Duas damas agitam a domesticidade de Westminster Village, que hoje diz adeus ao herói da Metropolitan Police caído nos Palace Gates. Um cordão de polícias saúda PC Keith Palmer, uma das cinco vítimas do atentado terrorista, em público cortejo fúnebre ao longo de quase três milhas. A envolvente do Big Ben é agora de mais apertada segurança, quando a Scotland Yard tem a first female chief nos 188 anos da instituição: Met Commissioner Cressida Dick. No ar anda algo de feminil, não obstante o ‘empate’ na 2017 Oxbridge Boat Race: os remadores de Oxford University vencem a corrida, mas, no drama da deteção-remoção de uma WWII bomb nas águas da partida em Putney, são as azuis-claro de Cambridge a ganhar a palma do Thames River. Mais há, todavia. Após a histórica assinatura pela Prime Minister May da carta entregue ao European Council President Donald Tusk em Brussels, pelo Ambassor Tim Barrow, seis páginas timbradas a anunciar a retirada do UK da EU, eis nova rosa nos anais da coroa e na mística geografia local. O verde das Houses of Parliament vai acolher uma estátua da líder das Suffragists, Dame Millicent Garrett Fawcett (1847-1929).

 

Abrigada de ocasionais chuviscos por peripécias de saúde, a lava das notícias é ainda avassaladora e quase ofusca este acontecimento maior.

Se o rufar das eleições para os councils segue em fundo, com visíveis desafios para o Labour e o Ukip enquanto a Brexit abunda em red lines e ameaça turbulência nos céus de Gibraltar, é a canonização política da senhora quem cativa o olhar – tanto pela decisão quanto pelo espaço. Dame Fawcett é a pacífica presidente da National Union of Women’s  Suffrage Societies, fundada em 1897 a fim de aliar as reivindicações do sufrágio feminino que há 30 anos ecoavam pela sociedade vitoriana. O movimento distingue-se das Suffragettes pelo método diplomático, sempre a sua líder valorizando a persuasão em contraponto ao protesto advogado, desde 1903, pelo grupo radical de Mrs Emmeline Pankhurst. Na preparação do centenário do voto das mulheres no UK decide HM Government homenagear a sufragista nascida em Suffolk, que fez do No. 2 de Gower Street domicílio das insistentes petições aos azoratados MPs que, em 1918, finalmente acedem à paridade. A first woman to be honoured with a statue in Parliament Square alinhará com o moderno bronze de Lady Margaret Thatcher no Members' Lobby do Palace of Westminster e erguer-se-á no jardim exterior entre os pedestais de Winston Churchill, David Lloyd George, Viscount Palmerston, Earl of Derby, Benjamin Disraeli, Robert Peel, George Canning ou Abraham Lincoln, Nelson Mandela e Mahatma Gandhi.

 

Por terras que rezam a Allah intervém já a PM, vigorosamente, em polémica da Christian Easter. Na anual caça aos ovos do National Trust ao longo do reino desaparecem as referências pascais na promoção do evento, para espanto até do good Archbishop of York Dr John Sentamu. O avanço secularista logo é etiquetado por Mrs May de… “ridiculous.” No cenário de uma próxima disputa com Spain por causa de Gibraltar, incluído por Madrid e Brussels nas euronegociações, a reação de uma senhora com cabelos prateados ao vento em solo jordano e saudita é ainda mais explícita: uma sonora gargalhada. Não é para menos, ou diferente. Muitas vezes ao longo do debate europeu lutei com a ideia de incredulidade, face aos espantalhos da crise financeira e do conflito armado, mas há ainda lugar para surpresas. Na espuma final do EUref2 dos últimos 9 meses, pasmo com declarações de Lord Heiseltine a atribuir à Other Union a revolução contra o fascismo em Portugal ou quando agora Lord Fallon declara que o UK defenderá The Rock tal como valeu às Falklands. Os excessos sempre comovem. Afinal, the words that we use form our worldview.

 

Quando as chancelarias engendram fórmulas de pressão sobre Moscow devido a Damascus e Beijing por causa da North Korea, nota comemorativa para os 35 anos do fantástico Blade Runner. A masterpiece de Mr Ridley Scott apura no tempo quanto Do Androids Dream of Electric Sheep? de Mr Philip K Dick prova nas areias da distância. Uma e outra obra possuem génese reveladora. O cineasta desenvolve as aventuras protagonizadas por Mr Harrison Ford quando filma Dune e o universo ficcional de Mr Frank Herbert. O escritor concebe a ideia do humano sintético ao ler num jornal Nazi ensonadas queixas de um oficial SS pelos gritos num campo de concentração. — Well. Keep in mind those strident thoughts that Master Will puts among the silent humanity in Hamlet: — “There is nothing either good or bad, but thinking makes it so."

 

St James, 10th April 2017

Very sincerely yours,

V.