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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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O OITOCENTISTA TEATRO AVEIRENSE

 

Temos referido nesta série de artigos numerosos casos de alteração/transformação de edifícios de espetáculo que se adaptam a novas necessidades e expressões urbanísticas e culturais, mantendo entretanto uma raiz arquitetónica e funcional. E de facto, mesmo os mais antigos, como o São Carlos, inaugurado em 1793 ou o D. Maria II, inaugurado em 1843, e que efetivamente são os mais “fieis” ao projeto inicial, mesmo assim, como aliás temos visto aqui, foram objeto de alterações e “modernizações” diversas. E isto, sem referir as constantes alterações daquilo a que chamamos a geração dos cineteatros.

 

Este processo tem muito a ver, obviamente, com a expansão e transformação urbana dado que esses antigos edifícios de espetáculo se situam sistematicamente em zonas de centralidade: e também tem a ver obviamente com a evolução cultural. Basta lembrar, como aliás aqui temos referido, a instalação de salas de espetáculo chamadas “de bolso”, normalmente cinemas mas também teatros nos espaços de garagem, cave e rés do chão de grandes edifícios comerciais ou de habitação.

 

Ora bem: o que hoje nos ocupa é a “transformação” secular, podemos dizê-lo, do velho Teatro Aveirense, inaugurado em 6 de março de 1881, no atual Teatro Aveirense, este datado dos anos 40 do século passado e reinaugurado, nas sua nova versão, exatamente em 1949. Mas mais: o projeto inicial do Teatro Aveirense dataria de 1854, para substituir um pequeno Teatro dos Artistas Aveirenses ainda mais antigo.  Só que essa primeira versão arquitetónica do Aveirense levou 27 anos a concretizar.

 

A sala inicial foi projetada pelo arquiteto Araújo Silva. Mas só em 1878 a Câmara criou uma Sociedade Construtora e Administrativa do Teatro Aveirense. E a inauguração realiza-se como vimos em 1881, com um espetáculo da Companhia do Teatro de D. Maria II, já na altura uma sala referencial.

 

 Esta primeira versão do Teatro Aveirense tinha, além da plateia, 14 frisas, 19 camarotes de primeira ordem, 5 de 2ª ordem, balcão, geral e galeria. Típico dos teatros da época, como aliás as gravuras da fachada bem documentam: o Theatro Aveirense ostentava três portas principais em arco, encimadas por três varandas e por um frontão e mais duas portas laterais também em arco e também encimadas por janelas.

 

E por lá passaram as grandes companhias da época: de Rosas e Brazão, de Ciríaco Cardoso, Sousa Bastos, Alves Rente, José Ricardo, Taveira…

 

Em 1949, o Aveirense elimina os camarotes e cria no interior um relevante salão nobre. A fachada foi também alterada, eliminando-se o frontão. Em 1950, celebra um acordo de exploração com a outra grande sala de espetáculos da época o Cine-Teatro Avenida. Vão articulando as atividades por forma a garantir, no contexto da época, uma atividade Mais complementar do que concorrencial. Progressivamente, o Teatro Aveirense concentra a sua atividade no teatro e na musica.

 

Até que em 1992 o Aveirense encerrou e assim se manteve até 1998. Em boa hora, a Câmara Municipal assume o controlo da exploração, “resistindo” às pressões que certamente se fizeram sentir para a demolição, como tanta vez ocorre, hoje menos é certo, nestas salas de espetáculo antigas, semiabandonadas por vezes, situadas em pelo centro urbano e como tal muito valorizadas.

 

A Câmara assume pois o controlo total do edifício em 1998. Procede a obras de transformação e restauro segundo projeto do Arquiteto João Carreira. O teatro reabre em 2003.  Renovou-se a sala, com lotação de 623 lugares. E equipou-se devidamente toda a estrutura do palco e da cena. Modernizou*-se o fosso de orquestra e a tecnologia de cena criou-se uma sala-estúdio no último piso. O salão nobre comporta hoje 120 espetadores e serve também de galeria de exposições.

 

Por esse país fora, encontram-se cinemas e cineteatros, abandonados que merecem, por todas as razões, a recuperação. Aqui vamos dando notícia de muitos deles. E neste caso do teatro Aveirense, há que referir esta obra de recuperação e esta atividade cultural decorrente…

 

DUARTE IVO CRUZ