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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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LONDON LETTERS

 

Red Tories vs Cherry Labourites, June 8, 2017

 

Et voilà! Eis o baptismo dos nóveis Red Tories. Os Conservatives liderados por RH Theresa May avançam com leque de propostas eleitorais claramente concebidas para captar o voto trabalhador, entre as quais uma a licença sabática para cuidar da família e casas sociais para alugar ou comprar. “Our plans will be the greatest expansion in workers’ rights by any Conservative government in history,” declara a Prime Minister. Já o Labour de RH Jeremy Corbyn ultima um manifesto radical contra o austeritarismo, esgrimindo com o “Robin Hood Tax” no meio de iniludível guerra civil. — Chérie. Il ne faut pas se fier aux apparences. Fontes bem informadas radicam na North Korea a origem do mais recente ataque do terrorismo informático global. O NHS é um dos alvos atingidos pelo pedido de resgate de dados. — Well. A penny saved is a penny earned. O casamento da irmã da Duchess of Cambridge disputa as atenções da semana. O President Emmanuel Macron toma posse em Paris em estilo imperial e ocupa-se com a terceira ida a votos, agora para o parlamento, com o seu La République En Marche. Washington vibra com o despedimento presidencial do diretor do FBI e pasma com a notícia de o POUS DJ Trump ter revelado informação sensível sobre o Isis a uma delegação diplomática russa. Happy Valley triunfa nos 2017 BAFTA.

 

Long days with late sunsets at London. Questiono-me quanto o eleitor médio absorverá da cornucópia dos ‘compromissos eleitorais’ diariamente formulados pelos partidos de Westminster? A bandeira de ontem em torno do fim das propinas esfuma-se com o hastear hoje de mão pesada contra a evasão fiscal ou a descriminalização das drogas e afins, tudo entremeado deste ou daquele episódio colorido no trilho da persuasão pelo reino. A abundância é tanta que sobrevém a imagem de cada qual prometendo o seu unicórnio junto a uma magic money tree. É milhões para aqui, biliões para ali, algures entrando os números em série longa de car-crash interviews quando os jornalistas perguntam aos políticos desprevenidos os sacros quanto custa? ou quem paga? Também os (anti) social media estão ao rubro, no séquito do ataque às caixas de correio eletrónico. Temo até que a hiperinformação esteja a mobilizar… os abstencionistas.

 

As sondagens persistem na vantagem folgada dos Tories, na gama dos 20%, mas o Labour Party resiste com a claque da Hard-Left militante face à moderação dos Liberal Democrats, enquanto o SNP mantém e o Ukip desliza. Soa a ouvido nu a metralha de mensagens dirigidas pelas várias máquinas partidárias aos eleitorados tribais como contraponto à estratégia centrista conservadora de colher à esquerda e à direita. Aumenta a incógnita quanto ao feixe de efeitos nos indecisos, a somar à clivagem da Brexit. Outros indícios chegam da impetuosa jornada da General Election 2017, o quarto sufrágio em pouco mais de dois anos. Um tweet vindo do terreno atrai o olhar, por si só sintomático e sobremaneira revelador pelo seu autor. Mr Dennis MacShane. O que diz este antigo Labour MP? “Canvassing in S London Labour seat and every 2nd house it was Jeremy. Never heard such hostility in 4 decades.” Prenúncio do espetro da derrota trabalhista de 1983? Se o cenário do imenso triunfo de Lady Thatcher contra RH Michael Foot tem ainda de ser sufragado, a June 8, inequívoco é que o combate pela sucessão de Jezza está em combustão. Faltam 24 dias para o exame da ballot box.

 

Mudemos de agulha. King Charles III é o título de uma peça de teatro escrita por Mr Mike Bartlett, que viajou da Broadway para West End até aterrar agora na BBC Two. Visionei finalmente a versão televisiva, dirigida por Mr Rupert Goold, o experiente diretor do Almeida Theater, em London, onde o drama do newly crowned king amealhou na bilheteira. Fiquei com mix feelings após os 90 minutos iniciados com os corais góticos de um funeral real, mas sobretudo com desejo de rever a alternativa visão imaginada por Lord Dobbs no original da House of Cards. A estória é credível, porque possível. Todavia, há algo de perturbador naquele “At last” ouvido na abertura! Não querendo quebrar o suspense de um must-see, este é um inventado UK pós Elizabeth II. O enredo roda em torno da família real, centrada nas linhas de acesso ao trono, e ainda nas ambições que o autor coloca em torrente tanto nos palácios como nas ruas, à mistura com um Red Prime Minister cedo em choque com dilemático (e assombrado) herdeiro. Advém uma crise constitucional. A cadência das palavras e o recorte das personagens são shakespearianos, há poder e há cilada, confluindo numa Lady Macbeth os des/encontros de coroa multicultural. A adaptação é tributária dos palcos e de elenco dominado pelo notável Mr Tim Pigott-Smith. A estrela de Dowton Abbey, falecido em April, tem desempenho maior no seu último papel. E é ele e os princípios do protagonista que salvam o ensaiado futuro imperfeito. — Mm. Learn by heart how Master Will distinguish Henry The Fouth in an unquiet reign: — “Uneasy lies the head that wears a crown."

 

St James, 15th May 2017

Very sincerely yours,

V.