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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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O TEATRO FAIALENSE E A SOCIEDADE AMOR DA PÁTRIA

 

EVOCAÇÃO DE TEATROS DOS AÇORES – III 

 

Nesta evocação de teatros dos Açores, que visitamos e referenciamos em livros sucessivos sobre o património português de arquitetura de espetáculo, referiremos hoje dois exemplos de boa arquitetura mas, sobretudo, de descentralização cultural, vinda de tempos e épocas em que deslocar uma companhia teatral ou uma orquestra para os Açores não era fácil. E o mesmo se dirá da própria projeção arquitetónica dos edifícios, alguns do século XIX, outros mais recentes: e muitos deles de qualidade indiscutível.

 

A cidade da Horta, no Faial, dá-nos pelo menos dois exemplos dessa qualidade e modernidade epocal e permanente.

 

O Teatro Faialense, na Horta, consagrou uma tradição que vem pelo menos de meados do século XIX, com a edificação, em 1856, de um entretanto desaparecido Teatro da União Faialense. Este seria demolido nos anos 10 do século passado, para edificação, no mesmo local, do Teatro Faialense.

 

Trata-se de um belo exemplar de arquitetura de teatro, sobretudo na estrutura, que se mantém, com camarotes que marcam, efetivamente um estilo e merecem uma conservação tantas e tantas vezes descurada… É certo que o camarote, como tal, pode dificultar a visão do palco e sobretudo do ecrã de cinema, nas salas que, a partir dos anos 20 do século XX, foram adaptadas à exploração cinematográfica, sofrendo adaptações, quando não a demolição pura e simples: não faltam exemplos.

 

 Porém, repetimos, do ponto de visita arquitetónico, as salas e edifícios mais antigos representam um fator de indiscutível qualidade.

 

A primeira vez que visitei o Teatro Faialense foi num período de menor atividade da sala. No que se refere ao historial recente, Márcia Dutra informa que o Teatro funcionou até 1980, tendo sido municipalizado e reaberto em 2003, e beneficiando de obras de restauro dirigidas pelo Arquiteto José Lamas, que manteve a estrutura do edifício e da própria sala.

 

 Mas houve uma intervenção global de restauro e modernização: tal como refere Márcia Dutra, o edifico “beneficiou de uma nova caixa de palco, um auditório e um centro de conferências” alem da renovação da infraestrutura de serviços. E mais: no teto da sala de espetáculos “exibe-se uma nova pintura contemporânea, alusiva à musica, do artista plástico açoriano Nuno da Câmara Pereira” (cfr. “Teatro Faialense” in “Portugal Património” ed. Circulo de Leitores  2006 –vol. X  pág. 40).

 

E nesta crónica dedicada a salas de espetáculo na Horta, é oportuno referir a Sociedade Amor da Pátria, inaugurada em 1934, e que aqui já evoquei, a propósito dos teatros e cineteatros do Arquiteto Norte Júnior: destaquei a fachada dominada por elementos decorativos e heráldicos, típicos de uma época e de uma estética e que, nesse aspeto, contrasta com a ortodoxia do Teatro Faialense.

 

Citei então uma referência de José Sarmento de Matos, a propósito do velho Cineteatro Carlos Manuel de Sintra, hoje Centro Cultural Olga Cadaval, também segundo projeto inicial de Norte Júnior: “neste seu desenho sintrense (Norte Júnior) não levou até às ultimas consequências a conjugação do espírito imaginativo com bom gosto que deixou bem vincado no magnífico edifício afim da Sociedade Amor da Pátria na Horta, Açores” (cfr. “Teatros em Portugal-Espaços e Arquitetura” ed. CNC e Mediatexto  2008 pág. 64).

 

O que só por si mostra a qualidade do património da cidade da Horta, na Ilha do Faial.

  

 

DUARTE IVO CRUZ