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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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AS ARTES E O PROCESSO CRIATIVO

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      XXXI - IDADE MÉDIA

 

Platão interpretava o mundo terreno, em que vivemos, como uma cópia grosseira, imperfeita, findável, deteriorável, transitória e mortal de outro mundo eterno, de beleza e perfeição: o mundo das ideias. Este mundo ideal ajustava-se com a ideia de céu, de paraíso, com a criação divina, sendo esta entendida, de certo modo, como a concretização material das ideias de Deus.

 

A obra deste filósofo grego influenciou decisivamente a filosofia cristã de Santo Agostinho e de outros mentores da Igreja, em que os crentes aspiram a um mundo de bem, beleza, eternidade e perfeição.

 

Aristóteles, ao invés de Platão, defendia que a beleza, a perfeição e outras ideias superiores se encontram neste mundo, podendo nele ser criadas por uma observação e experiência atenta e inteligente.

 

Influenciou grandes nomes como São Tomás de Aquino e Alberto Magno, que adaptaram a sua doutrina aos ensinamentos bíblicos, passando a ser conhecido por escolástico o ensino aristotélico, oficialmente aceite pela Igreja.

 

Fosse a opção filosófica mais abstrata e adequada a desviar da terra a atenção humana (platónica) ou mais ligada ao concreto, observação e experimentação (aristotélica), a igreja era o centro nuclear da vida de relação das pessoas e o lugar onde todas as populações medievais confluíam, mesmo quando surgiram as primeiras manifestações humanistas abrindo caminho para o Renascimento.

 

A arte em geral, quer numa perspetiva platónica ou aristotélica, era uma imitação ou representação, e mesmo se tida como engano ou uma saudável mentira, tinha por base o teocentrismo, a teocracia ou governo de Deus, tendo Deus como o centro de tudo.

 

Natural e lógico que na história, literatura, teatro, arquitetura, escultura, pintura e artes tidas como menores, a religião se entrelaçasse à vida, emoções e sentimentos das pessoas, com as cruzadas, temas de inspiração religiosa (milagres, mistérios, vida de santos), catedrais românicas, góticas, escultura e pintura religiosa, cuja missão era transmitir ao público analfabeto e inculto os dogmas e verdades da fé, em que baixos-relevos, frescos e vitrais eram “A Bíblia dos que não sabem ler”

 

Há uma exaltação e glorificação do sagrado, do divino, ora convidando ao intimismo, recolhimento e à prece do românico, ou à alegria e otimismo do gótico.

 

Na pintura plana medieval, de inspiração cristã, contemplação, celebração e louvor do divino, as coisas apresentam-se à mesma distância do observador, de modo uniforme, em largura e altura, em duas dimensões, sem profundidade e sem as leis da perspetiva.

 

A Virgem com o Menino Jesus, rodeada de Anjos, de Cimabue, do século XIII, é um exemplo, em que sobressai como fundo uma superfície dourada e uniforme.

 

Também a pintura medieval das igrejas ortodoxas são exemplos representativos.

 

26.12.2017

Joaquim Miguel De Morgado Patrício