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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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AS ARTES E O PROCESSO CRIATIVO

 

XXXII - RENASCIMENTO - I

 

À volta de 1500 surge um movimento literário, artístico e científico herdeiro e continuador da Idade Média, mas que, ao mesmo tempo, a repudia, ao querer fazer renascer o mundo antigo, em especial a antiguidade clássica da Grécia e de Roma. Imita-se, em primeiro lugar, os gregos e os romanos, criando depois o homem ideal do renascimento: cosmopolita, universal, completo, perfeito, a mais bela criatura divina, obra suprema de Deus, o melhor na filosofia, nas letras, na ciência, nas artes em geral, admirado, famoso, poderoso e rico.   

 

Transita-se do teocentrismo dominante na Idade Média, em que Deus é o centro omnipresente e total, para o antropocentrismo, que atribui ao indivíduo uma posição de centralidade em relação a todo o universo.

 

O humanismo, que etimologicamente significa culto, civilizado, foi um fator decisivo e influenciador do Renascimento, prestando tributo às letras, belas artes e ciência, ao estudo dos problemas de que o ser humano é o centro, reabilitando a antiguidade grega e latina, pensadores e filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles, escritores como Homero, Cícero e Virgílio, nomes como Ovídio, Suetónio e Tito Lívio, sem esquecer a época de Péricles (Grécia) e de Augusto (Roma).

 

Foi em Itália, pátria da antiga civilização romana, que surgiu o movimento humanista, florescendo em Florença, Génova, Milão, Pádua, Pisa, Roma e Veneza, tendo como precursores Dante, Petrarca e Bocácio, contagiando as elites, governantes, desde papas, príncipes, banqueiros, senhores da guerra e da paz, riqueza e poder, detentores do poder espiritual e temporal, surgindo novos mecenas, protetores das letras, artes e ciência.

 

Cria-se uma união entre o espírito religioso e a curiosidade profana, com o reabilitar, por um lado, da cultura e herança mitológica greco-latina, até então tidas como pagãs e opostas ao cristianismo, e, por outro, com o redescobrir das ciências exatas, experimentais e naturais, bem como de disciplinas esotéricas, como a alquimia e a astrologia.   

 

Homens da Igreja, como S. Bernardo e S. Tomás de Aquino, tendo estudado e lido literatos e poetas da antiguidade clássica, procuraram integrar o humanismo no cristianismo. O mesmo sucedeu com os monges, nos conventos, ao copiarem obras famosas da antiguidade, salvando-as do esquecimento. 

 

A corrente humanista dissemina-se em visões diferentes. Para os que admiram Platão, sendo o mundo terreno uma rude cópia de um outro verdadeiro e eterno, veem no seu mentor um antecessor de Cristo e no seu pensamento um meio do ser humano se elevar até Deus. O amor humano era uma faísca do divino. A inteligência humana uma fagulha da divina. Os mortais, uma imperfeição da perfeição divina. O culto do amor, da beleza, da bondade, da justiça e da razão, feito pelos autores clássicos, como Platão, aproximava o humano do sagrado e do cristianismo. Tomás Moro, na sua Utopia, inspira-se em Platão, ao imaginar uma sociedade ideal, perfeita, numa ilha longínqua que não existe em lado algum.

 

Outros depuraram e cristianizaram a doutrina de Aristóteles, transformando o ensino em habilidosos raciocínios fundados em silogismos, sem abertura para novos voos que o humanismo explorava. Outros ainda, como Maquiavel, baseado na história de Roma e na Política de Aristóteles, escreve O Príncipe, em que razões de Estado justificam os meios para atingir os fins.

 

Mas surgiriam academias e colégios subsidiados por príncipes, reis e mecenas, onde tudo era debatido, ultrapassando a tradicional escolástica universitária, em que a ciência evoluiria a par da evolução filosófica, sendo Leonardo da Vinci tido como o seu máximo representante.

 

02.01.2018
Joaquim Miguel De Morgado Patrício