OS TEATROS DE LISBOA EM 1875 - III
O TEATRO DA TRINDADE
Temos aqui referido o livro de Júlio Cesar Machado, intitulado “Os Theatros de Lisboa”, com ilustrações de Rafael Bordalo Pinheiro e dedicado aos principais teatros de Lisboa, ou como tal considerados pelos autores dos textos e das ilustrações, a saber, o S. Carlos, o D. Maria e o Trindade, assim mesmo designados e ilustrados. Referimos já os dois primeiros e hoje analisaremos o terceiro.
Como bem sabemos, o Teatro da Trindade era na época da edição o de mais recente atividade, pois estreou em 1867 e o livro é publicado em 1875, o que, nesse tempo seria considerado muitíssimo mais recente do que hoje...
Júlio César Machado assume essa “modernidade”. Escreve:
“Até hoje, não se sabe como e nunca poderá saber-se, mas a verdade obriga-nos a confessar que o teatro lá se aguenta como uma verdadeira novidade para Portugal, um teatro à francesa, uma bombonnière (sic) que alcançou, graças ao balcão, que enfim se pudesse admirar no teatro o vestuário das senhoras”.
E descreve o Teatro:
“De aspeto geral vistoso, elegante, conhece-se que se pensou em tudo, e até as cadeiras são de assento movediço. E chegaram a ter o que quer que fosse para segurar o chapéu, inovação adorável porque de todas as pequenas misérias que podem levar um homem de bem ao suicídio, não consta de outra mais irritante do que o embaraço que produz durante uma récita inteira este zabumbinha (sic) que uma pessoa ora põe ao peito, ora abaixo dos pés, e que apesar de todas as cautelas sai sempre o teatro amolgado, acochichado, arrepiado!” assim mesmo...
Fazemos esta transcrição porque nela encontramos como que um certo distanciamento irónico relativamente a um teatro na época muito moderno. E no entanto, a enumeração que Júlio César Machado faz em seguida dos elencos do Trindade, mesmo mantendo o tom irónico, confirma a qualidade e o prestígio que, logo nos primeiros anos de atividade, o Teatro da Trindade alcançou no meio social e artístico.
São nomes que na época constituíam o melhor o mais prestigioso elenco dos teatros portuguese. E os comentários de Júlio César Machado e as ilustrações de Rafael Bordalo Pinheiro amplamente documentam o prestígio que o Teatro da Trindade desde logo alcançou.
Rosa Damasceno, Ana Pereira, Delfina, Virgínia, Leoni, João Rosa, Augusto Rosa, Brazão, Cunha Moniz, formavam um elenco realmente prestigioso: e o que chegou até nós comprova esse prestígio na época.
Prestígio também de Francisco Palha, que tomou a iniciativa de contruir o teatro da Trindade. Júlio César Machado, apesar da ironia que caracteriza todas estas descrições, não poupa elogios. Eis como refere Francisco Palha:
“Homem inteligente e ativo, de acordo com uma companhia de acionistas - que são simplesmente os primeiros negociantes do país, à exceção de um que o não é, mas que me dizem não ser completamente desprovido de posses, o sr. Duque de Palmela- lograssem edificar um teatro com pedra, cal, madeira e outras exuberâncias, não se podia acreditar que semelhante coisa conseguisse ir por diante...”
Mas foi, e dura até hoje, como aqui temos referido.
DUARTE IVO CRUZ