REFERÊNCIAS A UM TEATRO DESAPARECIDO – SALVATERRA DE MAGOS (I)
Os estudos sobre as infraestruturas dos teatros em Portugal oferecem algum paradoxo a nível da relevância ainda hoje atribuída a projetos e edifícios que tiveram a sua época, deixaram memória e descrição de maior ou menor detalhe e relevância, mas entretanto desapareceram.
Exemplo flagrante dessa situação é o Real Teatro de Ópera de Salvaterra de Magos, hoje totalmente desaparecido.
Trata-se de um projeto do arquiteto Giovanni Carlo Bibiena, nome referencial da arquitetura portuguesa de espetáculo no século XVIII, trazido de Itália pelo rei D. José antes do terramoto de 1755. Aqui ficou até à sua morte em 1760, e a ele se devem projetos de reconstrução de edifícios e teatros régios, designadamente o teatro que funcionou ligado ao Palácio da Ajuda.
E deve-se-lhe também o Real Teatro de Ópera de Salvaterra de Magos, justificável pela permanência da Corte, que para ali se deslocava no início de cada ano. E o Real Teatro é assim inaugurado em 21 de janeiro de 1753, com a ópera “Didione e Eneida” de David Perez. E prosseguiu na época uma atividade operística com destaque para compositores sobretudo italianos: citam-se designadamente óperas de Jomelli, Paesiello, Cimarosa e outros.
Luciano Reis, no estudo sobre “Teatros Portugueses” (ed. Sete Caminhos 2005) regista que “o gosto de D. José pela ópera levou-o a que mandasse construir em Salvaterra de Magos um teatro, a fim de o mesmo satisfazer o seu gosto favorito quando a corte sediava naquela vila e onde todos os anos pelo Entrudo, permanecia, pelo menos de meados de janeiro até finais de fevereiro”. (pág. 50)
José Rodrigues Gameiro, em livro editado pela Câmara Municipal de Salvaterra de Magos (3ª ed. 2014), transcreve referências ao teatro, contidas num estudo de José Manuel da Silva Correia e Natália Correia Guedes, intitulado precisamente “O Paço Real de Salvaterra de Magos”:
“A sala de espetáculos de Salvaterra tem uma lotação de 500 pessoas: tem três filas de camarotes de primeira (três camarotes de cada lado); ao fundo, um anfiteatro com uma galeria que prolonga de cada lado os primeiros camarotes.
Este anfiteatro está coberto com um reposteiro franjado apoiado em pilares como uma tenda; neste se situa o lugar do Rei que se senta num cadeirão. (...) Os ministros do Rei estão sentados na plateia com os fidalgos sem distinção de categoria. A orquestra tem cerca de 25 a 30 instrumentos”.
Por seu lado, Aline Gallash-Hall de Beuvink, em texto intitulado “O Palácio de Salvaterra de Magos e a sua Iconografia”, publicado em “Magos – Revista Cultural do Concelho de Salvaterra de Magos” (nº 2 - 2015) publica um desenho até então inédito de Carlos Mardel conservado na biblioteca Nacional do Rio de Janeiro com uma legenda identificadora do ”Theatro”.
E veremos as referências que Gustavo de Matos Sequeira, no seu relevante livro Intitulado precisamente “Teatros de Outros Tempos” (1933) dedica ao Teatro de Salvaterra de Magos.
DUARTE IVO CRUZ
Nota: A imagem do Paço Real de Salvaterra, foi retirada do blogue
http://cmsm-paco-real-salvaterrademagos.blogspot.pt/