Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

A FORÇA DO ATO CRIADOR

 

Ainda acerca de Blinky Palermo.

 

'Seeing, some distance away in the margin of my visual field, a large moving shadow, I look in that direction and the phantasm shrinks and takes up its due place; it was simply a fly near my eye.', Merleau-Ponty In 'The infinite line’, de Briony Fer (2004)

 

No trabalho de Blinky Palermo, tal como no trabalho de Barnett Newman, existe uma enorme vontade em fazer com que o espectador faça parte da obra. Ao criar as grandes superfícies de cor, Newman convida constantemente o fruidor a fazer parte e a ser absorvido pela tela. Palermo também o faz mas, tal como foi visto a semana passada, fragmentando a cor e por isso fazendo com que ela faça parte do espaço em que está inserida.

 

Palermo, ao contrário de Newman, parte realidade aos bocados. Newman constrói uma totalidade, um campo completo (mas limitado) pictórico. As pinturas de Palermo seriam quase impercetíveis (bocados pintados de parede, pequenos triângulos aqui e ali), se não fosse pelo uso da cor no seu estado mais primário. 

 

Palermo usa constantemente objetos encontrados - não se refere à habitual norma, em que o artista transforma elementos pictórios em objetos. Jã são objetos antes de serem manipulados e trabalhados - são sim coisas pintadas, embrulhadas ou espaços reativados. O trabalho de Palermo, relativiza assim as diferenças que existem entre a pintura, a escultura, a imagem e o objeto.

 

Segundo Briony Fer, as formas espalhadas de Palermo, reconfiguram, por isso e por completo, toda e qualquer noção de assemblagem. As conhecidas colagens de Schwitters põe a nu a coleção de bocados familiares de papéis, jornais, anúncios. Palermo encontra e coleciona também. Mas sobretudo transforma, atua, cobre e pinta. O pictórico dessassocia-se então completamente da ideia de pura pintura, porque é matéria palpável, gratuita e efémera.

 

'Butterfly II' consiste em duas peças de madeira encontradas com formas irregulares - existe um tecido que as embrulha e quinta que as cobre (preto e vermelho nas faces laterais).  A forma é dada, encontrada e um mero acaso mas é também ao mesmo tempo fabricada - há uma ação nova sobre a forma  e a disposição existente que a faz mudar de contexto e de significado. 

 

Ana Ruepp