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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A FORÇA DO ATO CRIADOR

A força do Ato Criador.jpg

 

   A importância do desconhecido no processo criativo.

 

'Unknowing needs that a man be in a certain state of grace (...) not at all as children are but rather as fools or saints.', P. L. Travers, 'On Unknowing'

 

O homem ao criar estabelece uma permanente relação com o Desconhecido. 

No texto 'On Unknowing' que P. L. Travers escreveu para a revista 'Parabola' (1985) lê-se que a importância daquilo que se desconhece, acompanha o homem desde o seu nascimento e concretiza-se na sua constante capacidade de se maravilhar. 

Porém, rapidamente a razão, ávida de informação, oculta o Desconhecido e encontra nome e significado para tudo, dando oportunidade para que se constitua uma tão esperada verdade que advém de múltiplas opiniões, por vezes contraditórias e divergentes. 

E, segundo Travers, para que o processo criativo possa estar aberto ao Desconhecido, ao infinito e ao inesperado, é necessário abandonar essa avidez da razão e aceitar uma condição de completa simplicidade. É através do Desconhecido que o processo criativo se revela.

 

'Unknowing, if one can be open and vulnerable, will take us down to the very deeps of knowing, not informing the mind merely but coursing through the whole body, artery and vein.', P. L. Travers

 

Mas o que será que conduz o homem a essa condição de simplicidade completa? 

O sujeito criador não pode eliminar, nem ignorar o conhecimento que já tem e que vai adquirindo. Paradoxalmente o homem precisa desse conhecimento - é parte essencial da vida e não pode ser ignorado. Porém assim que a razão se tenta impôr em todo o campo de ação do consciente, todas as possíveis oportunidades de descoberta do Desconhecido são abafadas e perdidas.

 

'The world belongs to silence and stillness.' escreve Travers. E acrescenta que o Desconhecido só poderá ser descoberto em momentos de vazio total - momentos esses em que muitas vezes a razão se confunde com aborrecimento. São, na verdade, estas as oportunidades, para um autoconhecimento ainda mais profundo. O encontro com o Desconhecido dá-se através desse vazio, desse silêncio que existe dentro do homem e que o torna plural e completo - razão e intuição, mortal e imortal, finito e infinito. Só perante tal plenitude o sujeito criador sabe sem saber.

 

Ana Ruepp