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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A FORÇA DO ATO CRIADOR

 

As primeiras abstrações de Victor Pasmore.

 

'I felt I had reached the end of the road in visual representation and was seized by a violent urge to start again on a completely new basis. At an exhibition in London I discovered a painting by Paul Klee made up only of coloured squares. I decided straight away that this was the objective point from which I could start again.', V. Pasmore

 

Em 1948, Victor Pasmore (1908-1998) pinta as primeiras composições abstratas.

 

No texto 'Pasmore's Constructed Abstract Art. 1948-66' de Alastair Grieve, lê-se que em contraste, com as paisagens e as naturezas mortas anteriores, as primeiras abstrações de Pasmore são feitas como um novo princípio, em pequeno formato, com vários tipos de pincelada que enfatizam a superfície plana e que afirmam a pintura como um objeto. As formas apesar de primárias não são estáveis, mas sim estão em rotação permanente o que permite constituir uma construção em contínuo movimento. Os trabalhos abstratos de Pasmore, resultado de formas básicas, não são abstrações. O pintor diz que a forma pura das suas pinturas refere-se a nenhum outro objeto - isto porque a forma pura é uma realidade lógica e suficiente em si própria. 

 

'The transition from visual abstraction to visual development, and from visual representation to visual autonomy, is not a continuous one. A point is reached where one ends and the other begins', V. Pasmore

 

O encontro com a abstração deu-se por influência de Paul Klee. Embora claramente inspirado pelos cubistas (Picasso, Braque e Gris) as colagens de Pasmore, feitas com jornal, são totalmente abstratas. E Pasmore usa as colagens como modo de preparação para as suas pinturas.

 

Alguns dos títulos das suas obras, feitas a partir de 1950, sugerem inspiração em fenómenos naturais e apresentam o quadrado, o círculo, o triângulo e a espiral como formas dominantes. Uma linha separa o que parece ser a lua ou o sol envolvido em espirais (influência de Turner), e um conjunto de formas básicas e coloridas que se empilham abaixo do horizonte (influência de Klee e Kandinsky).

 

Pode considerar-se, que a partir deste período 1950-51, a espiral passa a ser o elemento dominante. E as espirais de Pasmore, enfatizam a materialidade da pintura, mas também parecem mover-se através da superfície para a frente e para trás num poderoso movimento vertiginoso. Muitas poderão ser as influências - arte chinesa, os desenhos do dilúvio de Leonardo da Vinci, as pinturas de Van Gogh e de Turner, desenhos rupestres, as pinturas recentes de Picasso ou padrões que determinam o crescimento natural das coisas. Para Patrick Heron, as espirais de Pasmore inventam e definem o espaço sem comprometer o pintor a nenhum assunto em particular. As espirais têm sobretudo a capacidade de evocar o mar e o céu, o calmo e o frenético, o mortal e o divino, numa permanente sensação profundamente agitada da ascensão do espírito humano. (R. Melville)

 

Porém Pasmore sempre afirmou que as formas das suas pinturas foram inventadas: 'What I have done, therefore, is not the result of a process of abstraction in front of nature, but a method of construction emanating from within. I have tried to compose as music is composed, with formal elements which, in themselves, have no descriptive qualities at all. The spiral movement which can be discerned throughout nature, in many different forms, is reduced to its single common denomination - the simple spiral.'

 

Ana Ruepp