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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A FORÇA DO ATO CRIADOR

 

Arquitetura, forma e expressão. (parte I)

 

'Todas as formas geométricas a las que me refiero son portadoras de dinamismos o energias con poder de expansión, yo diria con poder de generación de outras formas infinitas, y por ello las llamo fértiles.', Pablo Palazuelo, 'Cuadernos Guadalimar', 1978

 

Embora a arquitetura seja um objeto que contem vida é também e deve ser, por excelência, um meio de expressão com conteúdos e significados. 

 

Qualquer matéria pensada e manipulada pelo homem contém intenções, procede de um mais além, é por isso subjetiva.

 

A conceção do homem que atua sobre a matéria é simultaneamente idealista e realista. A perceção que o homem tem da matéria não é objetiva porque transporta memórias e ideais. Porém é um corpo real que atua sobre uma matéria concreta - 'El cuerpo es un abismo, pero todo lo demás es tambiém abismo y por ello pienso que el cuerpo no es un extraño allí donde todo es extraño. Pienso al decir esto en la frase que citas de Rimbaud "Je est un autre", y para mí ese outro es algo hacia lo cual debemos dirigirnos.', Palazuelo

 

A forma produzida pelo homem tem sempre estas dualidades: 

 

Finita e infinita: A forma é sempre limitada pelo espaço, lugar ou estrutura em que se insere. E a forma além de ser expressão do seu criador, é inumeramente interpretável e é capaz de gerar infinitas outras formas.

 

Consciente e inconsciente: na produção de qualquer obra há sempre que cumprir tarefas sistemáticas, justificáveis, úteis e determinadas. Mas existe também uma sucessão de momentos instantâneos, incompreensíveis, intuitivos, incertos e incompletos.

 

Inércia e energia: embora a forma, em si, não tenha capacidade para agir, inclui em si a energia do homem, da natureza e da vida. Essa energia expande-se no tempo e no espaço - estende-se pela história da humanidade (por isso é tão importante o conhecimento das formas do passado e do presente todas contribuem para a produção de novas formas e todas contribuem para a extensão dessa vitalidade que está presente em todas elas).

 

O pintor Pablo Palazuelo (1916-2007) afirma que o rigor e essa dificuldade da transformação da matéria em forma de expressão, ativa a imaginação e a memória (que é distinta do pensamento puramente racional) e é através da sua influência que se chega à experiência do inconsciente que manipula e cria a forma como sendo algo único e irrepetível. Trata-se, portanto de ir ao encontro da vida, de a fazer percetível aos outros e de tentar ir ao encontro das grandes questões que a assombram.

 

A arquitetura (ou qualquer outra forma de expressão) é e deve ser por isso, uma materialidade mais distante por comparação à materialidade que o homem acredita apreender e compreender.

 

Ana Ruepp