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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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AS ARTES E O PROCESSO CRIATIVO

 

XXXIII - RENASCIMENTO - II

 

Cosmopolitismo, universalidade, globalismo, multiplicidade, uma inesgotável capacidade para todos as atividades do engenho e arte, é uma das caraterísticas de marca do homem do Renascimento. Leonardo da Vinci é tido como o seu excelso exemplo. Ao arrepio da retórica e ensino livresco tradicional, tem a observação real, o contacto direto com a natureza e a experiência, como pressuposto primordial da ciência e da formulação das leis científicas. É simultaneamente astrónomo, escultor, engenheiro, geólogo, investigador, matemático, médico, pintor, poeta. Um sábio, um génio, um polímata, de uma curiosidade implacável, de um infinito apetite de conhecimento, de uma imaginação admirável, que imaginou o avião, o carro de combate, o submarino.

 

Como cientistas do Renascimento destacam-se também o polaco Copérnico, o alemão Kepler e o italiano Galileu. Como humanista refira-se também Erasmo de Roterdão, amigo do grande representante do humanismo em Portugal Damião de Góis. 

 

As obras renascentistas são uma fusão e síntese de elementos da antiguidade clássica, medievais e modernos, dado que continuando os temas medievais, que as antecedem, se inspiram no património e saber da antiguidade greco-romana, tratando-os de modo original e atualista, reabilitando-os e fazendo-os renascer.

 

Outro génio artístico renascentista foi Miguel Ângelo. Cristão de inclinação platónica, foi arquiteto, escultor, poeta, pintor e urbanista.

 

Na escultura faz-se o culto das figuras e formas nuas, de linhas belas, esbeltas, robustas, vincadas e sinuosas do corpo humano. Com inspiração na arte clássica grega, reverenciadora da beleza, do belo, do equilíbrio, da perfeição, do absoluto, com representações anatómicas perfeitas, chamativas, sedutoras, sensuais, voluptuosas, divinas. Na fase final do helenismo, a arte grega degradou-se, entrando em declínio e desequilíbrio, vindo o equilíbrio a ser retomado no Renascimento. Onde sobressai Miguel Ângelo, com figuras atléticas, belas, tipo homem-divinizado, como no seu Cristo de Minerva e na escultura de David.

 

Na pintura procura-se e descobre-se a terceira dimensão, desconhecida da Idade Média. Para os artistas medievais, pessoas e coisas aparentam estar à mesma distância de quem as observa. Para os renascentistas, existem três dimensões, onde subjaz a ideia da profundidade (além da largura e altura), a sua maior descoberta, com cada coisa à devida distância, com determinadas coisas e pessoas que parecem estar mais próximas de nós e outras mais afastadas, tentando exprimir fielmente a realidade em toda a sua beleza, em simultâneos jogos de luz e sombras. As figuras são corpos localizados espacialmente. As cores não são uniformes. O convencionalismo e dogmatismo religioso é humanizado. Valoriza-se a natureza e o humanismo. Exemplificam-no A Virgem e o Menino com Santa Ana, A Virgem dos Rochedos e a Gioconda, de Leonardo da Vinci. Outro inimitável artista foi Rafael, de influência platónica. 

 

Em Portugal são tidos como cientistas do Renascimento Pedro Nunes, Garcia de Orta, Duarte Pacheco Pereira e D. João de Castro. Gil Vicente e Camões como expoentes da literatura renascentista. O estilo manuelino, baseado na observação da natureza,  experiência e método experimental, caraterísticas fundamentais que o Renascimento defendia, é tido como um estilo renascentista, de feição especial, ligado aos descobrimentos, em que motivos náuticos como cordas, boias, redes, conchas, corais, plantas e seres exóticos se impõem, diferenciando-o. 

 

O Classicismo continuou a herança do Renascimento, fazendo o culto da tradição greco-latina, tentando reerguer o prestígio antigo da Antiguidade Clássica tendo, como ideal clássico, regras que se deviam acatar para alcançar o Belo, com gosto pela linha pura, frase simples, palavra própria e razão humana, tendo horror ao vago e retorcido, trinfando na segunda metade do século XVII, com Luís XIV, em França.

 

Porém, já em pleno Renascimento, o exagero de formas, nomeadamente na arquitetura e escultura, patente na estátua Moisés, de Miguel Ângelo, abriu caminho para um novo estilo artístico conhecido por barroco. 

09.01.2018

Joaquim Miguel De Morgado Patrício