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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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BREVE NOTA SOBRE O ENCERRAMENTO DO TEATRO DA CORNUCÓPIA

 

No momento em que escrevemos, é dado como certo o encerramento do Teatro da Cornucópia, pondo termo a uma atividade cénica e cultural que se prolonga em Lisboa desde pelo menos 1973. Naquele ano, Jorge Silva Melo e Luis Miguel Cintra lançam um projeto de companhia, precisamente, o chamado Teatro da Cornucópia, desde logo marcado pelo dimensionamento cultural de alternância de textos clássicos e modernos, numa perspetiva de modernidade.

 

Até 1975 o Teatro da Cornucópia foi itinerante. E entretanto, funcionava já o Centro de Amadores do Ballet no Teatro do Bairro Alto, para onde a companhia se desloca e se fixa em 1975.  De notar aliás que a designação de Teatro do Bairro Alto se justifica pela tradição e até pela proximidade urbana com o velho Teatro do Bairro Alto setecentista.

 

Importa então ter presente que o edifício do Teatro do Bairro Alto, hoje Cornucópia, foi construído por iniciativa de Tina Reis, que lá instalou o Centro de Amadores de Ballet. E de assinalar também que o palco é notavelmente dimensionado, tendo em vista a própria dimensão restrita do edifício em si.  

 

Os primeiros espetáculos do Teatro da Cornucópia consistiram adequadamente em expressões bem atuais, segundo recordamos, de grandes clássicos da dramaturgia europeia: designadamente “O Misantropo” de Molière e “A Ilha dos Escravos” e “A Herança” de Marivaux. As traduções e encenações, em ambos os espetáculos, a cargo de Luis Miguel Cintra. E desde logo, os elencos marcavam também qualidade: recordem-se nomes e carreiras como, além dos já acima citados, Glicínia Quartim, Dalila Rocha, Filipe La Féria, Orlando Costa, Luis Lima Barreto, Carlos Fernando e outros à época de grande projeção e em rigor, ainda hoje!...

 

Mas entretanto a supressão da censura trouxe à companhia a possibilidade de renovação do repertório, e desde logo com um indiscutível texto dramático de grande qualidade, o “Terror e Miséria do Terceiro Reich” de Bertold Brecht.

 

A partir de 1975 a companhia fixa-se então no Teatro do Bairro Alto que assumirá também o nome de Teatro da Cornucópia, numa linha da tradição urbana de espetáculos. E o elenco básico alarga-se. Desde logo, com a colaboração de Augusto de Figueiredo precisamente na peça de Brecht acima citada. E a companhia entra num ciclo de renovação e modernidade que durou até hoje. Levou à cena um total de aproximadamente 140 peças. Renovou os elencos.

 

E mais: em 2016, a Fundação Calouste Gulbenkian publica dois volumes de grande formato num total de cerca de 1200 páginas com a enumeração e a análise crítica destes espetáculos, abrangendo autores, elencos e demais perspetivas de uma atividade teatral constante e abrangente.

 

E que agora ao que se anuncia, chegou ao fim... o que é obviamente lamentável, dada a fragilidade do meio teatral português!

 

DUARTE IVO CRUZ

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