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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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EVOCAÇÕES DO TEATRO DO PRÍNCIPE REAL – APOLO

 

Em 1866, é inaugurado no centro de Lisboa o então chamado Teatro do Príncipe Real, homenagem talvez inesperada a D. Carlos, então de facto Príncipe Real com 3 anos de idade.

 

 A mudança de designação ocorre obviamente a partir de 1910. Passou a chamar-se Teatro Apolo. Mas não durou muito: encerrou definitivamente e foi demolido em 1957.     

 

 O Teatro data pois de 1866, mas herdou uma tradição urbana de espetáculo vinda de décadas atrás – ou mais ainda, se pensarmos nos Teatros anteriores ao Teatro de D. Maria II, esse inaugurado em1846.

 

Segundo José Carlos Alvarez, o Príncipe Real - Apolo seria «o teatro mais popular e mais republicano, se é que faz algum sentido esta afirmação... nessa época. Situado entre a então novíssima Rua da Palma, a antiga carreirinha do Socorro e o Largo de Martim Moniz, bem longe do chic, moderno e elitista Chiado e dos seus teatros mais burgueses (Trindade, São Luiz) ou aristocráticos e italianos (São Carlos)»...

 

E mais acrescenta José Carlos Alvarez que foi no já então teatro Apolo que se estreou a primeira revista levada à cena depois da implantação de República, denominada “Agulha em Palheiro”, E mais refere Alvarez que, ao ser demolido, se perdeu também  grande parte do arquivo respetivo, o que evidentemente prejudica o historial dos nossos teatros na globalidade de textos, elencos e expressão cultural e sociológica dos respetivos públicos. (cfr. José Carlos Alvarez “A República foi ao Teatro”ed. Museu Nacional do Teatro – 2010, págs.11 e segs.)

 

Por seu lado, Luciano Reis refere que a tradição de espetáculo vinha de trás. Em 1885, um tal Francisco Viana Ruas, «num terreno desocupado que que havia depois da abertura da nova Rua da Palma, à esquina da Carreirinha do Socorro, edificou um salão, a que deu o nome de Vauxhall, e realizou ali bailes de máscaras que pouco resultado deram. Mudou-lhe então o nome para Salão Meyerbeer, em que realizou alguns concertos ainda com pior resultado. Inaugurou-se com as comédias imitadas por Aristides Abranches e Rangel de Lima, “Dois Pobres a Uma Porta”, em 3 atos, e “Muito Padece quem Ama, em 1 ato”». (cfr. Luciano Reis “Teatros Portugueses” ed. Sete Caminhos 2005 págs. 46 e segs.)

 

 Mas ainda recuamos nas citações e desta vez a partir do sempre referido “Diccionario do Teatro Português” (1908) de Sousa Bastos, o qual mais se adequa porque é contemporâneo do Teatro.

 

Denomina-o “Theatro do Príncipe Real (Lisboa)” e ilustra-o com uma fotografia. Atribui a iniciativa a Francisco Viana Ruas, «avô dos atuais empresários deste teatro», esclarece. Descreve o edifício, que qualifica como «uma bonita casa de espetáculos (que) tem tido épocas brilhantíssimas, principalmente a do ator Santos, a de Rossi, a de Paladini, a de Preciozi e Maria Deus e muitas outras» (ob. cit. pág. 355).  

 

Era pois, na época, um teatro internacional. 

 

DUARTE IVO CRUZ