Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

O Teatro da Trindade de Buarcos: exemplo de descentralização

 

Temos aqui referido o Teatro da Trindade de Lisboa e, como bem sabemos, a sua estrutura arquitetónica, a sua tradição histórica, a sua brilhante atividade constituem exemplo marcante da atividade cultural, sobretudo nas artes da música e do teatro declamado: e aí justifica-se inclusive a evocação da Companhia Portuguesa de Ópera que tanto marcou a vida cultural e artística portuguesa.

 

Mas recuamos no tempo para lembrar que o Teatro da Trindade de Lisboa foi inaugurado em 1867, mantendo desde então e até hoje, como aqui temos amplamente referido e tornamos a referir, a arte e a cultura portuguesa.

 

E vale então a pena recordar que o Teatro da Trindade de Lisboa abriu ao público pela primeira vez em 30 de setembro de 1867. O projeto original, ainda amplamente reconhecível, deve-se ao arquiteto Miguel Evaristo de Lima Pinto: e apesar do Teatro de D. Maria II funcionar na época já há cerca de 20 anos, inaugurado que foi em 13 de abril de 1846 com o drama “O Magriço ou os Doze de Inglaterra” de Jacinto de Aguiar Loureiro; e de funcionarem já em Lisboa os Teatros do Salitre e da Rua dos Condes, ambos de finais do século XVIII.

 

E mais: antes deles, temos no Porto o então chamado Teatro do Corpo da Guarda, inaugurado em 13 de maio de 1762 e o Teatro Sá da Bandeira, este de 1874, então denominado Teatro do Príncipe Real. E o Teatro Baquet de 1859 ou, em Lisboa, o Coliseu dos Recreios de 1890: e tantos mais teatros, nos centros urbanos da época, para não falar no Teatro de São Carlos, que foi inaugurado em 13 de junho de 1793 e é, desde então e até hoje, o edifício de espetáculo mais relevante.

 

E já agora podemos referir o Teatro das Laranjeiras, edificado por João Pedro Quintela, 1º Conde de Farrobo, no que é hoje o Jardim Zoológico de Lisboa. O Teatro é inaugurado em 1825 e funcionou como teatro de ópera com a “originalidade” para a época de não se restringir ao repertório italiano: Farrobo, que estudou musica com Domingos Bomtempo, dirigiu a certa altura o Conservatório e introduziu, precisamente no Teatro das Laranjeiras, um repertório à época moderno.

 

De notar que este Teatro das Laranjeiras foi a primeira sala de espetáculo a introduzir um sistema de iluminação a gaz: isto, a partir de 1842, numa fase de restauro sob a traça de Francisco Lodi.

 

O Teatro arde em 9 de setembro de 1862:  e Farrobo, a caminho da ruina, não o reconstruiu.

 

E no entanto, na época, começava a praticar-se uma política de descentralização que conduziu à edificação de teatros um pouco por todo o país.  Na segundo metade do século XIX são já numerosos os exemplos dessa descentralização e interiorização. O exemplo que hoje aqui referimos ilustra bem a mudança cultural registada mesmo em localidades de bem menor dimensionamento e tradição cultural.

 

Trata-se do pequeno Teatro da Trindade de Buarcos, construído por iniciativa de um proprietário local, de seu nome Fernando Augusto Soares, o qual, regressado do Brasil onde enriqueceu, fez construir em 1910 um chamado Teatro da Trindade, não tanto como réplica do Teatro homónimo de Lisboa, mas como homenagem à sua própria mulher, de seu nome D. Maria da Trindade! João de Barros e Santana Dionísio referem-no no “Guia de Portugal”.

 

E o que aqui importa salientar é que este pequeno Teatro da Trindade  manteve-se em atividade até aos nossos dias. O Teatro, com os seus doze camarotes atrás de uma bela fachada neo-manuelina, não tem nada que ver com a sala de Lisboa mas constitui, isso sim, exemplo e modelo de uma notável expressão de arquitetura de espetáculo.

 

DUARTE IVO CRUZ