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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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REFERÊNCIAS A UM TEATRO DESAPARECIDO – SALVATERRA DE MAGOS (II)

 

Fazemos aqui nova referência ao Real Teatro de Ópera de Salvaterra de Magos, evocado e descrito no artigo anterior. Trata-se, recorde-se, de um projeto do arquiteto italiano Giovani Carlo Bibiena, trazido de Itália por D. José, para beneficio do Rei e da Corte, que se deslocava para Salvaterra no inicio de cada ano. O Teatro foi assim inaugurado em 21 de janeiro de 1753: e tal como recordámos, serviu e exprimiu o gosto que D. José tinha pelo espetáculo de ópera.

 

Como vimos, a Real Ópera desapareceu, mas deixou memória de uma atividade cultural e artística que de certo modo transcenderia o próprio ambiente da Corte. A ele se referem autores que amplamente citamos, como Luciano Reis, José Rodrigues Gameiro, Manuel da Silva Correia, Natália Correia Guedes, Aline Gallash-Hall de Beuvink e outros mais.

 

Mas nessa evocação remetemos ainda para o livro que Gustavo de Matos Sequeira publica em 1933, intitulado “Teatros de Outros Tempos” e que evoca e descreve espaços e edifícios históricos de espetáculo, a partir de Gil Vicente. Aí encontramos referências e descrições da infraestrutura e da atividade artística amplamente documentada.

 

No que respeita ao Real Teatro de Ópera de Salvaterra de Magos, Matos Sequeira refere designadamente as obras do Teatro, dirigidas por Petrónio Mazzoni e por Giacomo Azzoletti, ambos vindos de Itália ao serviço da corte.  E de Milão vieram também “as mais custosas fazendas” (sic) para decoração do Teatro. Acrescenta que “na sua decoração, ornatos e pinturas, não deixaria de haver a interferência de João Carlos Bignetti, José António Narciso, Manuel do Nascimento e outros “. Caso para dizer que nenhum destes nomes hoje nos diz alguma coisa!...

 

Matos Sequeira elenca os sucessivos reportórios operísticos que durante anos animaram o Rei e a corte, em Salvaterra. E essa atividade lúdica e cultural prolonga-se até cerca de 1863, ano em que diz-nos o mesmo autor “o Teatro e ruinas anexas foi adquirido em praça pelo mestre de obras de Lisboa Domingos Caetano Rodrigues” o qual, acrescenta, desfez as cantarias e alvenarias da Ópera e vendeu-as para se fazer brita da entrada de Salvaterra a Coruche” E acrescenta que “os vestígios do Teatro Real desapareceram assim, transformados num leito de estrada que as passadas, em setenta anos decorridos, desfizeram em poeira”!

 

E no entanto, Gustavo de Matos Sequeira refere para cima de 90 óperas em numerosíssimos espetáculos cantados no Real Teatro de Ópera de Salvaterra de Magos! 

 

DUARTE IVO CRUZ