Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LONDON LETTERS

 

Papa Xi, The Kremlin Connections and, The Westminster Pests, 2017

 

O insuspeito Washington Post adverte que as campainhas de alarme deveriam estar a soar nas democracias à volta do planeta face à nova ambição de Beijing ascender “a leading global power.”

Esta é a visão para o império do meio traçada pelo China President Xi Jinping no 19th Communist Party Congress, o qual tanto cimenta a sua liderança no poder como o promove ao panteão constituinte, a par do fundador Mao Zedong e do reformista Deng Xiaoping. Ao invés, no palco dos World affairs, as torres gémeas dos US e da European Union afundam-se em tristíssimas trivialidades.  — Chérie! Tout est bon à prendre. A conexão russa faz as primeiras vítimas na equipa do colorido inquilino da White House, com a detenção domiciliária pelo FBI de dois dos colaboradores na campanha presidencial. Brussels arrasta-se entre as negociações da Brexit e a autoproclamada independência dos Catalans. London embaraça-se com a spreadsheet de 27 MPs suspeitos de assédio sexual. — Umm. A drowning man will catch at a straw. Já os arquivos nacionais norte americanos desnudam mais um dos sete véus que envolvem o assassinato do President John F Kennedy em Dallas (Texas) e fresca pegada moscovita. Mr Lewis Hamilton sagra-se “Britain's most successful F1 driver” ao vencer o quarto campeonato mundial no Mexico.

 

Frosty temperatures at Central London. Conspirações, mistérios e escândalos circulam em Westminster City à velocidade da luz. Atenção primordial, pois, para a estória cintilante do quase centenário Mr Ron Jones em vésperas do Remembrance Sunday. Conta a Sky News que o senhor há três decénios vende a Red Poppy com assinalável sucesso num supermercado local Tesco, sob uma aura especial e recuada à II World War. Soldado no 1st Battalion Welch Regiment no Middle East, em 1942 é capturado pelos Nazis em Benghazi (Libya) e transferido para Auschwitz (Ger). Aqui labora com judeus também escravizados na “IG Farben's infamous chemical factory.” Sobrevive, onde muitos caem que nem tordos. Perto do final da guerra, é forçado pelos caveirosos SS a uma marcha da morte, entre Poland e Austria, 17 gélidas semanas privado de mantimentos, arrostando o fenecimento dos pares, sendo finalmente libertado por tropas paraquedistas aliadas em May 1945. Regressa a casa, em Newport. Hoje, muito justamente aos olhos dos ilhéus, é classificado como "a legend" na comunidade de apoio à Royal British Legion. 

 

Este glorioso avô funciona como o fumo de um bom cubano face à paranoia da talk of the town. Há sexual pests nas Houses of Parliament e seus arredores! Relatórios diários chegam à mesa da Prime Minister RH Theresa May MP, como se lhe não bastara a arenosa negociação da retirada do UK da European Union e a memória dos almoços, jantares e sanduíches no fuso bruxelense com algumas inefáveis personagens. Verdade se diga, porém, que muitos dos rumores se liquidificam nas almas românticas do reino. Ainda assim, senão capaz de coibir os predadores mas dissuasor bastante para os pinga-amores mais temerários, o alvoroço anima as redes sociais ávidas de casos de sexual and racial harassment. Que existe inappropriate behaviour no circuito da misoginia, haverá, e de diversa espécie, entre drugs addictions & drink habits. Indignadas com o abuso, grupos de mulheres a operar em Whitehall engrossam o rol de queixas que há muito rodam pelos corredores da BBC. De tal modo que, hoje, nos Commons, respondendo à Labour MP The Rt Hon Harriet Harman em questão urgente, a Leader of the House RH Andrea Leadsom anuncia um código de ética sexual, enquanto a própria Premier apela em carta ao Speaker John Bercow que "ensure the reputation of Parliament is not damaged further." Uma situação em particular se destaca na tela: quem será, entre os até agora seis implicados, o Tory do HM Cabinet conhecido pelo nome de “Happy Hands?”

 

Após o sky diving protestante junto ao Thames em tempo de celebrar os 500 anos das 95 Theses pregadas pelo Father Martin Luther, a 31 October 1517, nas portas da Castle Church na alemã Wittenberg, nota para um bem humorado kayaking nas ondas hertzianas O Mayor Sadik Khan estreia-se como apresentador de rádio na mais estranha orquestra de pinguins que vem à memória numa semana sem Mr James O’ Brien nas manhãs da amada LBC. Com o trabalhista e o bónus da sua entrevista ao Honourable Lab Leader Jeremy Corbyn, um dia atrás do outro, surgem as vozes incomparáveis do Conservative MP Jacob Rees-Mogg e do Labour MP Chuka Umunna a par do ITV Political Editor Mr Robert Peston. Para currículo numa well-deserved break de James, quando este atinge o primeiro milhão de ouvintes e o Foreign Secretary RH Boris Johnson vai a Lisboa brexitar as cláusulas do Windsor Treaty (de 1386) ao homólogo Dr Augusto Santos Silva, it just could getting worse… Acabado de cair das nuvens, desta feita para as bandas de Hollywood, está Mr Kevin Spacey, nenhum outro senão o protagonista da profética House of Cards. — Well. Meanwhile, as time goes by, why not learn with Master Will at the Barbican and that black Coriolanus: — “Enough, with over-measure."

 

St James, 30th October 2017

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

 

Her Maj at the 92, The G7 Twitterstorm, and Historic Talks, 2018

 

Olhos e preces centradas na cidade estado de Singapore. É a histórica reunião entre os presidentes Donald J Trump e Kim Jong-Un, com o mundo em suspenso sobre o eventual acordo de desnuclearização “complete, verifiable and irreversible” da Korean Peninsula. O UN General Secretary António Guterres está pronto para apoiar a paz entre Seoul e Pyongyang.

O UK disponibiliza os peritos nucleares. — Chérie! L’histoire regarde ces deux. A Queen Elizabeth II celebra o 92.º aniversário com passeio a solo, em carruagem aberta, no Mall, e os tradicionais Trooping the Colour, na Horse Guarde Parade, a RAF Flyover, nos céus de London, e a saudação popular da Royal Family, na varanda do Buckingham Palace. O patriarca Prince Philip perfaz 96 anos, com o Duke of Edinburgh ora reformado da esfera pública. — Happy Birthday, Your Majesty. A damehood para a atriz Mrs Emma Thompson e a knighthood para o Literature Nobel Prize Mr Kazuo Ishiguro assinalam a Honours List, com 1,057 pessoas galardoadas por serviços ao reino. A House of Commons acolhe 48 horas de Brexit warfare. O Lab líder RH Jeremy Corbyn completa 35 anos como Islington North MP. O Quebec recebe tormentoso encontro do G7. A Shangai Cooperation Organization apresenta-se como cimeira alternativa, reunindo China, Russia e India. Beijing entrega a Friendhip Medal a Mr Vladimir Putin, a mais alta condecoração para estrangeiros. Italy fecha os portos aos barcos de pesca de emigrantes.

 


A tempestuosa cimeira canadiana do G7 vista por Beijing. © Courtesy China Daily

 

Beautiful Summertime at Central London. And very hectic days in Parliament. Mas comecemos pelas cenas extraordinárias ocorridas na cimeira das sete nações mais industrializadas do mundo. As emoções fortes vêm a público através das imagens, e uma fotografia como a logo divulgada pelo China Daily vale por 1000 palavras (ver em detalhe, sff). Mas a cimeira fica sobretudo marcada pela tempestade trumpista de declarações. É toda uma atitude; e é Trump vs The World. O senhor chega tarde aos encontros, declara “let us bring in the Russians,” a sua agenda não abre espaço para a reunião bilateral com a UK Prime Minister, indispõe-se com todos à volta da mesa e acaba a rasgar a declaração conjunta que assinara com os aliados. Na conferência de imprensa final desfecha que ali fora fazer “a free trade proclamation,” esgrimindo em estilo alpha behaviour com novas tarifas aduaneiras sobre as importações norte americanas. O homólogo gaulês riposta: “No leader is eternal.” Já a voar para Singapore, o POUS puxa do Twitter para enviar novas mensagens aos pares ‒ às 2:05am, 2:17am, 2:29am, 2:42am, 2:45am e 3:41am. Ilustração postal: “Why should I, as President of the United States, allow countries to continue to make Massive Trade Surpluses, as they have for decades, while our Farmers, Workers & Taxpayers have such a big and unfair price to pay? Not fair to the PEOPLE of America!” Mrs May por lá reúne a sós com Monsieur Emmanuel Macron, Frau Angela Merkel e Mr Justin Trudeau. Hoje encerra o dossiê em Westminster, face aos MPS, concluindo que foi “a difficult summit.”

 

Vagas alterosas esperam a Premier em Downing Street. As Brexit Laws começam a sua semana mais longa na House of Commons, após serem rasuradas nos Lords com 15 emendas. O Tory Government espera reescrever 14 destas alterações ao seu projeto legislativo com a anterior tinta. Tudo permanece incerto, porém, até à contagem de votos. RH Theresa May pede unidade ao reunir hoje com as tropas conservadoras no 1922 Committe. Há dias atrás sela tréguas no Cabinet, na sequência de tropel de rumores dando o Secretary for Exiting the European Union, RH David Davis, como estando prestes a demitir-se do cargo por causa dos arranjos aduaneiros, e ainda de pouco diplomáticas declarações do Foreign Secretary, RH Boris Johnson, num private dinner ecoado na Press, em torno da EU27 e de sensíveis assuntos internos e externos ‒ #Trump-Kim Summit incluído. O Number 10 navega as dificuldades em Westminster City com estoicismo, recato e leque de palavras neutras, como a senhora claríssimamente evidencia no ponto da situação brexiteira: “This is something that actually we don’t want ever to happen, in the sense that it is purely there in the circumstances where we have agreed the end-state customs arrangement, but for technical reasons it has not been possible to put that in place by January 1, 2021. We are clear that we expect that we will actually be able to have that end-state customs arrangement in place at the very latest by December 2021, but our focus, obviously, is going to be on making sure that we get that agreement which we have all agreed — and others are agreed — is the best way to ensure that we get the right relationship between the U.K. and the EU for trading in the future.”

 

Aguardo a passagem ao écran destes fantásticos eventos. Para já, fazendo a vontade a Mr Trump, os russos entram mesmo… na história do euroreferendo. Um bilionário que financia o Ukip e doa milhões ao campo do Leave é apontado com laços perigosos à embaixada moscovita em London. Entre emails sobre minas siberianas de ouro e almoços regados a vodka, Mr Arron Banks depôe hoje em comité parlamentar. Será divertido. Ligam-se vontades para intentar inquérito policial, a fim de detetar o rasto dos rublos. Um outro discreto euroinfluente vem à superfície. O DExEU Permanent Secretary informa ter regra dourada entre amigos. “If I sit down in convivial company, I make a rule — don’t talk about Brexit,” regista Mr Philip Rycroft. É prudente. As opiniões dividir-se-ão quanto aos protagonistas estarem à altura do script global, mas que este anda intrigante anda. — Zowie. With so many excitement in the air, better listen at heart those lines of ours Master Will in The Tempest: — “O wonder! / How many goodly creatures are there here! / How beauteous mankind is! O brave new world, / That has such people in't.”

 

St James, 11th June 2018

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

 

Saving Penka, Trade Games, and… The Armageddon, 2018

 

O nome da vaquinha é mimoso. Já a denominação do mágico círculo de pensadores em Whitehall é simplesmente fantástica. Uma e outros enfrentam dificuldades com as fronteiras europeias. Penka arrisca sentença de morte, apesar de prenhe de três meses, por atravessar o seu pasto na Bulgaria para o verde da Serbia sem passaporte veterinário. Valha ao bovino a generosidade disponível para lhe pagar pela vida. Vacilante está também o destino do Inter-Ministerial Group on Preparedness. Reunido pelos Tories para operacionalizar a retirada do reino da European Union, descobre-se no Sunday Times que o grupo de senior civil servants antes se ocupa a desenhar uma tela para as cúpulas de Westminster: a Doomsday Brexit.

Nada menos! — Chérie! Les conseilleurs ne sont pas les payeurs. Não bastara os explosivos cenários para o dia 20 March 2019, eis que chega ao 10 Downing Street outro dossiê fracturante. a expansão do Heathrow Airport. Aqui e acolá, a Prime Minister Theresa May conta votos pelas bancadas parlamentares. — Hmm. Who controls the future? Saudando June e jet-ing around, o EU Chief Negotiator Monsieur Michel Barnier aterra em Hungary. Berlin desloca a atenção de Paris das reformas na Eurozone para planos militares. Spain diz adiós a Mariano Rajoy entre fumos de corrupção e eleva os socialistas do Señor Pedro Sánchez ao poder. Italy também tem novo governo, eurocético, com o Professor Giuseppe Conte na liderança da coligação 5Star + Liga. Washington antes reinventa a diplomacia ao declarar guerra comercial aos aliados, impondo taxas de 25% nas importações de aço e de 10% no alumínio. O Canada promete represálias “dollar for dollar” e a European Union retalia com altear das tarifas no “bourbon, peanut butter & Harley Davidson motorcycles”.

 


W
arm and somewhat rainy days at Central London. Ontem foi dia de um minuto de silêncio para recordar as vítimas dos atentados de há um ano, com o estado de alerta terrorista em nível crítico. Mas abrindo a melancolia da manhã com o Home Secretary RH Sajid Javid, as Sunday Politics acabaram dominadas por mais uma de muitas fugas de informação em Whitehall. A info passada ao Times trata da Brexit, para invariar, mas, para variar, espanta. Daí a necessidade de preâmbulo. Compreende-se o estado de espírito em volta. A luz apresenta-se laranja desde Trafalgar Square, tantas são as fantasias esfumadas ao longo da A3212 Road de um final de carreira em Brussels onde a máxima preocupação seria apurar qual a dimensão do iate para navegar pelas ilhas gregas. Os autores do relatório serão eventualmente os mesmos, ou próximos, daqueles que conceberam as teses da guerra e recessão com que o anterior Prime Minister David Cameron a todos flagelou nos últimos dias da campanha euroreferendária. A litania entrou na história política como… Project Fear. Depois deste original, que se supõe da autoria do ex Chanceler of The Exchequer, o ilustre George Osborne, houve incontáveis sequelas ‒ entre o declinar das reformas solarengas para os mais velhos e o fim das viagens pela cultura europeia para os mais jovens, vedados de aceder ao continente. Nenhuma pintura houve como esta agora, todavia, dada a desmesura dos espantalhos para assustar a passarada da Land. Por maior, também, porque colorida com tintas do Department for Exiting the European Union, que se esperaria a executar o que determina o nome, not missing the point, quando faltam 299 dias para a saída do reino do Clube dos 27.

 

O aranzel recebe os MPs em Westminster, após pausa de dez conspirativos dias e com o voto da EU Withdrawal Bill agendado para a semana na House of Commons. Impressiona. Afigura-se até inspirado no derradeiro livro do New Testament of the Bible e os seus Four Horsemen of the Apocalypse trazendo a pestilência, a guerra, a fome e a morte. Sublime cortesia dos senior civil servants que assistem o Secretary of State for Exiting nas sensíveis negociações bruxelenses, nenhum outro senão um dos Brexiteers mores, Rt Honourable David Michael Davis, eis uma fantasmagórica Doomsday Brexit pincelada numa única frase: acaso o United Kingdom saia da Other Union com um No-Deal, como nesta passada pode acontecer, e haverá escassez de medicamentos, combustíveis e alimentos; o porto de Dover colapsará em 24 horas e os ilhéus sofrerão em hospitais, tremerão de frio nas casas e deambularão famintos pelas cidades e campos; a inevitável luta que se seguirá é deixada à mente de cada qual. Sério que não é ficção do Times. O relatório do DExEU traça três cenários: “a mild one, a severe one and one dubbed Armageddon.” Na segunda janela futurista, “[t]he supermarkets in Cornwall and Scotland will run out of food within a couple of days, and hospitals will run out of medicines within two weeks, [… and] we would be running out of petrol as well.” Yowza! Isto é que é ter imaginação constitutiva. Garanto que, ao divisar o descritivo, tombei num clássico da BBC para ouvir saudoso Permanent Secretary: ‒ “How very courageous, Minister.”

 

É bom saber que nada como o funcionalismo de Whitehall no how to guide ministers to making the right decisions. Tal qual o acrónimo IMGP dos thinking heads, onde, convenhamos, o termo preparedness é o máximo face ao brexitar e se destina a impressionar os talking animals & others, semelhante argumentário apocalíptico faz juz à lógica imbatível de Sir Humphrey Appleby na defesa do status quo. Recordareis a gama no trabalhar da filigrana ética do eleito em Yes, Minister.

Deparasse RH Jim Hacker com etiqueta de “a brave decision” e desbarataria votos, ouvisse o governante ser a opção "courageous" e condenava-se a perder a eleição. Os cenaristas do DExEU têm futuro nas artes, embora distópicos. Dalém Atlantic vem interessante exemplo. Depois dos Obamas, Barack e Michelle, é agora o antigo US President Bill Clinton que explora novos rumos a partir da sua vivência política. O antigo inquilino de Pennsylvania Avenue é coautor com o bestselling novelist James Patterson de um Summer thriller intitulado The President is missing. Do livro nada escrevo, porquanto só hoje entra nas livrarias e dele só conheço a capa banal. Anoto, sim, que este peculiar dueto ajustou um acordo comercial com a Showtime, para a estória da White House passar ao celulóide. — Yay. But better keep in mind another fine advice of Master Will in Julius Caesar: — “There is a tide in the affairs of men, / Which, taken at the flood, leads on to fortune; / Omitted, all the voyage of their life / Is bound in shallows and in miseries. On such a full sea are we now afloat; And we must take the current when it serves.”

 

St James, 4th June 2018

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

LL1.jpg

 

Lightning skies, European manners & an intriguing Monarchy, 2018

 

A vida é o primeiro dos direitos humanos, tal qual o voto popular é o alicerce das democracias. Estas duas verdades políticas contemporâneas estão em teste laboratorial, aquém e além Channel. — Chérie! Tous les chats sont gris dans la nuit.

A interrupção voluntária da gravidez por decreto de Westminster é hoje pedida para Northern Ireland, sem que os proponentes entendam imperativo perguntar aos locais se tal querem, mas sendo sensíveis ao resultado favorável do referendo sobre a matéria realizado na vizinha Ireland. O chão das regras comuns move-se também noutras paragens. Italy tem um novo Premier, Signori Carlo Cottareli, ido do IMF, cognominado como “Mr Scissors” e alheio aos resultados eleitorais. Madrid prolonga a direct rule na Catalonia ignorando o governo do Presidente eleito Señor Quim Torra.— Hmm. The unwanted manners. Lá longe, após surpreender pela banalidade na abordagem da Brexit numa conferência em Lisboa, o European Union Chief Negotiator Monsieur Michel Barnier reúne com a Scotish First Minister Nicola Sturgeon em Brussels para troca de mensagens quanto ao Remain/na EU vs a Scexit/do UK. Já Washington desmarca e remarca o Nuclear Korean Summit, em Singapore, entre os presidentes Donald J Trump e Kim Jong-un. O mestre Philip Roth e o captain Serge Dassaut partem de nós.


Retrato oficial da Royal Family. © Alexi Lubomirski. Courtesy do Kensington Palace (2018).


O caso impõe incontornável pergunta sobre o porquê de tanta curiosidade quanto ao que ocorre na Royal House of Windsor. Que o tema é popular, confirma-se ainda no número de capas de jornais e revistas com a imagem dos novos Dukes of Sussex em aberta competição com um vasto leque de parafernália de pratos, chávenas e bonés a chapéus de chuva. Todos os dias, aliás, caem na caixa de email propostas mais ou menos literárias (sejamos generosos) sobre… Harry & Meghan. Partindo do pressuposto que, tal qual o meu convite, os demais igualmente se perderam sem selo, estamos a falar do casório de dois desconhecidos. Porquê, pois, a euforia global? A interrogação associa-se ao mistério do amor do British People pela Monarchy, esse regime superficialmente apontado como de power & privilege mas nada senão a transmissão hereditária da autoridade para quem é desde tenra idade formado para simbolicamente personalizar uma comunidade cultural. Desde a coroação de Elizabeth II, em 1953, que a aprovação popular roda em torno dos +80%. Das explicações que ouvi e li acerca do apego à instituição real, nas quatro estações, partilho duas. Uma pertence a saudoso mestre da Oxford University, o professor David B Goldey: “The Queen has wanted manners.” A outra é escrita pelo jornalista Mr Walter Bagehot numa série de nove artigos publicados na Fortnightly Review e em 1867 compilados nesse clássico cá classificado como “wise chat” que é The English Constitution: “The best reason why monarchy is a strong government is, that it is an intelligible government. […] To state the matter shortly, royalty is a government in which the attention of the nation is concentrated on one person doing interesting actions. [,,,] The mystic reverence, the religious allegiance, which are essential to a true monarchy, are imaginative sentiments that no legislature can manufacture in any people. [,,,] A family on the throne is an interesting idea also. It brings down the pride of sovereignty to the level of petty life.”Thunderstorms blasting the British skies, inside warm but brezzy days at London. O fenónemo celestial destas noites é absolutamente espetacular, com o Shard a servir de pára raios no icónico horizonte urbano. Enquanto os alvores elétricos alumiam a suave tranquilidade noturna, o Royal Tourism acelera em volta no bulício diurno polvilhado de leves chuviscadas. Buckingham Palace atrai os olhares estrangeiros. O Parliament está em recess até 4th June e Westminster Square apresenta-se relativamente despovoada da fauna local. A Royal Familý renova-se na 2018 Spring e disponibiliza simpático retrato oficial com quatro gerações, abrindo a tela a discreta mas impactante Mrs Doria Ragland – a mãe da novel Duchess of Sussex. O casamento do Prince Harry of Wales e Meghan Markle parece ter similares efeitos a uma centelha atmosférica. Os números falam por si. Informa o Daily Telegraph que, só entre visitantes do reino vindos do país da noiva, o setor espera um aumento de 15% e um total de receitas da ordem dos £3,4bn. O interesse dos norte americanos pelo ancestral country é conhecido, mensurável no mega sucesso das séries como Downton Abbey ou The Crown, tendo agora ficado espelhado na atenção com que seguem a cerimónia matrimonial de St George Chappel. Se mais de 2 mil milhões de pessoas à volta do globo assistem à transmissão televisiva em direto de Windsor, a audiência nos USA cifra-se em mais de 30 milhões e quase duplica os 18 milhões que assistem nas ilhas. Semelhante auditório empalidece tudo o mais que circula pelas pantalhas, deixando a milhas acontecimentos desportivos e espetáculos mundiais como os Oscars de Holywood ou mesmo o anterior enlace do Prince William of Cambridge e Catherine Elizabeth Middleton.

Revermo-nos ou não em quem nos representa nos vários níveis de governo não é um sentimento despiciendo, antes pelo contrário, num tempo fluído onde prolifera a desconfiança institucional.

Se dentro de portas abundam dúvidas relativas ao efetivo respeito pela vontade popular expressa através do pacífico voto, quando volta a redobrar a larga bolsa de moedas para impor segundo euroreferendo, fora das costas chama-se Galileo a mimosa prova de existirem poderosas forças que suspeitam de uma estável Europe of peoples and nations, of trade and cooperation. O afastamento do UK post-Brexit dos fundos e projetos da ESA, a European Space Agency sedeada em Prague (Czech Republic), é ato que a lógica dificilmente poderia manufaturar, mas confirma-se que Brussels quer barrar a participação britânica no £10-billion satelite navigation system por… razões de segurança. Cabe perguntar ao MI5&co: A segurança de quem?! — Bada bing. Remember what says Master Will in Timon of Athens, about the fortunes of that generous Lord surrounded by forged companionship: — “Draw nearer, honest Flaminius. Thy lord's a bountiful gentleman: but thou art wise; and thou knowest well enough, although thou comest to me, that this is no time to lend money, especially upon bare friendship, without security. Here's three solidares for thee: good boy, wink at me, and say thou sawest me not. Fare thee well.”

 

St James, 28th May 2018

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

 

A Very British Royal Wedding, and a pot of ale, 2018

 

O casamento do Prince Harry of Wales e Meghan Markle revive o ornamentalismo monárquico em Windsor e atualiza o Cinderella Tale nos nossos dias, uma variante moderna da antiquíssima estória helénica de Rhodopis, que nos é legada pelo grego Strabo, na Geographica, pelo romano Aelian, na Miscellaneous, e ainda pelo ilustre Herodotus, nas Histories, envolvendo umas desde então famosíssimas… sandálias egípcias. — Chérie! Dieu ― lui aussi ― le veut.


A tecnologia globaliza os eventos, mas as old rules da comunicação resistem. Nada como um belo dia, solar, com as atenções focadas no Royal Wedding, para sepultar bad news. Entre o vozear para a reforma da House of Lords, após as derrotas governamentais em torno da Brexit Law, a Prime Minister Theresa May designa 9 novos pares do reino. HM Government dá também discreta luz verde à compra da Sky pela Comcast, um ajuste de €21b que envolve a Sky News e a Fox News. — Hmm. God bless the Dukes of Sussex. Nos demais public affairs reina igual sentido da ocasião. A Scotland First Minister RH Nicola Sturgeon prepara um novo referendo sobre a independência. A Brexit é o tema de uma conferência, em Lisboa, pelo European Union Chief Negotiator Monsieur Michel Barnier. Washington rivaliza no éter. Com alguma fumarada sobre o Korean deal, a White House promete a mãe de todas as sanções económicas contra o Iran caso os imans retomem o programa nuclear.


Another bright day
at London. O sunny weekend é dominado pelo matrimónio dos arejados Dukes of Sussex. Que dizer da cerimónia de Saturday, na pequena St George’s Chapel do Castle of Windsor, por muitos no reino e à volta do globo visionada e comentada? A celebração foi linda, foi intimista e foi inclusiva – exceto para os políticos, muito poucos, de dentro ou fora do reino. Apesar da proximidade constitucional do noivo à Head of State, apenas lá deteto o ex PM John Major, a Chaplain da House of Commons RR Rose Hudson-Wilkin e o incontornável neto de Sir Winston Churchill, MP de Mid-Sussex e royalist dos quatro costados RH Nicholas Soames. O cerne da House of Windsor assiste em peso e em diversas gerações, Lá estão a Queen e o Prince Philip mais a mãe da noiva Ms Doria Ragland. O jovem casal aparece belíssimo, com toque de romântica candura. Tudo impecável, sincronizado, comme il faut. Até a data de 19th May é tão bem escolhida que alinha com a espantosa realidade dos 0% de probabilidades de chuveniscar medidos no Royal Borough de Berkshire (England) – e coincide ainda com o aniversariar pessoal. Harry & Meghan é uma união familiar altamente improvável, mas é também uma true love story.


O sorriso dos céus e da Royal House é claro e claríssimos são os votos de a long and happy life para o first royal mix-race wedding irradiados em Windsor. But, but, but… Para o Prince começa uma segunda etapa na carreira pública, após abdicar da profissão militar em frescos anos, agora direcionada para a diplomacia na Commonwealth e com a mulher que ama a seu lado; já para Her Royal Highness The Duchess é toda uma outra vida, plena de exigências políticas e recato social, distante do trabalho de atriz em séries norte americanas entrecortada pelo blogar de opiniões e adesões ao sabor das circunstâncias. O desafio começa com um statment em letra agigantada no royal website: “Proud to be a woman and a feminist.” Confesso temer que o fantasma da Princess Diana ande ainda pelo Kensington Palace, the couple's official residence. Aliás, se o título comum de Royal Kardashians se ouve em volta, tributo ao espectáculo dos rich and famous lifestyles, intranquila é mesmo a história do título real do Dukedom of Sussex of the United Kingdom of Great Britain and Ireland, criado em 1801 para o infante Augustus Frederick pelo King George III (Yes, that one! The also Duke and Prince Elector of Hanover that lost America), extinto desde 1843 e agora recriado por HM Elizabeth II para o filho mais novo do futuro rei seu filho.

Dramática, colorida e por etapas é a infindável novela do anti semitismo no seio do Labour Party do honorável Jeremy Corbyn. O antigo Mayor of London Ken Livingstone demite-se das fileiras partidárias, após 50 anos de trabalhismo e quase um triénio de acesa polémica. A decisão é hoje revelada pelo próprio e justificada com a vontade de não criar mais dificuldades ao Corbynism, Red Ken declara que a anterior suspensão por causa dos “comments about Hitler, is a distraction." Antecipa uma eventual expulsão por via do inquérito interno às suas famigeradas teses sobre as políticas hebraicas do Nazism e revisionismos afins. Inicialmente datadas de 2016, mas amiúde repetidas entre a vitimação e o so sorry for that, nestas avulta o argumento do Kanzler Adolph ser um defensor do estado sionista: "He was supporting Zionism before he went mad and ended up killing six million Jews." A declaração, note-se, provém de um hard-leftist que continuamente protagoniza a contestação política a Israel. Mr Livingstone abandona agora a organização de Citizen Clem Attlee afirmando-se inocente: "I do not accept the allegation that I have brought the Labour Party into disrepute - nor that I am in any way guilty of anti-Semitism.”

A saída de cena deste líder trabalhista será apenas momentânea, se bem entendemos a personagem. Aliás, em matéria de ilustres has been, vêm aí de novo The Obamas. O casal Barack e Michelle O. acaba de selar um contrato com a Netflix, ora de valor desconhecido, para um pacote de filmes, documentários e seriados acerca da sua vida antes, durante e após a passagem pela White House. Elemento interessante é o antigo President e First Lady dos United States of America participarem na produção dos scripts. O casal igualmente tem fechado o acordo para a publicação em livro das memórias políticas, com um cheque de $65 million escrito à cabeça pela Penguin Random House, Meanwhile, algures entre os programas de Mr David Letterman e o comentário corrente sobre os public affairs, a dupla vai tornando-se uma presença habitual nos écrans televisivos dalém oceano, — Well. Please, not so fast. Remember that drink line of Master Will in Henry V, when the King is preparing the attack against the French at Agincourt: — “Would I were in an alehouse in London! I would give all my fame for a pot of ale, and safety.”

 

St James, 21st May 2018

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

 

Brave Lady Tessa, and The Constitutional Straits, 2018

 

No final, o que dá à vida significado é tanto o modo como é vivida como o modo como termina. / In the end, what gives a life meaning is not only how it is lived, but how it draws to a close. Estas palavras são da Baroness Jowell of Brixton no último discurso na House of Lords a 25 January, em debate sobre os tratamentos cancerígenos no National Helth Service.

A câmara alta levanta-se em longa ovação à sua “good reason for hope.” The RH Tessa Jowell parte este Saturday, aos 70, após difícil batalha contra um cancro no cérebro. — Chérie! À l'œuvre on reconnaît l'artisan. A Prime Minister Theresa May persiste na via da parceria euro aduaneira, quando o Duke of Wellington apaga a data da saída do reino da European Union nas emendas à Brexit Bill. O Mail escritura primeira página sobre os “traitors in ermine.”— Well. As one knows his saints, one honors them. O Head do MI5, Mr Andrew Parker, adverte em Berlin para os perigos de vulnerabilizar a parceria atlântica on common security. Dias depois de rasgar o acordo nuclear com o Iran, por videolink e não por twitter, o President Donald J Trump inaugura oficialmente a nova embaixada dos USA em Jerusalem. O Israel PM Benjamin Netanyahu declara o dia histórico, mas a violência irrompe na fronteira de Gaza. O French President Emmanuel Macron recebe o Charlemagne Prize em Aachen (Germany), pela ‘vision of a new Europe.” Italy tem novo governo, uma coligação dos populistas 5-Star e Liga.

 

Another sunny day at St James. O warm weekend traz notícias fortes. A Reverend Sarah Mullally é sagrada como 133rd Bishop of London em St Paul's Cathedral, tornando-se a primeira mulher a exercer o alto cargo anglicano na sequência de notável carreira como enfermeira no NHService. Outra grande senhora ocupa lugar na eternidade: Dame Tessa Jane Helen Douglas Jowell (1947-2018). Reconhecidamente a smart operator nos corredores de Westminster, uma Blairite plus de sorriso aberto nos Tony Cabinets, a admiração pela Secretary of Culture cresce nos dias do fim. Na agonia de operações cirúrgicas e sessões de rádio e quimioterapia, a MP por Dulwich & West Norwood luta por melhores condições dos pacientes de cancro. Ei-la nas Houses of Parliament e em Downing a corporizar the last cause. Emociona nos Lords ao defender a Eliminate Cancer Initiative, deveras fragilizada, embora com le savoir faire de quem cruza os rios partidários. Cita o amado poeta Mr Seamus Heaney: “Noli timere — do not be afraid. I am not afraid. I am fearful that this new and important approach may be put into the ‘too difficult’ box, but I also have such great hope.” Os Commons prestam, já hoje, uníssono tributo à ministra emblemática dos Blair Years, aquela que conforta as famílias das vítimas do terror no 7/7, uma a uma, e conquista os 2012 Olimpics para London. O Speaker John Bercow caracteriza-a como “the embodiment of empathy, a stellar, progressive change-maker, and a well of practical compassion without rival, (…) the best of us.”  A amiga Theresa May recorda-lhe a força de carácter, os contributos para o reino e ainda o humor: “For many years after London won that Olympic bid the screensaver on her phone was a photo of her and David Beckham after the announcement—hugging. As she said: “You can be a feminist but still be susceptible to a David Beckham moment.” O Labour Leader Jeremy Corbyn conclui que Baroness Jowell “taught us how to live, and I think she also taught us how to die.” Cumprindo o generoso legado político da Brave Lady, o HM Government anuncia financiamento anual de £40m para a investigação dos tumores craneanos; valor logo acrescentado com mais £25m doados pelo Cancer Research UK. ― Rest In Peace, Dear Tessa.


Britannia between Scylla and Charybdis, por James Gillray (1793).

 

Morrer com dignidade é o que os Brexiteers profetizam irá acontecer à opção primoministerial de a new customs partnership entre o United Kingdom e a Other Union. Apesar de derrotada no seio do May Cabinet, com o novel Home Secretary RH Sajid Javid a todos surpreender ao votar contra, a proposta permanece sobre a mesa do Number 10, justamente a par da alternativa max facilitation para lidar com a Irish border e dado o sombrio cenário criado pela série de 14 emendas (Yes, 14!) feitas na House of Lords à European Union (Withdrawal) Bill. Na Second Chamber, quando se estimava ter-se visto tudo na manutenção pelos Noble Lords do continental status quo, pasma o ataque frontal desencadeado por nenhum outro senão o 9th Duke of Wellington. Arthur Charles Valerian Wellesley, por cortesia Marquess of Douro e ex Tory Member do European Parliament por Surrey, Peer of The Realm por sucessão hereditária, avança com moção que deixaria em aberto a exata data do Leave. Para lá da borracha sobre o dito Independence Day, 19 March 2019, acentua-se a murmuração em Whitehall de frescas tentativas para algures prolongar o período de implementação já acordado nos tratos negociais com Brussels. Ora, face ao incerto state of play, como que a replicar, na contemporaneidade, os contornos oitocentistas de Mr James Gillray no clássico constitucional Britannia between Scylla & Charybdis ‒ Or: The Rock of Democracy vs The Whirlpool of Arbitrary Power, agudizam-se também as várias oposições à unelected chamber. Se a imprensa brexiteira retoma a deselegante retórica da high treason, Downing Street declara-se “disappointed by Lords votes on Brexit laws,” com a Right Honorable Theresa May MP a escrever no Sunday Times um cândido “trust me” relativo ao total respeito governamental pela vontade popular expressa no euroreferendo de 2016. A história observa os atores do tempo.

 

Sombras também sobre o Royal Wedding do Prince Harry of Wales e Meghan Markle a 19th May, embora com presumível inclinação da mitológica barca de Homer para conhecida margem dos Straits of Messina. O obscuro pai da noiva decide monetizar o evento junto dos paparazzi circles e consta por cá que, discretamente, com poder qb para tal, alguém nos palácios retalhou canónico convite para o Windsor Castle. A realíssima circumnavegação do mais jovem casal de infantes afigura-se aventurosa, pois. — Well. Let’s also get on with it. Even ours fabulous Master Will plainly makes out in The Merchant of Venice that there are some hazardous rocks along the odyssey of a common life: — “When I shun Scylla your father, I fall into Charybdis your mother.”

St James, 14th May 2018

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

 

The English Dream, Local elections and, A customs partnership, 2018

 

Muda o dignatário e suavizam-se as políticas de emigração. RH Sajid Javid é o novíssimo Home Secretary e é também o primeiro governante de raíz asiática e extração muçulmana a ocupar um dos quatro Great Offices of State. RH Amber Rudd resigna do cargo após resistir uma semana a revelações no Guardian sobre o titânico Windrush Affair, tropeçando finalmente nas respostas a comité parlamentar e cai por ter “inadvertently mislead the House.” O May Cabinet perde assim o quarto ministro e uma voz feminina liberal nas trincheiras da Brexit. — Chérie! Tant va la cruche à l’eau qu’à la fin elle se casse!

Os Tories acomodam a crise étnica e sobrevivem no adverso terreno das eleições locais de 4 May, em England, ao beneficiar do colapso do voto Ukip, com os Liberal Democrats a recuperar municipalidades e o Labour a ficar aquém das húbricas expetativas nos círculos de London. — Well. Never sell the fur before shooting the bear. Além mares é o trumpismo em todas as latitudes. Após o male’s friendship show do French President Emmanuel Macron na White House e o professional meeting com a Bundeskanzlerin Angela Merkel, o US President Donald J Trump confirma visita ao reino a 13 June. No entretanto avistar-se-á com Mr Kim Jong Un, com o objetivo da desnuclearização peninsular e os créditos do abraço histórico dos líderes das duas Koreas na zona desmilitarizada. Já o Foreign Secretary Boris Johnson está de visita a Washington DC para persuadir a administração norte americana da virtuosidade do acordo nuclear do West com o Iran. Em Spain, ao dissolver-se, a ETA pede públicas desculpas pelo sangue que por lá derramou durante décadas.

 

Glorious sunshine in this Monday Bank Holiday at St James, with almost everyone at the garden. O longo fim de semana e a quente atmosfera entrecruzam os quadros de veraneio com o rescaldo das eleições locais pelos média e ainda com tristes notícias sobre uma onda de violência juvenil. Não menos temível que estas batalhas entre gangs, anda de novo a Brexit War. A Prime Minister Theresa May tem em discussão a new EU-UK customs partnership no seio do HMaj Government. O modelo híbrido surge na sequência das derrotas sofrida pela European Union (Withdrawal) Bill na House of Lords, cujos debates em sede de matéria amiúde roçam o surrealismo, não faltando sequer o fantasma do ‘Uncle Adolph’ na fundamentação de série longa de emendas legislativas. Especialmente significativa é a que introduz autorização parlamentar para obrigar o executivo a regressar a Brussels para mais negociações, caso das atuais resulte acordo insatisfatório ou o famigerado no-deal. Empolgados pela ousadia dos pares, no apagar do referendo popular de 2016, os usuais suspeitos em Whitehall murmuram “the need of five more years” para implementar a saída do reino do clube continental. Em tudo isto movem-se discrete & Unhappy Brexiteers, ainda com October como data flutuante para encerrar o processo nas Houses of Parliament e contando os fuzis nas bancadas – talvez insuficientes para dar luz verde ao livre ajuste com a Other Union; bastantes, todavia, para lançar os Tories em corrida à liderança de Downing Street.

 

Se o Hitler claxon logo esfuma a efémera europeleja retórica na câmara dos pares e desnuda a guerra friccional todo o terreno entre Remainers e Leavers, o cenário de derrube da PM em modo thatcheriano ganha poderoso barítono, O honorável acaba de receber as chaves do Home Office, um sabido cemitério de políticos ambiciosos mas também uma prancha de lançamento para o 10. De lá sai, aliás, Mrs May; e de lá esperavam os centristas conservadores projetar RH Amber Rudd. A expetativa em torno da MP de Hastings and Rye (East Sussex) fica agora em mar de sargaços, não obstantes a resiliência da senhora ter ficado provada: caída como ministra no domingo à noite, no dia seguinte ergue-se na House of Commons com questão à PM sobre o controlo do terrorismo – pasta que geria. Seja como seja, uma eventual disputa pelo leme primoministerial tem um novo candidato potencial, cujo perfil, currículo e rol de serviços soma vantagens na geopolítica interna do Conservative Party e ainda na constelação britânica de eleitorado multicultural.

 

Por cá é falado entre portas como “The Coconut,” dado o sincretismo. Assumido “2nd-generation immigrant” e jurado em funções com promessa de “do right,” o ministro da administração interna é casado com uma católica e é flho de um muçulmano condutor de autocarros– um paquistanês, chegado ao UK em 1961 com 1£ no bolso. Nascido em Rochdale (Lancashire), cresce com 4 irmãos num 2-bedroom flat de bairro pobre em Bristol onde a família abre uma loja comercial. Ido do Filton Technical College, conquista lugar na University of Exeter e ruma licenciado à City. Aos 20 anos participa em primeva conferência partidária, como thatcherite, não se coibindo de desalinhar da Iron Lady quando esta decide a adesão de Britain ao EU Exchange Rate Mechanism. Aos 25 anos vai para o Chase Manhattan Bank e torna-se o seu youngest ever vice-president em New York. Regressa a London como diretor do Deutsche Bank, sendo recolocado em Singapore. Em 2009, com alguns milhões na bolsa, empenha-se na vida política por inteiro. Em 2010 é eleito como MP de Bromsgrove (Worcestershire). Entra para o Cameron Cabinet dois anos depois, como Economic Secretary to the Treasury (2012), Financial Secretary to the Treasury & City Minister (2013), Minister for Equalities (2014) até Secretary of State for Culture, Media and Sport (2014, com a supervisão da BBC). O trilho ascensional perdura no May Govt, como  Secretary of State for Business, Innovation & Skills (2015, e President of the Board of Trade). Aos 48 anos de idade, if anything else. o Home Secretary RH Sajid Javid é um ilustre exemplar do English dream.

 

O mais jovem casal da Royal Family apronta o matrimónio agendado para 19th May na refrescante reverência pelas ancestrais tradições do reino unido. O último detalhe relativo à boda de Harry of Wales e Meghan Markle é a escolha da modalidade de transporte para St George’s Chapel, em Windsor.

Kensigton Palace revela que os nubentes escolheram um Ascot landau, isto é; uma carruagem descoberta, urbana, convertível, de dois bancos e quatro rodas, que desde já transmite nota romântica ao cerimonial. O fiacre será puxado por quatro dos famosos Windsor Grey Horses, bem humoradamente classificados como um “quartet of good-looking, hard-working royalists:” o Milford Haven, o Storm, o Plymouth e o Tyrone. Os Royal Mews possuem uma dúzia destes coches para uso em celebrações especiais como os jubileus régios, bem como para acontecimentos como a ida para Westminster e a vinda para Buckingham da monarca aquando do State Opening of Parliament. Espera-se um evento pautado por todas as marcas da realeza, pois, com os convidados menos uniformizados entre a pageantry e os trumpeters.

 

Nestes dias liquídos há aqui vincado traço de continuidade na linha de sucessão da coroa. Aliás, tais sinais somam-se em torno da House of Windsor. Após Elizabeth II indicar ser seu desejo que HRH The Prince Charles of Wales lhe suceda na Commonwealth, gosto imediatamente correspondido pelo G53, aquele recebe um outro singular tributo familiar ao saber o novo neto como Louis Arthur Charles. O Prince Lou-ee of Cambridge, nato a 23 April 2018, a par do middle-name do King George VI, tem o denominativo de alguém que o herdeiro do trono um dia descreve como “the grandfather I never had,” Lord Mountbatten, assassinado pelo IRA em 1979. Como bem escreve em português um amigo em belíssimo livro cujas páginas ainda me deliciam, ter memória é respeitarmo-nos.  — Well. Keep in mind how Master Will plays in Macbeth with the human mind and the perils of some exotic amnesia: — “That memory, the warder of the brain, Shall be a fume, and the receipt of reason.”

 

St James, 7th May 2018

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

 

The Royal Baby, The Global Family and, Her Maj’s choice, 2018

 

A thankful, grateful and, extraordinary St George’s Day. Wonderful news: A new Prince is born. Às 11:01 no dia do venerável patrono de England e data do nascimento de William Shakespeare nasce o terceiro filho dos Dukes of Cambridge, William e Kate. É o sexto neto de HM Elizabeth II e o quinto Windsor em linha para o trono britânico. — Chérie! Le bonheur de I'enfant est celui de la rose, qui fait ses perles d'un peu d'eau! Já o Home Office tenta reganhar as rédeas burocráticas no Windrush Generation Scandal.

RH Amber Rudd apresenta desculpas aos cidadãos erradamente visados com deportação e promete ressarcimento, mas o voto étnico parece perdido para os Tories nas eleições locais de 4 May. — Well. In great misfortunes 'tis that valour is shown. Fora de portas, tudo anda também muito animado. O French President Emmanuel Macron está de visita oficial a Washington DC, após uma prévia paragem em… Berlin. O comércio transatlântico e questões multilaterais como o acordo nuclear com o Iran estarão em foco também no encontro seguinte da White House, entre a Bundeskanzlerin Angela Merkel e o US President Donald J Trump. Por cá, o Commonwealth Heads of Government Meeting consagra o Prince Charles of Wales como sucessor de Her Majesty no leme da Global Family.

 

Beautiful, long and exciting days at Central London, with a royal arrival. A atmosfera festiva em torno de St James afigura-se até ininterrupta e em contraste com a neblina política em Whitehall. Se, ao som da “Carmina Burana,” a colorida e sempre populosa London Marathon domina um Sunday ainda fruído pelos nativos com banhos de sol no verde em volta, o clima de celebração popular abre cedo no Saturday, entre bandas e fanfarra militar, com a 21 gun-salute na Tower Bridge e em Hyde Park a saúdar o 92.º aniversário de Her Majesty The Queen. Nascida a 21 April 1926, uma radiante Elizabeth II encerra as comemorações com um televisionado concerto em Royal Albert Hall, onde, surpresa das surpresas, emerge político ukelele. A par das vozes de Sting e Kylie Minogue, vídeo e audio do longo reinado polvilhados com alguns dos seus trechos favoritos de "My Fair Lady" e a incontornável melodia palaceana que é "Wonderful World," canta um ex Labour Shadow Chancellor of the Exchequer. Soa “When I’m Cleaning Windows,” uma outra canção da Royal playlist. Junto com Harry Hill e Frank Skinner, acompanhados pelos espantosos banjos da George Formby Society, o inesperado trio de RH Ed Balls cativa a audiência em escala para uníssono "Happy Birthday" e entusiásticos “three cheers” ― em palco solicitados por HRH Prince Charles Philip Arthur George of Wales após uma ora clássica e bem humorada introdução a "Your Majesty, Mummy." Dois dias depois, em solar St George & Shakespeare day, Elizabeth of Windsor é ofertada pelos céus com mais um neto.

 

Um pequenote em xaile branco, o fato de linho azul do Prince William e o vestido vermelho da Duchess Kate of Cambridge marcam a apresentação do Royal Baby-Boy, com rasgados sorrisos, saudações e agradecimentos a escoltar as cores da Union Jack nas portadas do St Mary’s Hospital. A simplicidade e descontração dos duques revela cuidado no detalhe simbólico e eleva o entusisasmo da multidão que acorre a Paddington para saudar o novíssimo princípe, cujo nome só amanhã será revelado a sequiosos meios de comunicação de todo o mundo que ali espelham interesse pela nascença do Windsor ‒ aliás, em trilho de eventos que nos conduzirá ao casamento do Prince Harry e Meghan Markle a 19th May 2018. A cegonha voa célere. Pouco antes das 06:00, a Duchess é conduzida pelo marido à Lindo Wing em London. Às 08:24, o Kensington Palace confirma a entrada nos trabalhos do parto. Logo sob os holofotes do circo mediático, com a usual imagem do polícia acidental à entrada da maternidade nos écrans grandes e pequenos dos ilhéus, eis a boa nova. HRH Kate Middleton dá à luz a baby son às 11:01. É a primeira explosão popular; outras se sucedem ao longo das horas. Para a história do Prince's birthday fica ulterior revelação de o bébé pesar 8lb 7oz, uns bem nutridos 3.8kg. Já às 13:18 é a vez do Town Crier anunciar em pregão local que A Prince is born. O champagne e os cheers brotam abundantes nas redondezas. Sete horas depois do nascimento, entrecortada a royal play com a visita ao irmão dos adoráveis Prince George e Princess Charlotte, os duques regressam a casa. ― So: Congratulations to the baby boy and the happy parents. Let’us celebrate the day. And, God Save The Queen.

 

Westminster vive também dias excitantes. Com o Labour Party ainda às voltas com os problemas de antissemitismo nas suas fileiras e os Conservatives em modo de controlo de danos na gestão administrativa das velhas ondas emigratórias da Commonwealth, eis que a House of Lords cumpre com expetável travão na Brexit. Num senado onde pontua a elite eurófila do reino, a câmara alta inflige a primeira derrota parlamentar ao Government de RH Theresa May no processo de retirada do United Kingdom da European Union. Pela mão de Lord Patten of Barnes, nenhum outro senão o último governador de Hong-Kong e atual Chancellor da University of Oxford, ex comissário europeu e antigo ministro dos Thatcher e Major Cabinets, os pares aprovam uma emenda à European Union (Withdrawal) Bill com expressiva maioria interpartidária. A proposta legislativa regressa agora à House of Commons com pesada mensagem: repensem tudo, a fim de o reino permanecer na Customs Union. Face a isto e a eventual impulso rebelde para os Remainers de todos os quadrantes, Westminster está em chamas – entretanto gasolinadas com mais um exercício de Brussels para manipular a Irish border. Entre rumoração de plots e afins, em vésperas de ida a votos nas municipalidades do reino, Downing Street persiste que “Brexit means Brexit” e insiste que a decisão de sair da união aduaneira “will be no reverse.” Obviamente que a homeopática saga brexiteira segue dentro de momentos…

 

Neste big, big day, fecho com uma nota bibliográfica e a aposta de o nome do Windsor Baby integrar a tripla Arthur James + Antonio.

Na sequência da sua eleição como próximo líder da Coomonwealth, cargo para o qual é expressamente designado por "Your Majesty, Mummy," bom amigo revela-me a existência de discreta coletânea editada por His Royal Highness Charles of Wales: The prince's choice. A personal selection from Shakespeare, publicada em 1995 pela casa londrina Hodder & Stoughton. A silhueta do bardo ilumina a parada. Ainda em Paddington soa frase epigramática do Prince William aos media que acompanham o nascimento real: "Thrice the worry now!" Ao ouvi-lo, questiono-me por que não um atlante Antonio na House of Windsor… — Good, good. Remember those magic calculus that ours Master Wil makes in The Merchant of Venice by the voice of the Christian trader when speaking with gentle friend about a risky contract: [Bassanio] You shall not seal to such a bond for me! / I’ll rather dwell in my necessity. | [Antonio] Why, fear not, man. I will not forfeit it. Within these two months—that’s a month before / This bond expires—I do expect return / Of thrice three times the value of this bond.”

 

St James, 23th April 2018

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

 

The Humanitarian R2P, Higher Loyalties and The CHOGM, 2018

 

Agir ou ignorar? As nações nos dois lados do Channel reinventam-se na globalizada guerra síria ao decidirem por cirúrgica intervenção bélica ao lado dos USA, fundamentada no humanitarismo da responsability to protect. A Prime Minister Theresa May invoca também o “national interest” ao explicitar as razões da participação militar em debate na House of Commons.

Chérie! À bon entendeur, salut! O UK envolve quatro RAF Tornados no raide contra o arsenal químico do President al-Assad na sequência do assalto a Douma, O reino está agora em estado de alerta face a esperada ofensiva cibernética contra infraestruturas críticas por retaliação do aliado russo, — Umm. The return to the old cat and mouse game. Já Berlin ameaça o Kremlin, com a Bundeskanzlerin Angela Merkel a avisar que o Nord Stream 2 Pipeline através do Baltic Sea só avança com reconhecimento de Ukraine como “a transit country for gas to Europe.” Washington e Moscow dispersam as atenções. Na promoção de livro incendiário, o ex diretor do FBI James Comey afirma que o President  Donald J Trump é “morally unfit” para exercer o cargo. O visado em A Higher Loyalty riposta que o G-man por si exonerado é a “slimeball.” Escrita fatalmente incómoda pertence a Mr Maxim Borodin, porém, o mais recente jornalista russo a morrer em estranhas circunstâncias após relato sobre os mercenários do Wagner Group. London acolhe o Commonwealth Heads of Government Meeting e o Prince Harry of Wales é feito Commonwealth Youth Ambassador.


Os dilemmas do allowing & doing The War regressam ao debate público.

 

Fine climate at Central London, with birds, blooms and a beautifull sunshine. As gentes denotam o not worrying too much about the uncertainties of the British weather quando o Mall se preenche com as 53 bandeiras do Commonwealth Summit para a reunião intergovernamental de uma royal republic of 2,4 billions citizens around the globe por cá conhecida como The 2018 CHOGM. Também as House of Parliament retomam os trabalhos, com uma first full session até altas horas da noite a que não falta sequer colorida demo na novamente movimentada Westminster Square. Aliás, vem do exterior o mais persuasivo dos argumentos para assistir à acesa querela havida nos Commons sobre a operação síria da tríade ocidental. ― "For goodness’ sake, he is A DOCTOR!" O «bom doutor» a que a ativista se refere é Mr Bashar al-Assad, em episódio de protesto digno dos Monty Python e que evidencia a cândida incredulidade pacifista do grupo Stop the War face à alegada responsabilidade do regime de Damascus no ataque com gás a Douma. Já na câmara soa o aço na esgrima entre apoiantes e críticos do lançamento dos mísseis nas margens do Jordan River. A Prime Minister presta contas durante mais de três horas e responde robustamente a questões colocadas por 140 MPs. A Loyal Opposition acaba a ganhar novo emergency debate para amanhã, sob proposta de um War Powers Act apresentado por RH Jeremy Corbyn com exigência de consulta e voto parlamentar prévios a qualquer ação militar. Algo que, na prática, aspira revogar a presente e executiva Royal War Prerogative e que o Tory MP Andrew Bridgen logo reintitula como “No War Powers Bill.”

 

Se as condições do recurso à força são abertamente questionadas, nos fundamentos e na finalidade, já o Her Majesty’s Government invoca o interesse nacional e a importância de se punirem quantos violem a proibição mundial das armas químicas ― seja nas ruas de Salisbury ou nas de Douma. No longo debate ecoam as tensões entre a Russia e The West a par dos riscos de escalada militar entre as potências regionais do Levante. Downing Street hasteia o estandarte humanitário e a responsabilidade de proteger os sírios numa guerra civil que entra no oitavo ano com um passivo de aproximadamente meio milhão de mortos, 14 documentados ataques químicos e 11 vetos russos no UN Security Council a bloquearem the diplomatic road. Mrs May enuncia a base legal da aliança UK-France-US contra o regime de Damascus: "It required three conditions to be met. First, there must be convincing evidence, generally accepted by the international community as a whole, of extreme humanitarian distress on a large scale, requiring immediate and urgent relief. Secondly, it must be objectively clear that there is no practicable alternative to the use of force if lives are to be saved. Thirdly, the proposed use of force must be necessary and proportionate to the aim of relief of humanitarian suffering, and must be strictly limited in time and in scope to this aim.” Reagindo ao ruidoso criticismo das oposições, em particular à declaração de RH Red Jezza de esta ser “an action legally questionable,” a senhora insiste uma vez e outra que “we have done this because it was the legally and morally right thing to do."

 

A Prime Minister ventila princípios da guerra justa, a jus bello que por cá recorrentemente choca com clássico ‘flower power’ da Urnicopia que hoje milita no topo do Labour Party e no caso árabe se cruza com uma audível propaganda machine. Ora, 25 anos depois do fim oficial da Cold War, aquém das desventuras arenosas na Irak War mas a par da interposição bem sucedida no Kosovo, a atual polarização política contém ainda cicatrizes de um passado recente que cabe recordar para perceber o risco que o May Government corre no debate parlamentar de amanhã caso ali seja censurado por via de adversarial voto pacifista ou oportunista. O intervencionismo militar de caráter humanitário sofreu um sério revés na House of Commons, em 2013, às mãos do anterior líder trabalhista. Mr Ed Miliband logra então impedir, because of the opposition in the legislature, que o UK participe em similar ação do Cameron Tory Govt ao lado dos US, assim desmobilizando também o President Barack Obama na sua “red line on Syrian chemical use.” O rasto dos efeitos está à vista, em renovadas disputas nas esferas de influência, globais e regionais, num país de altas montanhas e vastos desertos, na borda do Mediterranean Sea, cujas fronteiras tocam Turkey, Israel, Irak, Lebanon e Jordan. Por perto estão, geograficamente claro, a Saudi Arabia e o Iran.

 

Desconhecendo-se quais os objetivos estratégicos da intervenção ocidental no vespeiro jihadista que é o Middle East e não vislumbrando por lá líder decente que caiba publicamente apoiar, ainda assim exigindo-se a quem pode que proteja os martirizados inocentes pelos quais o Pope Francis apela à consciência universal, última nota para históricos desastres que marcam os dias abrilinos, A 15 April 1912 afunda-se o Royal Mail Ship Titanic. O unsinkable transatlântico da White Star fazia a sua maiden voyage entre Southampton to New York, com pelo menos 2,224 passageiros e tripulantes a bordo. Cerca de 1,500 pessoas morrem no cognominado “The Millionaire’s Special,” após o maior navio da era edwardiana colidir com um icebergue. A 16 April 2018 naufraga o Home Office. Apura-se que o departamento governamental do 2 Marsham Street tem exigido a British citizens há décadas chegados de barco das várias paragens tropicais da Commonwealth, por cá trabalhando, criando família e educando filhos e netos, que provem “the right to live here” sob pena de deportação. O ministério ontem liderado por RH Theresa May e hoje por RH Amber Rudd choca nos emigration checks com elementar senso e a Windrush Generation do post-1945. Vêm aí, a galope, as eleições locais. — Bah. Precise portraits in King Lear makes Master Will of Edgar and Edmond after the discovery of their different status as sons of the Earl of Gloucester: — “This is the excellent foppery of the World that when we are sick in fortune – often the surfeit of our own behaviour – we make guilty of our disasters the sun, the moon, and the stars, as if we were villains by necessity, fools by heavenly compulsion, knaves, thieves, and treachers by spherical predominance..."

 

St James, 16th April 2018

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

1.jpg

 

A new centrist party, wise birds & a little if, 2018

 

Os episódios assemelham-se a aventura digna da ilustre mente de Mr Sherlock Holmes. Organizadores anónimos de um novel partido centrista no reino, chame-se-lhe o £50m Party, buscam sigilosamente há já um ano um Monsieur Emmanuel Macron britânico para encantar os ilhéus em branda aventura política; a inquirição sobre a misteriosa tentativa de assassinato de um espião duplo em Wiltshire (England) progride com prodigioso milagre e teia de hipóteses na matriz do whodunit; mesmo as

2.jpglinhas telefónicas da LBC quebram nas conversas mais interessantes que voam no éter sobre a autoria do bárbaro ataque químico na cidade de Douma (Syria). Uff! Convenha-se que só o consulting detective de Sir Arthur Conan Doyle estará à altura de descodificar o puzzle deste mundo perigoso. — Chérie! Pierre qui roule n'amasse pas mousse. A guerra de palavras entre US e a Russia atinge grau ameaçador no UN Security Council. — Umm. We never know in these days. Após uma cirurgia aos 96 anos, o Duke of Edinburgh regressa a um Buckingham Palace atarefado com o casamento de Harry of Wales com Meghan Markle. Her Maj brilha na ITV. Em Ankara, Mr Recep Tayyip Erdogan adota o uniforme militar. Na Korean Peninsula é a pop-diplomacy, com o President Kim Jong Un a assistir a concerto do South em Pyongyang. Beijing impõe tarifas aduaneiras a importações americanas na ongoing trade war e Moscow retalia The West expulsando 150 diplomatas de 28 países. Mr Viktor Orbán triunfa em Hungary com terceira maioria eleitoral. Agudiza-se o diferendo legal entre Brussels e Warsaw.

 

3.jpg

 

Light rain withint breezy weather at Central London. Com o Parliament in recess, eis doce pausa na série dos hectic days que pautam um ondulado Winter em St James. O tempo livre estimula o apetite cultural. É o guarda chuva para passeios em volta que afinal triunfa, em persistente peregrinação a Trafalgar Square para observar as coloridas gentes e o detalhe do Assyrian God que ali escolta a estátua de Lord Nelson depois do original ser reduzido a pó pelo Isis em Nineveh. Os palcos desajudam a ementa variada, quando os tambores de guerra rufam na paisagem global. O laureado Hamilton continua inacessível, agora com sete Olivier Awards alinhados na apinhada bilheteira do Victoria Palace. Os Macbeth encenados na pós Brexit Britain não atraem nas colunas dos dear critics cá de casa. No National do South Bank há espectáculo de “horror of violence,” segundo Mrs Ann Treneman; no Royal Shakespeare Theatre, aquém do privilégio de subir a Stratford-upon-Avon, o Times informa que só ali se vislumbra uma personagem entre fantasmas: Ms Niam Cusak, sereia na pele de uma Mrs M “urging her man to get a move on with the business of murder!” Admirável e a rever, sim, é o bem humorado garden tour de Sir David Attenborough na ITV ‒ “The Queen’s Green Planet.” Aos 91 anos, wise old birds, ambos são esplêndidas criaturas desta ever green Land. Pormenor floral é existir planta named in honour de Her Majesty: a fresca e exótica floribunda rose.

 

A saga do Brexit prossegue a pleno vapor, somando-se os sinais de give in nos setores relutantes. Game over! Or simply time for temporary truces? A Prime Minister viaja aos países nórdicos, com os eventos na Syriana a obscurecerem a agenda diplomática do No. 10. Não de todo, porém. A ala eurocética adverte em surdina que Downing Street negoceia acesso às águas territoriais junto das EU fishing nations, como “bargaining chip” no acordo comercial entre as duas uniões. Em Denmark e Sweden, deixa RH Theresa May uma mensagem clara mas para Damascus &co: “the [President Bashar al-Assad's] regime and its backers, including Russia, must be held to account.” Alinha-se com Washington e Paris. No reino, líquidos à parte, recorda-se a traumática aventura iraquiana em debate aceso sobre a legitimidade ocidental para hastear a bandeira dos direitos humanos. Se os meios militares preparam a próxima guerra no Middle East à distância do “little if” quanto aos resultados da UN na inquirição em Douma, a conversa na cidade circula ainda em torno de vaga de knife & gun night crime a par de curiosa notícia na honorável Press. Procura-se um neo Tony Blair a la mode Macron nas nações do UK e para tal sigilosa “network of entrepreneurs, philanthropists and donors” disponibiliza £50millions. A iniciativa indicia algo em Westminster: que os moderados estão para além do ponto de resistência no Corbyn Labour Party, tal qual os Tories eurófilos descrêm de útil aliança com os Liberal Democrats nas 2022 Elections. So, probably, a move for the birds!

4.jpg

 

E… boas vindas à Delt∆Poll, a mais recente empresa britânica chegada ao mercado das sondagens. A estreia no local intelligence mining ocorre no Observer deste Sunday em torno de tema quente: a extensão com que o antisemitismo é percecionado ter penetrado nas fileiras do Labour Party. Whoop-de-doo. O objeto estatístico merece o título na versão autêntica de tão nuancé este é construído: “we investigated the extent to which anti-Semitism is perceived to have permeated Labour Party ranks.” Resulta que um em cada cinco trabalhistas admite a existência do problema e um em cada três está indeciso quanto à questão judaica que este weekend leva a novo e audível protesto, desta vez às portas do quartel general do RH Jeremy Corbyn. O dado a fixar a atenção na pesquisa não são percentis, antes o seu preâmbulo. “But let’s start with the polling truism that can never be mentioned enough: no matter how high-profile an issue might be in Westminster and in the media, no matter how profound the implications of it might be, sizable chunks of the British public will dutifully carry on largely unaware of it or not care about it,” anunciam os mineiros. Anda aqui agenda em indústria que vive maré baixa. A equipa da ∆ é experiente: Joe Twyman, ex YouGov’s head of political research, Martin Boon, vindo da ICM e Paul Flatters, outrora head of Political News research na BBC e sabido mareante de várias forecasting agencies. O trio é crítico do mundo que constrói: “Here’s a chance for pollsters to grasp the holy grail of accurately predicting seats from polling data allied to sophisticated modelling, and the race is on to perfect it.” Feliz peregrinação à Delt∆, pois, que do furor anti hebreu estamos avisados. — Umm. Well detect Master Will in Sonnet 149 that humanity has its dark sides: — “Who hateth thee that I do call my friend? (...) But, love, hate on, for now I know thy mind: Those that can see thou lov'st, and I am blind."

 

 

St James, 10th April 2018

Very sincerely yours,

V.