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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Haruki Murakami: uma pista ao correr da pena ou o género de homem que não se importa minimamente de estar só.


Haruki Murakami

 

Estudou teatro grego, é cada vez mais, um autor de culto, lido muito particularmente por jovens e por várias vezes já referido como fortíssimo candidato ao Nobel da Literatura.

 

Em 1949 nasceu em Quioto.

 

Calculo que a maior parte dos corredores de fundo(…) tenham desde há muito todos o mesmo ritmo cardíaco (…) o seu coração, mergulhado nos pensamentos, bate devagarinho ao sabor do tempo, refere Haruki no seu livro “AUTO-RETRATO DO ESCRITOR ENQUANTO CORREDOR DE FUNDO” uma edição da Casa das Letras cuja 1ª edição data de 2009.

 

Na verdade, a leitura deste livro leva-nos a uma série de alongamentos dos sentires e dos intuíres, enquanto músculos adaptados aos pensamentos de longa distância. O corpo e o espirito interagem, influenciando-se, e o que não pode ser mudado de raiz é a natureza tal como pulsa na leitura deste livro.

 

Também resulta bem claro que o efeito do tempo é tal que, na corrida, aprende-se a ser feliz, e poder pensar assim é uma das vantagens de ser mais velho, conclui Haruki.

 

E também na corrida, apertamos mãos e despedimo-nos. Suamos o amor e interrompemo-nos como quem vive fora de si, um outro seu, que, afinal, é luz do mesmo parto. E continuamos a correr rumo ao destino. Rumo à guitarra de um tema de Neil Young. Assim mesmo, entre o alívio e a satisfação de pedalar o nosso interior sedento. Apenas sedento. E tanto.

 

Também nos chegam pelas palavras deste livro, os nossos próprios triatlos, o que, de um modo ou de outro, nos afasta do ofício pretendido. É que, de certa maneira, o que atrapalha a interpretação do tempo, reside no desconhecimento do tempo que o tempo quer, que a ele se dê, para ser tempo de um tempo novo e sucessivo, e não sucedâneo do tempo que nele habitou. Este é segredo aberto neste auto-retrato do escritor enquanto corredor de fundo.

 

E quando nadamos a escrever um livro? E quando o rio onde se nada tem nome de gente? E quando o lápis corre no gozo de quem anda de patins em linha?

 

Interrompo a leitura e repasso o pensamento pelos especialistas em curtas e médias distâncias, e vê-se que estão preparados para a velocidade que perde a paisagem e a viagem.

 

Li assim Murakami, ilha forte na tarde de sábado. Também reli “Crónica do Pássaro de Corda”. Murakami. Sem dúvida.

 

 

Teresa Vieira