Sophia de Mello Breyner Andresen: a densa lucidez é também sinal de ti
E deixa que o diga ainda de outro modo:
Voltaste vezes sem conta ao verso- núcleo de onde partiste, e nunca o abandonaste.
Acompanho Eduardo Lourenço
«Sophia, longínqua filha de Rousseau (…) aquém ou além da História, inteiramente imersa na Natureza»
Assim me acompanhas, devo dizê-lo, e também muito pelo mar. Pelo mar já que por ele faço caminho e assim te abraço no "Vemos, Ouvimos e Lemos. Não podemos ignorar!".
Em 1999 foste a primeira mulher portuguesa a receber o Prémio Camões ainda que bem soubesses a pertinência da frase de Augustina a teu respeito
"Há mulheres que têm virtudes de rainha e por isso são mal compreendidas».
E na faina dos actuais tempos, convoco-te
Vimos o mundo aceso nos seus olhos,
E por os ter olhado nós ficámos
Penetrados de força e de destino.
Ele deu carne àquilo que sonhámos,
E a nossa vida abriu-se, iluminada
Pelas paisagens de oiro que ele vira,
Veio dizer-nos qual a nossa raça,
Anunciou-nos a pátria nunca vista,
E a sua profissão era o sinal
De que as coisas sonhadas existiam.
Vimo-lo voltar das multidões
Com o olhar azulado de visões
Como se tivesse ido sempre só.
Tinha a face orientada para a luz,
Intacto caminhava entre os horrores,
Interior à alma como um conto.
E ei-lo caído à beira do caminho,
Ele – o que partira com mais força
Ele – o que partira pra mais longe.
Porque o ergueste assim como um sinal?
Pusemos tantos sonhos em seu nome!
Como iremos além da encruzilhada
Onde os seus olhos de astro se quebraram?
Como um dia disseste, encontraste a poesia antes de saberes que existia a literatura. Agora eu e este teu Vidente – e que bem nos sentimos neste entender-te! – não aboliremos nunca os dias luminosos, ou o meio-dia não fosse a hora da próxima brisa.
A hora dos remos !
Teresa Vieira