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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Charles Baudelaire:

un rôle nouveau d’intermédiaire entre la Nature et l’homme.
E
t l’on peut pour cela te comparer au vin.

 

 

Também se cresce ligado aos poetas franceses como Charles Baudelaire, e levamo-lo depois até aos poetas espanhóis, ingleses e brasileiros, e a todos quantos afinal conquistariam a admiração de Victor Hugo e Flaubert que, por sentirem a obra de Baudelaire única até no seu lirismo indomável, contribuíram para que este poeta marcasse de jeito indelével a intectualidade francesa do séc. XIX.

Baudelaire dedicou a sua vida a uma boémia embriagante, e embriagando o poema, expondo a força da emoção extrema a que se entregava sem cautelas, Baudelaire foi igualmente um cáustico na sua visão da realidade, num sentir de homem de sentires extremos.



Deste seu livro aqui recordamos:


AU LECTEUR


(…)


Si le viol, le poison, le poignard, l'incendie,
N'ont pas encor brondé de leurs plaisants dessins
Le canevas banal de nos piteux destins,
C'est que notre âme, hélas! n'est pas assez hardie.


(…) tu le connais, lecteur, ce monstre


délicat,


-Hipocrite lecteur, - mon


Semblable, -mon frère !

 

«Neste livro atroz, pus todo o meu pensamento, todo o meu coração, toda a minha religião, todo o meu ódio.», escreveu Baudelaire.

“Les Fleurs du mal” constituiu em 1857 uma obra provocante e dotada de um novo intermediário que não é mais do que o poeta, ele mesmo, por entre a Natureza e o Homem expondo a situação difícil do artista, num mundo burguês que transpirava positivismo,

Os cafés parisienses também ainda hoje se recordam de um lirismo agudo e imposto a todos quantos dele nada receassem. Talvez por isso, talvez por esse forte desafio, foi reconhecido internacionalmente Baudelaire como um dos fundadores da poesia moderna. Em rigor, através de uma percepção clara do real se dava o passo que definia o sentimento que se desejava expressar e objectivar, nesta fonte nascida e chamada poesia moderna.

 

Baudelaire está absolutamente convencido que só o poeta tem capacidade de entender intimamente o mundo sensível, o mundo dos mistérios espirituais e sensoriais, e, para sempre, fica grato por ter encontrado na Bélgica Félicien Rops, que ilustrou o seu livro “As flores do mal” inovando o próprio lápis ao casá-lo com a nova experiência.

 

Trabalha Charles Baudelaire o soneto com grande mestria – registe-se - e torna-o em poemas didácticos e de acordo com uma progressão lógica do raciocínio.


Enfim, a prova de que existe um perfume, também na técnica, que apenas o poeta sabe desvendar o significado.


Recordemos:


Correspondances


La Nature est un temple où de vivants piliers
Laissent parfois sortir de confuses paroles;
L'homme y passe à travers des forêts de symboles
Qui l'observent avec des regards familiers.

Comme de longs échos qui de loin se confondent
Dans une ténébreuse et profonde unité,
Vaste comme la nuit et comme la clarté,
Les parfums, les couleurs et les sons se répondent.

II est des parfums frais comme des chairs d'enfants,
Doux comme les hautbois, verts comme les prairies,
— Et d'autres, corrompus, riches et triomphants,

 

Ayant l'expansion des choses infinies,
Comme l'ambre, le musc, le benjoin et l'encens,
Qui chantent les transports de l'esprit et des sens.

 

E pelas palavras de Valéry : «As Flores do Mal não contêm poemas nem lendas (…). Não há nelas nenhum discurso filosófico. A política está ausente por completo. As descrições, escassas, são sempre densas de significado. Mas no livro tudo é fascinação, música, sensualidade abstracta e poderosa.»

E como vemos o ser, como existe fora de nós, e experimentamos a fantasia desaparecida, conhecendo as ilusões e o seu papel na nossa vida, apelo também aos teus “Pequenos poemas em prosa”.

Et l’on peut pour cela te comparer au vin : dans la nature elle-même.  E assim te proponho de onde partiste.

 


Teresa Vieira

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