LONDON LETTERS
William Pitt the Younger, 1759-1806
A extraordinária decisão do rei a todos causa séria consternação. Como se não bastassem os efeitos da guerra da independência nas colónias norte-americanas, a galopante dívida nacional a esmagar a economia ou ainda os ecos do terror jacobino vindos da França revolucionária, eis que George III entrega a gestão do reino aos cuidados de um inexperiente colegial saído de Cambridge University. – Le meilleur des mondes, sans doute! William Pitt the Younger conta 24 anos quando é nomeado First Lord of the Treasury e Chancellor of the Exchequer, tornando-se o mais jovem Premier de sempre e um dos que mais tempo permanece no No. 10 Downing Street. – Well, the younger brother the better gentleman. O segundo filho do Earl of Chatham entra na House of Commons em January 23, 1781. Tem então 21 anos de idade, representa Appleby e afirma-se um “independent Whig.” Este é o político que dominará Whitehall durante as duas décadas seguintes, num período crucial da história europeia, até ao passamento em 1806, também 23 January, com 46 anos, as finanças pessoais a roçar a falência e à frente do seu segundo governo. O país entroniza-o como um dos santos de Westminster.
Os contemporâneos conhecem-no como o “boy-prime minister” da série Blackadder, na qual Mr Simon Osborne protagoniza um rapazola chamado ao exercício do poder "right in the middle of exams." Ora, se para uns Pitt é uma espécie de James Dean na sociedade hanoveriana e para outros nada diverso de uma criatura de George III e das políticas palacianas, evidente é a longevidade acompanhar a precocidade no caso deste Great Pragmatist. Acontece até que The Younger concerta as finanças públicas enquanto capitaneia os exércitos contra a revolução a cavalo de Napoléon Bonaparte, se bem que à custa do pesado “new graduate income tax” e por via de dilatada redefinição da “law of treason.” Já líderes como Mr Benjamin Disraeli ou Sir Winston S Churchill o veneram como um dos pais fundadores do New Tory-ism e maestro da mutação do ancient régime sem convulsões sociais, justamente quando as fábricas de Manchester recebem os teares mecânicos que impulsionam a First Industrial Revolution.
William Pitt The Younger serve duas vezes como British Premier: de 1783 a 1801 e de 1804 a 1806. Os public affairs são o negócio da família: quer o pai, William Pitt The Elder, como o tio materno, George Grenville e Earl of Temple, foram PMs. Com tal pedigree e exclusiva dedicação ao país, nunca se casando sequer e empobrecendo em funções, entende a política como “a problem-solving matter” e não um teatro de variedades cortesãs. A atitude austera e a cuidada retórica sensibilizam os pares, mas mesmo os amigos lhe censuram a frieza. Determinação é traço amiúde patenteado, não hesitando em expulsar L'ambassadeur français aquando da decapitação de Louis XVI (que conhecera em Paris, com Marie-Antoinette) ou em afrontar o King George em áreas sensíveis como a emancipação do voto católico, a abolição da escravatura ou a reforma parlamentar.
A preservação da liberdade é o princípio político sempre afirmado pelo “House of Commons man.” Em 1805, brindado como “the Saviour of Europe” pelo Lord Mayor de London, Pitt sintetiza lendária visão: “Europe was not to be saved by any one man, and (…) England has saved herself by her exertions; and will, as I trust, save Europe by her example.” Mas este seria tema para outra carta sobre o autor do 1801 Act of Union, que unifica a Great Britain (England, Scotland e Wales) com Ireland como United Kingdom. – Yeah. After all Jack wold be a gentilman if he coude speke frenssh.
St James, 22nd January,
Very sincerely yours,
V.