Maurice Merleau Ponty: a fenomenologia e a revelação.
A fenomenologia é o estudo das essências, das essências da percepção, das essências da consciência, e é também, uma filosofia transcendental que compreende o mundo, nunca esquecendo que ele existe antes da reflexão. É assim uma ambição, uma tentativa.
Leçon sur la leçon? Sim. Pelo menos por esse ângulo cheguei-me um tanto mais ao compreender que, em cada acto de percepção, o mundo em nós renova-se e revela-se com um sentido de evolução. Assim, ser uma consciência, é ser uma experiência, é comunicar interiormente com o mundo.
Acabei de reler”Fenomenologia da Percepção” de Merleau-Ponty e julgo ter tido melhor acesso à frase de Paul Ricoeur por ocasião da morte de Merleau:
O inacabamento de uma filosofia do inacabamento é duplamente desconcertante.
Traduz muito esta frase, o quanto foi forte o abalo da Filosofia contemporânea pela interrupção da notável obra, daquele que foi considerado o mais original discípulo da filosofia husserliana.
Para Merleau-Ponty, o ser humano é o centro da discussão sobre o conhecimento. Este nasce e faz-se sensível desafiando a consciência perceptiva.
Chegamos então ao incessante que recomeça em nós numa tarefa filosófica que recusa toda a cristalização do trabalho do percepcionar.
Torna-se necessário, o conhecermos o nosso próprio ponto de apoio, e onde ele se situa, torna-se mesmo impossível não fechar contrato connosco próprios, se assim não for. E este contrato, a existir, de tão perigoso e fechado nos torna finitos.
Sem comunhão interior entre nós e o mundo, levados pela mestre- mão da percepção seremos capazes de nos libertar de muitas limitações: eis que até podemos chegar à consciência constituinte.
Todavia, também chamamos sol ao que nos dá força para combater na guerra contra todos os intermédios, até que consigamos dividir a paz em quantas partes nos sossegue. E logo ouvimos Maiakovski
Vós
que tendes uma ideia
vejam como eu
me divirto,
rufia
de rua e batoteiro!
Mas Merleau, na sua obra, não nos deixa sozinhos nesta nossa ratoeira. Há que recomeçar o esforço, reassumir o movimento da reflexão. Talvez por isso a fenomenologia da percepção aspira a que se atinja o nosso-estar-no-mundo, nunca descurando o horizonte, a partir do qual, se não cede à não procura das essências.
É-nos proposto um constante recomeçar sempre em estado de aspiração e de volta às coisas mesmas e, mesmas, só na aparência, mas não nas essências.
Cuide-se que a unidade do mundo a partir da qual se desdobram as atitudes é apenas parte do horizonte. A consciência é destinada ao mundo, um mundo que ela não abarca e nem sequer possuí, mas em direcção ao qual ela não desiste de se dirigir.
Mais uma erva primeira, este livro de Merleau-Ponty.
M. Teresa Bracinha Vieira
Setembro 2013