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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!


(de 10 a 16 de Novembro de 2008)
 

 

AS CONFERÊNCIAS DEMOCRÁTICAS (até pela repercussões que tiveram, desde o momento em que se fizeram, e pela projecção nacional dos seus temas e activistas) prenunciaram esse tempo de intervenção social, que o século XX viria a ser por caminhos múltiplos. E, assim, mais do que a preparação de uma revolução política, com repercussões apenas imediatas, o que Antero de Quental e os seus pretenderam foi um despertar nacional. Isso mesmo não o compreenderia Teófilo Braga, demasiado apegado a um projecto republicano positivista. No entanto, hoje sabemos, a influência das Conferências ultrapassou em muito as fronteiras limitadas de um mero movimento de contestação. Conservadores e progressistas, republicanos e socialistas sofreram a influência do impulso pedagógico que está condensado na magistral conferência de 27 de Maio. No fundo, há uma nova atitude, que não só completa as intervenções fundamentais da “Questão Coimbrã”, não numa perspectiva literária e sim segundo um pensamento social renovador, mas também define, política e espiritualmente, um apelo à capacidade criadora dos povos peninsulares. Para trilhar um novo sentido, haveria que fazer a crítica das condições propiciadoras da decadência, o que acontece num dos melhores textos da nossa literatura: “Erguemo-nos hoje a custo, espanhóis e portugueses, desse túmulo onde os nossos grandes erros nos tiveram sepultados: erguemo-nos, mas os restos da mortalha ainda nos embaraçam os passos, e pela palidez dos nossos rostos pode bem ver o mundo de que regiões lúgubres e mortais chegamos ressuscitados”. E deparamo-nos com os fenómenos capitais definidores desse decaimento: “três, e de três espécies: um moral, outro político, outro económico. O primeiro é a transformação do Catolicismo pelo Concílio de Trento. O segundo, o estabelecimento do Absolutismo, pela ruína das liberdades locais. O terceiro, o desenvolvimento das Conquistas longínquas”…

A reedição de “Causas da Decadência dos Povos Peninsulares” de Antero de Quental, com prefácio de Eduardo Lourenço (Tinta da China, 2008) merece ser assinalada, pela qualidade da obra e pela sua evidente oportunidade. A conferência proferida por Antero no Casino Lisbonense, no longínquo dia 27 de Maio de 1871, chegou até nós envolta em roupagens de celebridade, mas também de mito. E pode dizer-se que nessa reflexão o autor quis ser revolucionário; e marcou, por isso, claramente as gerações intelectuais que se seguiram. E, se é verdade que o caso Dreyfus iniciou na Europa o envolvimento activo dos intelectuais nos debates políticos, temos de lembrar que em Portugal uma geração de jovens, que iniciara os seus passos de ruptura em Coimbra, na senda dos ventos que vinham da Europa, antecipou essa necessidade de compromisso.


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Guilherme d' Oliveira Martins