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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Conheça todas as actividades do Centro Nacional de Cultura para o primeiro trimestre de 2009, fazendo o download da nossa newsletter, ou clicando aqui para visualizar a apresentação do boletim.

 

Descobertas
Uma publicação do Centro Nacional de Cultura
Tiragem deste nº: 3500 exemplares
(Distribuição gratuita)

Próximos números:
Abril e Outubro

 

Chega o segundo número da revista entre o vivo, o não-vivo e o morto, e com ele os textos de Fernando Machado Silva, Hugo Milhanas Machado (Prémio Literário José Luis Peixoto 2008), José Manuel Martins, Marta Bernardes, Rui Cancela, Sílvia Ramalho e Vítor Moreira. Uma entrevista a JP Simões conduzida por Gonçalo Frota. E onde todos os textos foram ilustrados por Isotta Dardilli (trabalhos que podem ser visto em www.isotype.it ou www.isottadardilli.com).

As páginas centrais vão apresentar o trabalho de Tamara Alves. Impressa em offset (processo antigo de impressão, que dá uma qualidade e predurância maiores) e desenhada por Isabel Bilro, a entre o vivo, o não-vivo e o morto está disponível por 3,50€ (portes incluídos); para isso basta enviar um e-mail para revista@cepia-web.org.

(ver nº 1)

 
Direcção:
Paulo Serra
Concepção gráfica e paginação: Isabel Bilro
Ilustração: Isotta Dardilli
Periodicidade: semestral
Tiragem: 350 exemplares
Formato (mm): 200×250
Páginas: 40

 

Blog da revista: http://entreovivo.blogspot.com

Exposição Colectiva de Fim de Ano no Centro Cultural São Lourenço em Almancil até 31 de Janeiro de 2009.

 


Antoni Tàpies - Quadrats e Grafismes

 

O Centro Cultural São Lourenço apresenta obras dos seguintes artistas: David de Almeida, José Alves, Manuel Baptista, Carlos Barão, Jean-Marie Boomputte, Saskia Bremer, Teresa Calem, Rafael Canales, Philippe Claisse, João Cutileiro, Karsten Fuge, Gervásio, José de Guimarães, Helge Leiberg, Juan Martinez, Shintaro Nakaoka, Susan Norrie, Igor Oleinikov, A.R.Penck, Alfredo Garcia Revuelta, Nuno Santiago, Georg Scheele, Soren, Antoni Tàpies, Glyn Uzzell.

Destacam-se obras novas dos artistas David de Almeida, fiel ao seu rigor estético, Carlos Barão e o seu “Projecto para Flor”, Jean-Marie Boomputte e o humor malicioso dos seus “gordos”e Gervásio com suas abstracções dinâmicas e audaciosas.

 

http://www.centroculturalsaolourenco.com


(de 15 a 21 de Dezembro de 2008)
  

 

"A Cor dos Dias – Memórias e Peregrinações" de António Alçada Baptista (Presença, 2003) merece ser relido nestes dias em que sentimos a necessidade de falar de “um sussurro de saudade”, como ele sentiu na morte do seu grande amigo Alexandre O’Neill. Neste livro, deparamo-nos com memórias, reflexões, invocações e ensaios que prosseguem aquilo a que António Alçada Baptista nos habituou. Aqui se sente a continuação da “Peregrinação Interior” e também a explicação de como o “escritor dos afectos” foi muito mais do que isso – foi o cristão no tempo, pondo as palavras ao serviço do amor das bem-aventuranças e de um sentido profético da vida. 


 

A GENEROSIDADE GENUÍNA

Ao longo das páginas deste livro memorialista, sente-se que, longe de querer uma carreira ou de querer afirmar-se politicamente, AAB quis agir, na dicotomia de Péguy, no pólo profético, mais do que no lado político. Mas, sabendo que o campo político é o que influencia o dia a dia, não se alheou dele. Se quisesse ter tido sucesso político teria tido muito boas oportunidades. E nem se fale da sua amizade com Marcelo Caetano, que nunca limitou no que quer que fosse a sua liberdade de espírito. Para quem o conheceu e ouviu da sua boca o que pensava e o que sentia, o que esteve em causa no seu trajecto liga-se a três preocupações fundamentais: a necessidade de contribuir para uma abertura necessária na sociedade portuguesa, para pô-la a viver ao ritmo da Europa e do mundo civilizado; a consciência de que para um católico isso teria de começar pela intervenção dos crentes, num momento em que os “sinais dos tempos” apontavam para o que viria a ser o “aggiornamento” (que o Concílio viria a concretizar); e colocando os temas da liberdade pessoal, da dignidade humana e do amor cristão na ordem do dia como essenciais na sociedade moderna. Daí as suas preocupações e prioridades: “Se me perguntarem o que hoje me preocupa tenho que dizer que, para lá do lisboeta e do provinciano, surgiu um novo português que não sei como lhe chamar. Ele tem a idade dos frigoríficos, dos sistemas de crédito, do automóvel para cada um, da segurança social, da reivindicação de melhores salários. É gente que se está nas tintas para a história de Portugal e há certas palavras que estão fora do seu vocabulário como ‘deveres’, ‘valores’, ‘aspirações éticas’, ‘destino’, e certas coisas que eram acarinhadas e que até se podiam chamar lendas ou mitos, mas que davam um certo estofo à maneira como as pessoas se comportavam, tudo isso saiu de circulação”. Entre o ressentimento dos oprimidos e o sentimento de culpa dos privilegiados, António Alçada Baptista propõe, em nome de uma “aristocracia do comportamento”, que o poder e o dinheiro deixem de ser os bezerros de ouro do tempo presente. E, com uma actualidade extraordinária, cita o seu amigo Millôr Fernandes: “A economia compreende toda a actividade do mundo. Nenhuma actividade do mundo compreende a economia”. E nota: “A economia (…) deixou de ter qualquer relação com a realidade para se passar por dentro da cabeça dos economistas que resolvem as grandes crises financeiras à mesa dos seus gabinetes”. E o escritor acusa o domínio da ilusão e do virtual, com as consequências que sentimos actualmente (bem evidentes na “célebre história da não-criação de porcos”). 

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Guilherme d' Oliveira Martins


(de 8 a 14 de Dezembro de 2008)
  

 

Lisboa, História Física e Moral” de José-Augusto França (Livros Horizonte, 2008) é uma obra de minúcia, muito bem escrita por um conhecedor profundo da cidade de Lisboa e das suas histórias paralelas, sobrepostas e cruzadas. E se é certo que o autor se afirma “contemporanista”, a verdade é que aquilo que nos é dado neste livro de cerca de 870 páginas é uma leitura de quem sabe que apenas se pode entender uma cidade se soubermos as suas raízes e o caminho seguido - povoado de vidas e de espírito, de realidades físicas e morais. Antes de entrar na obra, importa fazer uma referência ao editor, Rogério Moura (1925-2008), que nos deixou há poucos dias e que foi um animador desta que viria a ser a sua última publicação. Em boa hora insistiu com o autor, e o resultado é largamente positivo. Havia que contribuir para que o público conhecesse melhor a cidade, não a partir de considerações académicas, mas segundo uma análise rigorosa que pusesse ao dispor de todos uma obra informada e culta de um erudito que se apresenta como experimentado e acessível peregrinador olisiponense.


 

VINTE E TRÊS PISTAS

“Não se trata de fazer nesta obra história do urbanismo nem da arquitectura, nas especificidades das suas disciplinas, para além do necessário, quando de organização urbana e de edificação da urbe se trata” – afirma-nos o autor. Do que se trata é de olhar a cidade no tempo, com os seus elementos de continuidade e descontinuidade – “as pedras mortas, que se acumulam por protecção, e as vivas (…) que lhes dão sentido e necessidade, devem ser correlativas, para que a cidade exista em sua coerência”. E assim há vinte e três momentos que José-Augusto França destaca e servem de referência permitindo fazer a história da cidade como corpo vivo: a conquista de Lisboa (1147); a revolução joanina (1383); os painéis de D. Afonso V (1471); o mosteiro dos Jerónimos (1501); a batalha de Alcântara (1580); a visita de Filipe II (1619); a revolução do 1º de Dezembro (1640); a procissão do Corpus Christi (1719); o terramoto do 1º de Novembro (1755); a estátua equestre (1775); a basílica da Estrela (1789); o palácio da Ajuda (1802); a entrada do exército liberal (1833); as “Conferências do Casino” (1871); o Zé Povinho (1875); a Avenida da Liberdade (1879); o “grupo do Leão” (1885); a revolução do 5 de Outubro (1910); a revolução do 28 de Maio (1926); a Exposição do Mundo Português (1940); o Metropolitano e a Ponte (1959-1966); a revolução de Abril (1974); Exposição mundial (1998). Estes símbolos ou acontecimentos permitem, a partir do critério que o autor escolheu (e que é adequado aos fins pretendidos) compreendermos as personagens e os factos, já que os ligamos a elementos que conhecemos e podemos situar diacrónica ou sincronicamente. Se seguirmos o índice analítico (os diversos índices são, aliás, preciosos instrumentos de trabalho), vemos uma preocupação compreensiva que nos guia sucessivamente pela Pré-História de Lisboa, entre o sítio e os habitantes; pela Lisboa Antiga, romana e muçulmana; pela Lisboa Medieval, desde a conquista aos prolegómenos da expansão; pela Lisboa Manuelina, do Paço da Ribeira à celebração da grandeza imperial; pela Lisboa Maneirista, da glória à perda da independência; pela Lisboa Filipina, na primeira cidade peninsular condicionada pela “Corte na Aldeia”; pela Lisboa Barroca, regressada à condição de capital, entre dúvidas e intrigas; pela Lisboa Joanina, como cidade opulenta que deseja modernizar-se; pela Lisboa Pombalina, que se torna símbolo de uma nova atitude e de uma nova mentalidade; pela Lisboa Oitocentista, de um século longuíssimo de mil mudanças e conflitos, desde as invasões francesas ao Ultimatum inglês, passando pelas guerras civis e pela liberdade regeneradora; até à Lisboa Novecentista, do republicanismo à Expo-98, passando pelo Estado Novo e pelo reconquista da liberdade.

 

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Guilherme d' Oliveira Martins

ANTÓNIO OU A SOLIDÃO DERROTADA…
Por Guilherme d'Oliveira Martins

                                                                   
“Ao ir-me afundando no cepticismo racional, por um lado, e, por outro, no desespero sentimental, incendiou-se-me a fome de Deus, e o sufoco do espírito fez-me sentir, com a sua falta, a sua realidade. E quis que haja Deus, que exista Deus. E Deus não existe mas antes sobreexiste e está sustentando a nossa existência existindo-nos”.
Miguel de Unamuno

 

Vou-me repetir, mas fazê-lo é a reiteração da amizade e da admiração que tenho por António Alçada. Tenho tido o privilégio, na minha vida, de conhecer pessoas que se singularizaram pela boa influência que tiveram e pela extraordinária riqueza das suas vidas e obras. Este é um dos casos que ilustram esse meu especial orgulho. Como um Diógenes afectuoso sempre o vi empunhando a lanterna que procura a verdade e a amizade, que, longe dos dogmatismos e da rigidez, tendem a abrir horizontes, a delinear novos caminhos e a pôr as pessoas no centro dos acontecimentos e da História. José Bergamín disse que se fosse objecto era objectivo; como era sujeito era subjectivo – e António repete-o e sente-o…

 

O António Alçada Baptista foi-me dado na adolescência, na primeira série de "O Tempo e o Modo", nas colecções da Moraes, na "Peregrinação Interior" e nas suas crónicas, que lia religiosamente. E não esqueço como me levou até, por exemplo, à poesia Alexandre O’Neill, e do que esta significava de natural complemento do que o António nos dizia: "Quem? O infinito? / Diz-lhe que entre. / Faz bem ao infinito / Estar entre gente." Abandono Vigiado (1960). Assim como não esqueço o ter-me feito gostar ainda mais do Brasil, a partir de Alceu Amoroso Lima e da amizade com Odylo Costa, filho, até Jorge Amado ou ao extraordinário João Guimarães Rosa – o mesmo que dizia: “vivendo se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas” ou que “Deus existe mesmo quando não há. Mas o demónio não precisa de existir para haver”. E um dia o António lembrou que “a Carta de Pêro Vaz de Caminha dá-nos talvez o único exemplo que conheço de duas civilizações que se encontram uma com a outra a dançar e não a guerrear-se”. Senti-o pessoalmente nas ruas da Bahia, num dia em que na Fundação Jorge Amado o António foi o grande ausente, sempre lembrado.

 

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(de 1 a 7 de Dezembro de 2008)
  

 

Sob um Falso Nome” de Cristina Campo (Assírio e Alvim, 2008) é formado por diversos ensaios sobre temas muito diversos, unidos por um fio condutor que tem a ver com “uma atenta leitura da realidade e da arte”, isto é, “uma leitura total, em planos múltiplos: poético, humano, espiritual, religioso e simbólico”. Com esta obra, servida por uma muito boa tradução de Armando Silva Carvalho, podemos ter novo contacto com a autora de “Os Imperdoáveis”, livro também publicado na colecção “Teofanias”, biblioteca deslumbrante, que agora nos traz mais este tesouro. Os ensaios abordam, sempre com brilhantismo e profundo sentido poético, desde a liturgia cristã a Truman Capote, passando por Simone Weil, Djuna Barnes, Virgínia Wolf, Katherine Mainsfield, Jorge Luís Borges, D’Annunzio e Shakespeare. E a cada passo sentimos a densidade espiritual e a capacidade de encantamento que a escrita de Cristina Campo sempre contém. 


 

VITTORIA GUERRINI (1923-1977) nasceu em Bolonha e morreu em Roma. Adoptou o pseudónimo de Cristina Campo para assinar a sua poesia. Cristina, de “portadora de Cristo”, e Campo, “numa referência aos campos de concentração, característica dramática do nosso tempo, “campos de dor”, segundo a sua própria expressão. Cultora entusiasta da literatura, traduziu e comentou desde Homero a Hölderlin, passando, entre outros, pelos Padres do Deserto, por S. João da Cruz, Proust, Emily Dickinson, Djuna Barnes, Katherine Mansfield, William Carlos Williams e por Simone Weil. Dir-se-ia que Cristina Campo busca na literatura a chave para muitos dos enigmas a que procura incessantemente responder - com a sociedade em que se integra. Mário Luzi, que ofereceu a Vittoria o primeiro texto de Simone Weil, fala, aliás, de um vasto território comum à iluminação poética e religiosa. Em 1953 prepara a antologia, que nunca seria publicada, “Il Livro delle 80 poetesse” (obra ambiciosa, que pretendia ser “uma recolha nunca tentada até agora das mais puras páginas escritas por mãos femininas através dos tempos”). Em 1956 vem a lume o primeiro livro de poesia, “O Passo do Adeus” (traduzido em português), e a partir de 1960, depois do contacto com Elémire Zolla, inicia uma fase mística e de especial interesse pela temática religiosa. O tema da liturgia entusiasmou Cristina Campo, como sinal de glorificação e encontro do mistério com a humanidade. É por isso que afirma: “A complexidade do gesto de Madalena (a unção de Betânia) (…) faz com que algo de litúrgico se torne de certo modo sacramental. Mas podemos recordar, ainda antes do seu gesto, aquele não menos inefável, ainda que mais simples, dos sapientíssimos Magos. Os quais, partindo em busca de um menino necessitado de tudo, não lhe levaram leite nem vestuário, mas as insígnias da Sua tríplice dignidade de Profeta, de Sacerdote e de Rei”. Afinal, o próprio Deus, apesar de ter encarnado numa criança pobre, não dispensa a celebração simbólica da sua glória, representada pela liturgia. De um modo muito claro e simples, a escritora liga, assim, o sagrado e o simbólico, o espírito e a poesia – longe de qualquer ostentação ou pretensiosismo, mas de olhos postos numa dignidade perene. “Todo o homem que produz um acto livre projecta a sua personalidade no infinito” – como disse Léon Bloy, a propósito do mistério da Reversibilidade, que é o nome filosófico da Comunhão dos Santos. “Um movimento de piedade canta por ele os louvores divinos… cuida dos enfermos, consola os desesperados, aplaca as tempestades, resgata os maus, converte os infiéis e protege o género humano”. Mas se é assim para os movimentos de piedade, é o inverso para a hipocrisia e a falsidade… E, segundo um anónimo do Monte Athos, citado numa das epígrafes de um dos textos publicados, o objectivo da filosofia deveria consistir na manutenção imperturbável da união com o divino amor e a paz…

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Guilherme d' Oliveira Martins