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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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VIAGEM CNC 2011 - 2ª CRÓNICA NA RÁDIO RENASCENÇA

 
 

Continuando a viajar no sentido dos portos onde os portugueses tiveram a sua presença efectiva, partimos para as Flores onde chegámos ontem a tempo de um almoço tardio, mas retemperador, de modo a visitarmos a família real de Sika - os Ximenes da Silva - na casa de Maumere, com quem pudemos usufruir de uma visita ao pequeno - mas significativo - tesouro, constituído por duas coroas do Rei, pequenas pulseiras e armas votivas. A coroa real é um capacete do século XVII, do ano de 1607, talhado em ouro, com a imponência própria e o fulgor do metal em que foi feito. Verificámos ser necessário criar condições de maior segurança para este património que recorda o acordo realizado pelos portugueses com os chefes da Ilha do "Cabo das Flores" há trezentos anos. E deparamos, com emoção, com a assinatura de Helena Vaz da Silva no livro de honra sentindo que a memória é inapagágel.

 

A Ilha das Flores, baptizada pelos portugueses, nunca foi conquistada. Foram tradicionalmente os seus reis que exerceram com autonomia o poder nesta terra em que a serpente impera. No entanto, até 1851, e de um modo natural, a população teve o apoio dos portugueses ao abrigo de um entendimento ancestral – reforçado aliás pelas características próprias, culturais e religiosas deste povo, maioritariamente católico.  A caminho de Sika, onde vamos ao encontro do antigo reino, do seu palácio e da sua situação geográfica encontramos uma ilha amiga e fraterna. O Senhor Pereira mostra-nos ainda o que faltava ver do tesouro de Sika – o Menino, ou seja, o Menino Jesus Salvador do Mundo vestido a preceito como se estivesse em Portugal. E se se diz que as Flores - ou o Cabo das Flores, para sermos mais rigorosos - nunca foi objecto de conquista, tal serve para deixar claro que a hospitalidade que recebemos vem dessa longa história – de humanismo, de abertura e de complexidade. Somos recebidos de braços abertos por um povo que não esconde a sua simpatia. E hoje fomos até à montanha, à aldeia de Watublapi, fumar o tabaco da paz, ver as danças tradicionais e como se confeccionam os panos. Foi este mais um momento de emoção partilhado por todos. À parte a distância, as Flores correspondem a uma situação única e o seu povo hoje tem-nos no coração, e nós a ele.

 
 
Crónica do Dr. Guilherme d'Oliveira Martins na Rádio Renascença gravada em 2 de Setembro de 2011