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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

VIAGEM CNC 2011 - 4ª CRÓNICA NA RÁDIO RENASCENÇA

 

 


Nesta vinda às Molucas não podemos deixar de lembrar que Fernão de Magalhães, apesar de português, ofereceu os seus préstimos ao Rei de Espanha para demonstrar que as Molucas estariam fora do hemisfério português. Fê-lo em vão, uma vez que, ao chegar à região, depressa se apercebeu de que não tinha razão. O resto da história é conhecido, mas lembrámo-la esta manhã com Monsenhor Andreas Sol, um holandês católico entusiasta da presença portuguesa nas Molucas e em especial em Amboino. A biblioteca que reuniu é uma preciosidade: livros, mapas, crónicas, revistas – mas mais importante foi o modo como nos recebeu nos seus 95 anos. Este foi sem dúvida o momento alto da nossa passagem por Amboino.
 
Temos Camões como companhia. Chegados a Ternate, lemos o que o épico nos diz no Canto X dos Lusíadas:
“Olha cá pelos mares do Oriente
As infinitas ilhas espalhadas:
Vê Tidore e Ternate, co fervente
Cume que lança as flamas ondeadas.
... As árvores verás do cravo ardente,
Co sangue português inda compradas”
Aqui estamos com os vulcões adormecidos em volta, regressados às Molucas do Norte. Somos recebidos com honras especiais. Visitamos o Sultão de Ternate, que recorda a antiga presença portuguesa e faz questão de dizer que agora nos reencontramos em nome da cultura da paz. O Sultão é uma pessoa culta que faz questão de salientar a importância que a vinda dos portugueses tem para o sultanato, dizendo que cada um de nós passará, por certo, a ser um embaixador de Ternate onde quer que se encontre. Fala-nos do fenómeno religioso e da importância do conhecimento nas diferenças culturais ou do diálogo entre as confissões. Estamos na zona de produção do cravinho, mas também da noz-moscada e, num percurso na ilha, paramos na estrada para ver as plantas e compreender o respectivo circuito da produção. A primeira armada portuguesa destinada a Maluco envolveu o mercador Tamul e simultaneamente também Rui Araújo, feitor de Malaca. Mas a expedição de António Abreu de 1511 foi a primeira a sério, carregada de mercadorias com valia nas ilhas do cravo. A história das ilhas e dos portugueses é cheia de peripécias e vicissitudes. Peripécias e vicissitudes sobre as quais continuaremos a falar.



Crónica do Dr. Guilherme d'Oliveira Martins na Rádio Renascença gravada em 8 de Setembro de 2011