LONDON LETTERS
The Great Fire, 1834
Em 1789 soara o alerta quanto a perigo maior envolvendo Westminster. Um relatório subscrito por 14 distintos arquitetos avisa do alto risco de incêndio. John Soane reitera ciclicamente a advertência das vésperas de uma colossal catástrofe com repercussões nacionais, mas os resguardos decididos por comissão de MPs variam entre a dolosa indiferença e a negligente insignificância. – Oh, Mon Dieu de la patrie! O fogo regressa, pois, ao political heart de London; repete-se a mega calamity testemunhada em 1666 por Samuel Pepys, na devastação outrora iniciada na loja de Thomas Farynor, baker to King Charles II. Pior agora, porém: a combustão deflagra nas 800 years’ Houses of Parliament. As chamas devoram os inflamáveis edifícios do Old Palace e muito da história institucional do reino e do império britânico se perde na longuíssima noite de 16 de outubro de 1834. A magnitude do desastre logo suscita questões várias. Fora o great fire acidental ou voluntário? Mão de Deus ou de quem? – Many thought a divine retribution on politicians! O terrificante choque dos londoners só compara com o Blitz de 1940-41.
Caroline Shenton recorda a marcha dos eventos em livro recente, a partir dos testemunhos à data registados sobre the day Parliament burned out (OUP, 2012). A bola de fogo é avistada quer pelo King and Queen em Windsor, quer pelos stagecoachers no topo de South Downs. Uma enorme multidão enche as ruas, including Lord Melbourne, the prime minister, and many of his cabinet, todos se aglomerando até às pontes de Vauxhall, Waterloo e Blackfriars, ao longo do rio Thames, to witness the spectacle. O vento e os heroic efforts by firefighters and civilian volunteers salvam Westminster Hall e a Jewel Tower, preservando a continuity of Parliament. Mas os danos são vultuosíssimos. Afinal, azar ou estupidez? Duas décadas depois ainda Charles Dickens (Speech to the Administrative Reform Association, 1855) extrai lições da destruição e da imprevidência humana que lhe servira de rastilho: “The sticks [of the Exchequer] were housed in Westminster (...). It came to pass that they were burned in a stove in the House of Lords. The stove, over-gorged with these preposterous sticks, set fire to the paneling; the paneling set fire to the House of Commons; the two houses were reduced to ashes; architects were called in to build others; and we are now in the second million of the cost thereof.”
Se em 600s cabe a Charles II munir London com buildings of brick and wider streets, em 800s é a Queen Victoria a reinventar o planeamento da city. Os resultados dizem da mudança na rulership. Face às 9000 casas e edifícios públicos completados em 1671, ergue-se em 1844 o Barry and Pugin's monumental new Palace of Westminster que cedo assiste às class wars, e outras, onde pontuam as ideias e os argumentos de um Mr Peel, Mr Gladstone ou Mr Palmerston. Sob os icónicos halls, lobbies et al repousam agora as ruínas do paço que emoldurara acontecimentos dramáticos como os julgamentos de Sir Thomas More e do Gunpowder Plot, a resistência de Charles I aos Commons e a luta de William Wilberforce pela abolição da escravatura, e mesmo o assassínio do Prime Minister Spencer Perceval em 1812. Trata-se do first and greatest Victorian building – um símbolo da British nation, em cujas institutions e club houses se manufatura o Parliament business.
Ora, os vitorian values andam em alta nos public affairs. Além do omnipresente culto a Jane Austen (o Janeeism), eis os líderes partidários inspirando-se no pensamento político de Benjamin Disraeli para enfrentar a austerity age. Com as atenções centradas nos party games dos Lib-Dem em Brighton, do new-what Labour em Manchester e dos old-newest Tories em Birmingham, observa-se que, nos discursos às hostes de fiéis, só Mr Ed Miliband menciona 44 vezes o conceito “one nation” como diretriz na resposta às dificuldades. Já em London, o governo de Mr David Cameron e Mr Nick Clegg prepara um inflamável pacote de £10bn em welfare cuts. – Hmm! Hard times ahead!
St James, 9th October
Very sincerely yours,
V.