LONDON LETTERS
Brexit or Not Brexit 2017
A longa, elaborada e muito esperada oração do Prime Minister teve o seu quê de shakespeariano. Contém justas referências a este nosso inverno do descontentamento, como em Richard The III. ‒ Si la magie est tout, est un art! Mas sobretudo recorda dilemáticas linhas do bardo em The tragedy of Hamlet, prince of Denmark. Assim, em versão 2013 blue Tory, atualize-se um outro mui famoso solilóquio: Ficar ou não ficar (na European Union, bem entendido): esta é a questão (a referendar, claro) / Se mais nobre é em mente suportar (o défice democrático) / Dardos e flechas de ultrajante destino (a crise na eurozone) / Ou tomar armas contra um mar de problemas (a falta de competitividade) / E firme, dar-lhes fim (libertar o United Kindom das amarras ao diretório continental).* Isto sintetiza a poética da intervenção destes dias de Mr David Cameron, em London, sobre a necessidade de renegociar a relação britânica com a união europeia em termos mais abertos. – Or: Am not I your Rosalind?! Ora, o líder conservador simplesmente acaba de ampliar as probabilidades de reeleição em 2015 ao verbalizar a eventual Brexit em 2017.
Já muito foi escrito sobre a visão europeia do Premier na sua réplica a The 1988 Bruges Speech, de Mrs Margaret Thatcher, realizado nas vésperas do Maastricht Treaty e do avanço comunitário para o mercado único como antecâmara da união monetária que cria o euro sem a libra esterlina. Num ponto convergem as reações internas e externas à estratégia vaga do 10 Downing Street quanto a um novo trato com Brussels: neste lance de exímio poker player pode Mr Cameron ter aberto a Pandora box num clube de 27 países que denota sérias dificuldades em garantir hoje a coesão social em torno da European citizenship. No mais, sempre os britânicos ecoam saudades da liberdade da 1960 Stockolm Convention: há meio século, também em january, seis países instituíram a European Free Trade Association, reunindo a Austria, Denmark, Great Britain, Norway, Portugal, Sweden e Switzerland numa sofisticada zona franca como via alternativa ao federalismo latente dos founding fathers continentais.
A integração do United Kingdom na atual European Union nunca foi tema pacífico cá pelas ilhas, ciclicamente causando tempestades políticas à esquerda e à direita. Nos primórdios do projeto europeu, aquando da constituição da European Coal and Steel Community, Mr Clement Attlee explica a objeção básica na House of Commons: "We on this side are not prepared to accept the principle that the most vital economic forces of this country should be handed over to an authority that is utterly undemocratic and is responsible to no one." O PM trabalhista é secundado por Sir Winston Churchill no seu regresso ao poder. Na linha da Foreign Office mind que formata a política externa, tanto o Labour como os Conservatives desgostam do elemento supranacionalista e por isso recusam o Treaty of Rome. Em 1961, face aos new historical winds e ao final da imperial road, Mr Harold Macmillan inverte o rumo e o UK adere finalmente à European Economic Community em january de 1972.
A construção europeia é hoje uma entidade política diferente da visionada pelos pais fundadores. A geração de Attlee, Churchill, Monnet e Adenauer visa solução comum para a guerra e a tirania, respeitando o interesse nacional de cada um dos países envolvidos; já os atuais líderes enfrentam uma crise global que persiste em exaurir a elementar confiança dos povos na tradição ocidental. – As so, the question of Master Will would be certainly other: Shall this fellow live!?
St James, 29th January
Very sincerely yours,
V.
* No original de 1599~1601: “To be, or not to be: that is the question: / Whether’tis nobler in the mind to suffer / The slings and arrows of outrageous fortune, / Or to take arms against a sea of troubles / And by opposing end them.”
– William Shakespeare, The tragedie of Hamlet, prince of Denmarke. Act III, Scene 1.