Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

OS 90 ANOS DA “REVISTA DE OCCIDENTE”

Comemora-se este ano o 90º aniversário da “Revista de Occidente”, fundada por José Ortega y Gasset no ano em que cumpriu 40 anos de idade. Por si dirigida até 1955, ano da sua morte, a publicação da revista foi retomada em 1962 sob a direcção do filho do fundador José Ortega Spottorno, que em 1980 foi substituído por sua irmã Soledad. Falecida esta em 2007, assumiu a direcção o seu  filho José  Varela Ortega, actual director. Tem-se mantido assim na mesma família, ao longo de nove décadas, a direcção de uma revista prestes a publicar o seu 383º número.

A “Revista de Occidente” constitui, desde o princípio, uma publicação aberta às correntes mais inovadoras dentro do pensamento e da criação artística e literária, tendo vindo a exercer em todo o mundo hispânico um papel fundamental na difusão da cultura espanhola e europeia, afirmando-se como uma órgão de alta divulgação científica e cultural, plural e aberto.

A revista passou a ser publicada, a partir de 1978, integrada na Fundación  José Ortega y Gasset, criada nesse ano e dirigida por Soledad Ortega Spottorno, que em 1986 fundou também o Instituto Universitário de Investigação Ortega y Gasset, adstrito à Universidade Complutense de Madrid. Para além da intensa actividade académica e da realização de conferências e colóquios, destaca-se a multiplicidade de publicações promovidas pela Fundação, como as obras completas de Ortega, as colecções “El Arquero” e “Papeles de la Ortega”, as revistas “Circunstancia”, “Revista de Estudios Orteguianos” e “Más Poder Local” e ainda dois boletins dedicados ao México e ao Brasil.

São conhecidas as ligações a Portugal de Ortega y Gasset, que em Lisboa viveu alguns anos de exílio, de que são testemunho, pelo menos, as publicações “Sobre la razón histórica”, curso realizado em 1944, e “Idea del Teatro. Una abreviatura”, conferência proferida em 1946. Durante a minha estada em Madrid entre 1987 e 2000, tive a oportunidade de ouvir algumas vezes Soledad Ortega recordar com saudade os tempos em que morou em Lisboa. E esse apreço por Portugal terá certamente facilitado o acolhimento das propostas que foram feitas à “Revista de Occidente” para a edição de números dedicados à cultura portuguesa. Foi assim possível a publicação do número 94, de Março de 1989, sobre “Pessoa y su siglo”, patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian, e do número 163, de Dezembro de 1994, sobre “Portugal, Artes y Letras”, com o patrocínio da Petrogal.

Iniciado agora o percurso a caminho do seu centenário, a “Revista de Occidente” mantém intacto o prestígio alcançado desde o seu início como uma publicação de elevado nível intelectual, aberta à pluralidade das várias formas de pensar, atenta às questões que importam ao mundo actual.

 

Mário Quartin Graça

 

Ex-conselheiro cultural da Embaixada de Portugal em Madrid

LONDON LETTERS

Baroness Thatcher of Kesteven, 1925-2013




Baroness
Margaret Thatcher has died. A notícia chega na manhã de sol. Parte uma senhora frágil e fica a memória de uma titã na British politics cuja marca é a frontalidade ideológica. A história será gentil na tinta com a housewife-politician que primeiro serve no Number 10. O capitalismo popular permanecerá controverso, pois destrói o consenso do pós-guerra. Une femme tout à fait! Com princípios políticos claros e esgrimindo os valores aspiracionais da classe média, respeitada por friends and foes, a Iron Lady parte aos 87 anos em April 8, 2013. – Against all odds, by merit, she was the Lady of the House! Resposta a dura encruzilhada do tempo, Mrs T influencia a vida de uma geração e a cultura democrática global.

 

É indiscutivelmente uma das grandes figuras icónicas do 20th-century. Conheci pessoalmente Mrs Thatcher nos Downing Street days, num evento da Royal Agricultural Society of England. The lady was impressive. O diário regista o dia solar, ameno, primaveril e a very polite character. Foi um privilégio que guardo desta defining, divisive, and decisive leader. Muito se escreverá sobre a PM que escolta o fim da Cold War e cuja estátua ombreia em Westminster Hall com aqueloutra de Sir Winston Churchill, mas um só episódio descreve o inconfundível estilo político. A dama reúne com os soviéticos: ‒ “Mr Gorbachev, can we be absolutely frank with each other?” A resposta é diplomático sim; a réplica, nem por isso. ‒ “Good, because I want you to know that I hate Communism.” Conquista um adversário e ganha um amigo.

 

 

Amada, odiada, mas nunca ignorada. Instintivamente guerreira, bossy, o IRA tenta assassiná-la e quem por fim a derruba é o seu partido. A honorary member do Carlton Club vence na old boys’ network e alguns nunca lhe perdoam o achievement. Margaret Hilda Thacher é a única mulher a líderar até hoje o Conservative Party. Ganha as eleições três vezes, algo que diz da atenção dada a detalhes e à conjuntura. De origem modesta e voz inconfundível, chega ao N10 no winter of discontentment de 1979 e ali permanece 11,5 anos. Se para uns é alguém “fundamentally wrong”, para outros será “the greatest Prime Minister of the post World War”.

 

Com Mrs T, o país entra em guerra. Contra os sindicatos, o comunismo e os generais argentinos, plus the old boys’ club. São tempos temíveis, com cavalaria nas ruas e adagas em Westminster. O seu No-no-no ainda atormenta o debate ideológico, a abrir na relutância europeia e a fechar no fundamentalismo do mercado. A Thatcher revolution esculpe a paisagem política da atual Britain. A senhora retoca algo importante no país e no mundo: a ideia de liberdade individual, através de uma nova relação entre o estado e a sociedade. De modo tal, porém, que o pêndulo vai até ao outro lado e ao cinzento coletivo sucede o egoísmo yuppy de Canary Warf. Para alegria da City!

 

O tom adversarial marca o trajeto da British Premier que mais tempo serve desde Lord Salisbury. As privatizações e o monetarismo radical a par das políticas públicas em torno do Welfare State polarizam o país até à violência. Mas robustece a posição do UK nas relações internacionais com atitude firme face a Brussels (“Give me my money!”) enquanto dinamiza os laços históricos na Commonwealth e edifica a “special relationship” com os United States. A filha de um merceeiro de Grantham recebe a peerage em 1992 e a Order of the Garter em 1995, com lugar na House of Lords como Baroness Thatcher of Kesteven. Antes dela só o seu admirado Mr Clement Attlee.

 

Lady Thatcher parte num dia eleusiano, que, sei-o, apreciava. O Thatcherism está ainda vivo, mas sem a coragem de carácter e a generosidade de espírito da sua dama. Farewell, Mrs T.

 

 

St James, 8th April

 

Very sincerely yours,

 

V.