LONDON LETTERS
The Oxford Today, 2013
Ainda existem coisas assim, que vêm pelo correio com a simplicidade da inteligência e um sorriso. Entre estas, cá por casa, conta-se a Oxford Today. Na era em que muitos profetizam o fim das publicações em papel e tinta, e muitos mais viraram apóstolos da nebulosa digital, onde também está presente, receber em cada term uma nova edição da revista da Oxford University é desde logo um prazer. ‒ Oh-là-là. Vos affinités électives!
O último número apresenta na capa o Dr Marcus du Santoy, Simonyi Professor for the Public Understanding of Science e matemático da interdisciplinaridade, enquanto glosa nas páginas do interior várias modalidades com que o espírito do tempo hoje estremece as ideias e as pessoas, os direitos e os quotidianos, mesmo o regime das coisas nas paisagens natural e social. – Something as ours Yourcenar’s That Mighty Sculptor, Time!? Pelo grafismo cuidado, conteúdos interessantes, informações sobre ilustres alumni e mais um outro elemento que não vem de todo agora a propósito, a publicação partilha interrogações e desafios em circulação na comunidade científica. Do tipo útil na ilha como ‒ What makes the British?
The University Magazine tem sempre para ler e a idade algures ditou a preferência por ler devagar. Neste número do Trinity Term, o artigo que até agora captou a atenção aborda o financiamento da higher education. Intitulado “The Money question”, o texto assinado por Mr Richard Lofthouse baseia-se numa entrevista ao autor de um bem humorado livro: The financial history of Cambridge University. Assim descobri o Neildian Paradox: "The rate of government interference in academic matters has gone up in recent years, while the public funding of higher education has gone down". E com o cheque vêm inconfundíveis characters & methodologies.
O Professor Robert Neild examina o trilho financeiro das college universities como Oxford e Cambridge durante os séculos XIX e XX, nomeadamente aquele que conduziu ao atual estádio de riqueza e gestão profissionalizada, um e outra doando condições notabilíssimas para pensar, rabiscar e cinzelar ciência. Há um dado interessantíssimo: A academia recebeu o seu mais generoso investimento do estado nos anos do pós-guerra, os 1945-51 de Mr Clement Attlee quando a escassez de recursos era regra; esse financiamento coincide com pouca ou nenhuma interferência na vida académica, abrindo a uma golden age. Como explicar o aparente quadrado paradoxal?
Quando o voto ukkiper diz da democracy for the few e o debate sobre o cisma europeu ainda agora abriu e já sobe ao rubro, convirá talvez regressar à reflexão sobre os laços críticos do poder e saber. Afinal, a sua dissociação lógica custa caro e corrigir demora tempo. O Oxford Today ajuda com um 1957 quip do astuto Mr Harold Macmillan. ‒ Let us be frank about it: most of our people have never had it so good.
St James, 14th May
Very sincerely yours,
V.