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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LONDON LETTERS

 

 

The arts of power, 2013


A mobilização para a obediência possui as suas artes. E estas são observáveis à luz do quotidiano. A British Library tem agora patente uma nova exposição que justamente oferece um curioso caleidoscópio sobre esta face obscura do poder. ‒ Chérie, c’est toujours une question orwellian! De segunda a domingo no 96 Euston Road, em London, está aberta uma mega mostra sobre Propaganda: Power and Persuasion, com uma gama de materiais tal que algures se deambula já entre a gargalhada, a indignação e até o espanto. – Well, power does not corrupt. Fear corrupts! A exibição é uma panóplia de mensagens, técnicas e suportes, a ilustrar como diferentes estados recorrem à manipulação das massas para suscitar a adesão ou quebrar a resistência dos cidadãos aos seus projetos em tempos de guerra e de paz. Resulta uma lição política.

 

Um manual de história e lapidar epigrama de Mr George Orwell serão boa parceria na visita à casa de King’s Cross. Grafa ele no incontornável 1984: Who controls the past controls the future. Who controls the present controls the past. A falsificação do real é traço forte na propaganda, acesa em culturas ditatoriais mas não de todo ausente no alarido democrático que tanto impressiona Mr Alexis de Tocqueville. Com maior ou menor subtileza, clássicos ou nem por isso, a exposição apresenta cartazes, filmes, artigos, banda desenhada, enfim, sugestivos objetos, sons e textos que amiúde desnudam o lado demagógico, senão sinistro, no exercício do poder por líderes que basicamente não confiam nos seus concidadãos.

 

 

 

Há anos atrás, aí nas vossas redondezas, na belíssima Madrid, visitei uma outra exposição em torno da arte do poder. Foi no Museo del Prado e recordo sobretudo um esplêndido Tiziano de 1548 com Carlos V a caballo. Se recordo bem, larga parcela das peças seiscentistas provinha da Real Armería e o evento insistia tanto em armaduras da primitiva modernidade quanto em retratos epocais. Do ouro de umas às cores sombreadas de outros, El arte del poder projetava a aura do sic transit gloria mundi: o garbo dos cavaleiros manifestamente contrastava com os corpos estropiados em enlameadas cenas de batalha. O espírito imperial que gera o euromundo produz a ars moriendi, a denúncia de Machiavelli e excelentes manuais de criação de cavalos – estes, aliás, obrigatórios na biblioteca de qualquer country house. Mas que ficará destas artes na idade dos spin doctors e dos social media, quando os discípulos de Herr Goebbels rivalizam com os fãs de Frau Riefenstahl?!

 

 

Cenário de divertida incursão literária de David Lodge, a British Library tem nestes summer days uma outra estimulante proposta. Illustrating Shakespeare é um livrinho local de Peter Whitfield, que disponibiliza um olhar sobre o modo como personagens e tramas de Master Will são captadas ao longo de três séculos por artistas tão notáveis quanto os William’s Hogarth e Blake, Mr John Waterhouse, o Baronet John Millais ou até Monsieur Eugene Delacroix, o de Liberty Guiding the People (1830). Saboreie-se. ‒ Yeah! None but the brave deserve the fair.

 

St James, 21st May

 

Very sincerely yours,

 

V.