Karl Popper: todos os cisnes são brancos?
«Penso que só há um caminho para a ciência ou para a filosofia: encontrar um problema, ver a sua beleza e apaixonar-se por ele, casar e viver feliz com ele até que a morte vos separe – a não ser que encontrem um outro problema ainda mais fascinante, ou, evidentemente, a não ser que obtenham uma solução. Mas, mesmo que obtenham uma solução, poderão então descobrir, para vosso deleite, a existência de toda uma família de problemas-filhos, encantadores ainda que talvez difíceis, para cujo bem-estar poderão trabalhar, com um sentido, até ao fim dos vossos dias.»
Quando li estas palavras de Popper sorri-lhes como poucas vezes se pode sorrir já que inspirava através delas um perfume de plantas sagrado e vulnerável.
Considerado por muitos como o filósofo de maior influencia no sec. XX, Karl Popper habituou-nos a que nunca se desligasse da inteligência o quanto a verdade é inalcançável, e que por essa razão dela nos devemos sempre aproximar por tentativas.
Em rigor, para ele, o estado da ciência é sempre provisório, e, ao se atingir uma teoria ainda não refutada pelas observações e factos, devemos sempre perguntar-nos até que ponto é assim? Até que ponto todas as possibilidades se esgotaram, mesmo as que pareciam seguir caminhos inversos. Até que ponto a inexistente refutação nos dá segurança?
Revejo como quem diz, repenso, o quanto uma das cores que a vida nos coloca, é a de nos sabermos confrontar com algo completamente novo, algo que implique avaliação, valores, ensaios, erros, enfim tentativas resolutamente activas para que encontremos nesse novo mundo, do qual fazemos caminho, a forma de vida que nos tornará a qualquer hora descobridores por tanto buscarmos.
Atentemos, contudo, que, para que as nossas diligências decifrem, necessário se torna, diga-se, que as condições da nossa individualidade saibam viver numa desordem interior dentro do limite que detecta o erro, e, claro está, o mecanismo que o corrigirá. E logo a perpétua imperfeição essencial à vida se reorganiza como um organismo anti-valor o faria, na sua própria busca de um mundo melhor e propicio a acolhedores meios-ambientes.
Registe-se ainda o quanto a leitura de Popper é um constante esclarecimento na própria interpretação de Alber Einstein, que tanto o influenciou num mundo de propensões.
Alerta a Poppper também recebo a história, não descuidando que ela o é, com o sentido que os homens lhe dão, tentando antecipar consequências desse facto, sobretudo, as que poderão colocar em causa as favoráveis reformas.
Dizia Popper que a única atitude justificável para atingir a verdade surge pelo diálogo, pelo confronto de ideias através de meios não violentos. E sempre a sua admiração por Churchill se revelou fecunda pela percepção teimosa e lúcida deste politico, nos debates que enfrentava, seguro quanto possível do conhecimento do comportamento humano tão sabiamente verbalizado.
Afirmou Popper
“Sabemos muito pouco e cometemos muitos erros. Mas podemos aprender com eles.”
Popper será sempre um mundo a conhecer e a reflectir também sobre a génese e fundamentação ideológica dos regimes totalitários.
E acrescento que outra consequência da epistemologia de Popper reside no núcleo central da liberdade crítica como condição indispensável ao progresso do conhecimento, e, assim, somos convidados a interpretar a distinção entre uma sociedade aberta e uma sociedade fechada.
Todos os cisnes são brancos?
Ou como sentenciou Sócrates: « É preferível suportar uma injustiça do que praticá-la.»
Recomecemos de novo. E sempre pelo conhecimento. Pela busca entre a verdade e a certeza, certos de que existem verdades incertas , mas não existem certezas incertas.
O método do conhecimento científico é o método crítico ao serviço da verdade, e só fio a fio se descobre o linho, e um dia um pescador colheu-o na rede.
E assim por Karl Popper também direi, direi do mar nos teares de quem o tece.
M. Teresa Bracinha Vieira
Abril 2013