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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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COMEMORAÇÕES DE ALMADA NEGREIROS: O MANIFESTO ANTI-DANTAS

 

Temos aqui evocado e analisado as obras e também a colaboração entre  Almada  Negreiros e Fernando Amado,  numa perspetiva de afirmação de modernidade e de inconformismo cultural. Hoje evocamos um dos grandes momentos dessa fase da vida portuguesa e da obra de Almada, a saber, o Manifesto Anti Dantas.

 

A recentíssima reedição do “Manifesto Anti-Dantas e por Extenso por José de Almada Negreiros Poeta do Orpheu Futurista e Tudo” (1916), acompanhada por um CD com a leitura do texto pelo próprio autor e por uma entrevista gravada, ambas datadas de 1965 (ed. Assírio & Alvim) assinala um ciclo de comemorações que temos aqui evocado. Refira-se a propósito a iniciativa das duas netas de Almada, Rita e Catarina, que organizam uma série de colóquios e mais manifestações e publicações, onde com grande gosto participarei.

 

Para além do precioso suporte áudio, em que o próprio Almada rememora e dá voz à sua intervenção de meio século antes, a edição do Manifesto é acompanhada por um excelente ensaio de  Sara Afonso Ferreira, com vasta bibliografia. Importa destacar, no rigor e qualidade deste estudo, e o enquadramento histórico, biográfico e factual.

 

Porque efetivamente o que o manifesto nos oferece, com o extraordinário talento e capacidade crítica de Almada, é a singular independência e irreverência no confronto com os consagrados e influentes nomes da época, simbolizados no próprio Júlio Dantas mas devidamente identificados em dezenas de escritores, intelectuais, artistas citados e criticados com ironia, com veemência e por vezes com uma violência que nunca atinge, entretanto a expressão pessoal…

 

Almada sempre foi independente, sempre enfrentou o convencionalismo e sempre foi extraordinariamente criador. Aqui ironizou, criticou e satirizou dezenas de personalidades, centenas de obras, a partir do “modelo Dantas” chamemos-lhe assim, e da sua peça “Soror Mariana”. Dantas é um símbolo, um arquétipo de certo meio artístico e literário. E pese embora a violência e/ou a ironia, hoje vemos bem as fortes razões do Manifesto!...

 

Trata-se pois de um documento histórico no melhor sentido do termo: no sentido de que não perdeu veracidade e atualidade. As referências diretas são datadas mas as razões que lhes assistem são de hoje, pois as obras estão aí.

 

E por isso, o Manifesto é premonitório e atual. O estudo de Sara Afonso Ferreira, tal como o colóquio já efetuado e certamente os que se seguirão,  justificam amplamente a iniciativa e reforçam o ciclo de comemorações que aqui temos assinalado.

 

Duarte Ivo Cruz