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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LONDON LETTERS

The observant traveller, 2013


Nestes dias longos e quentes pouco se figurará mais aprazível que uma passeata pelo countryside. O destino cabe à pauta do gosto de cada qual, seja esta aldeia histórica aqui ou aquela deslumbrante montanha acolá. Mas um chapéu, sapatos confortáveis, um bom guia tipo Simmons ou the good old Hoskins mais o notebook são indispensáveis no kit do viajante observador para adequada imersão na esfera do achamento. ‒ Ça c'est trés chic! O hábito de viajar, anotar e refletir sobre o que se presencia é prazer ancestral do ilhéu, por vezes acompanhado pela parafernália de bicicletas, mapas e horários dos railways. Avança-se, a terra como que adquire especial vibração e eis a alquimia de a smalll piece of landscape ficar no olhar. Well, you know what. A rare old plant is the Ivy green! Pelo meio gera-se o turista acidental, um pouco como o relutante império além Mancha, com a sua grelha própria de notes on travelling ao nível de um designer profissional. Ora, há paraísos em perigo nos England’ green belts!

Com a questão da tax avoidance pelas grandes empresas finalmente descoberta pelo Treasury e a Google ou a Starbucks martirizadas nos media, tudo já em curso para escrutínio em Westminster pela mão do Labour ou dos Lib-Dem, as atenções locais andam agitadas com uma das iniciativas governamentais melhor sucedidas do pós-guerra. Em 1955, uma circular do minister of Housing Duncan Sandys encoraja os local councils a protegerem “a land around towns and cities by the formal designation of clearly defined green belts”. Um qualquer iluminado no Department of Local Government and Planning, decerto fatigado pelas incessantes declarações pias que desde 1935 o tema suscita sem chegar a ação alguma, simplesmente propõe devolver-se a decisão às populações. Eureka! Produz uma política pública com os mais altos índices de benignidade, efetividade e popularidade dos tempos recentes, a rivalizar com aqueloutra do King Edward VII ao assumir o trono, em 1901, após o passamento da Queen Victoria. ‒ Gentleman, you may smoke. Aliás, cá por casa se saúda o connoissuer com o cigar da proclamação e se assina a petição pela defesa da provisão de ar fresco a 45 milhões de seres, ameaçada pelos planos de revisão do National Planning Framework que ocupam o Coalition Govt.

Standing up for the countryside é algo aqui tão natural quanto o inconfundível green of England. Afinal, a exclamação do public value of tranquility. Este é um pequeno país, aí um quarto do território da França, no mais, uma ilha emergida para os lados do teto do mundo. Os 14 Green Belts espalhados pelo território ocupam apenas um décimo of The Land (The country habit has me by the heart…/ Not with his eyes but with his vision), algo como 66% da área agrícola, mas assistem com beleza 88% da população urbana. O omnipresente verde no centro das comunidades, maiores ou menores, tem desde sempre uma prosaica razão de ser: em tempos menos tecnológicos a nublar o olhar, tal engenho permite aos moradores assegurar a defesa das pessoas e dos gados de potenciais predadores nas circundezas.

O gosto pelo património é uma linha caraterística no quotidiano, história e literatura britânicas, que talvez se prenda mesmo com o conservadorismo de um país razoavelmente feliz, onde o governo dos comuns é por tradição algo diverso de as elites governarem-se. Uma sociedade civil vibrante tem destas coisas, simples, benéficas quer para o indivíduo, quer para a comunidade. Contudo, tem uma exigência: rejeitar a mediocridade satisfeita. ‒ And, fully appreciate what we are looking at!

 

St James, 13th June

 

Very sincerely yours,

 

V.