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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Baudelaire: no fundo do desconhecido, rio acima.

 

 

Num estudo efectuado à poesia francesa do sec. XIX, Gaétan Picon, critico de arte e ensaísta, afirma que a obra de Baudelaire não é uma obra poética entre outras; é uma revolução (…) o ano de As flores do Mal – 1857 – inaugura uma época: a nossa, ainda.

 

Julgo que pelas experiências dolorosas, pelas confissões pessoais , pela prece a Deus que prove que ele, Baudelaire, não é inferior àqueles que despreza, As Flores do Mal aproxima Mon coeur Mis à Nu onde coloca toda a sua religião a que chama de sentir travestido.

 

Fernando Pessoa, Edgar Poe e Charles Baudelaire exprimem a sua natureza espiritual pegando na mão sofrida no domínio da vida terrena de cada um e sujeitam-na ao talhe.

 

Baudelaire, como é sabido, é tido por uma grande parte dos críticos como o fundador da moderna poesia, e no sec. XIX aprende-se com ele o quanto através dos sentidos nos surge nua a realidade concreta.

 

Abro a página do livro O Meu Coração A Nu  e no XI

 

Só os salteadores estão convencidos, - de quê ? – De que têm de vencer. Assim vencem.

 

Porque venceria eu, pois nem sequer sinto vontade de experimentar?

 

E no XII

 

Sentimento de solitude, desde a minha infância. Apesar da família, e no meio dos camaradas, sobretudo, - sentimento de destino eternamente solitário.

 

E em XXXV

 

O que há de enfadonho no amor é que é um crime em que não pode passar-se sem um cúmplice.

 

E  XLV

 

O que é o amor?

 

A necessidade de sair dentro de si.

 

Os apontamentos breves e sinceros de O Meu Coração a Nu tornam-se de extrema pertinência para o entendimento da obra de Baudelaire. Julgo que só assim se entenderá em plenitude a sua afirmação:

 

O Homem que fez a sua oração, à noite, é um capitão que coloca sentinelas. Pode dormir.

 

Diria que os génios só o são se não forem deveras entendidos, nomeadamente por outros que, do mesmo oficio, preferem sentir desprezo ou calar o que ainda que inconscientemente sentem ser-lhes superior.

 

Das oficinas do que observo, também  concordo que

 

O público é relativamente ao génio

 

Um relógio que se atrasa.

 

É preciso, portanto, apressar-nos lentamente.

 

Digo e assim sugiro este livro precedido de Fogachos numa edição da Guimarães Editores – edição do centenário 1899-1999.

 

 

Teresa Vieira

Julho 2013