Baudelaire: no fundo do desconhecido, rio acima.
Num estudo efectuado à poesia francesa do sec. XIX, Gaétan Picon, critico de arte e ensaísta, afirma que a obra de Baudelaire não é uma obra poética entre outras; é uma revolução (…) o ano de As flores do Mal – 1857 – inaugura uma época: a nossa, ainda.
Julgo que pelas experiências dolorosas, pelas confissões pessoais , pela prece a Deus que prove que ele, Baudelaire, não é inferior àqueles que despreza, As Flores do Mal aproxima Mon coeur Mis à Nu onde coloca toda a sua religião a que chama de sentir travestido.
Fernando Pessoa, Edgar Poe e Charles Baudelaire exprimem a sua natureza espiritual pegando na mão sofrida no domínio da vida terrena de cada um e sujeitam-na ao talhe.
Baudelaire, como é sabido, é tido por uma grande parte dos críticos como o fundador da moderna poesia, e no sec. XIX aprende-se com ele o quanto através dos sentidos nos surge nua a realidade concreta.
Abro a página do livro O Meu Coração A Nu e no XI
Só os salteadores estão convencidos, - de quê ? – De que têm de vencer. Assim vencem.
Porque venceria eu, pois nem sequer sinto vontade de experimentar?
E no XII
Sentimento de solitude, desde a minha infância. Apesar da família, e no meio dos camaradas, sobretudo, - sentimento de destino eternamente solitário.
E em XXXV
O que há de enfadonho no amor é que é um crime em que não pode passar-se sem um cúmplice.
E XLV
O que é o amor?
A necessidade de sair dentro de si.
Os apontamentos breves e sinceros de O Meu Coração a Nu tornam-se de extrema pertinência para o entendimento da obra de Baudelaire. Julgo que só assim se entenderá em plenitude a sua afirmação:
O Homem que fez a sua oração, à noite, é um capitão que coloca sentinelas. Pode dormir.
Diria que os génios só o são se não forem deveras entendidos, nomeadamente por outros que, do mesmo oficio, preferem sentir desprezo ou calar o que ainda que inconscientemente sentem ser-lhes superior.
Das oficinas do que observo, também concordo que
O público é relativamente ao génio
Um relógio que se atrasa.
É preciso, portanto, apressar-nos lentamente.
Digo e assim sugiro este livro precedido de Fogachos numa edição da Guimarães Editores – edição do centenário 1899-1999.
Teresa Vieira
Julho 2013