Professor Doutor Sousa Franco: a segurança que me conduziu enquanto aluna e sempre aluna.
Sempre me orgulharei de ter sido aluna na Universidade Clássica de Lisboa ou, através dela, não tivesse chegado à amizade, à profunda admiração e ao trabalho, todos países cuja língua dominava o Senhor Professor Doutor António Luciano de Sousa Franco, e que me deu a honra de comigo os partilhar.
Era o Senhor Professor Sousa Franco doutorado em Ciências Jurídico-Económicas tendo-se tornado prestigiadíssimo Professor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e reconhecido no seu Saber, internacionalmente, como poucos o foram.
Um dia, no corredor que levava ao célebre “PBX” da F.D.L., era então eu aluna do 3º ano, quando ouvi atrás de mim a voz do Professor que se me dirigia, dizendo:
- Ciências Jurídico-Económicas são uma óptima herança de si para si.
Parei. Cumprimentei o Sr. Professor e ganhei coragem para lhe dizer:
- Teimo, Sr. Professor para que essa consiga ser a minha opção. Teimo e não tenho ainda idade para teimar. Direito e Economia não serão passos demasiado grandes para mim?
Um dia, bem mais tarde, era então Presidente do Tribunal de Contas o Professor Doutor Sousa Franco, e por entre um pequeno-almoço apressado, disse-me a sorrir:
- A nau assentou? Ou nunca vai assentar?
-Sr. Professor, como sabe, continuo a escrever e a ver luz na docência e na investigação. Pedia-lhe uma palavra a este ritmo.
- Ora, ora, a Teresa cumpre. Vamos lá atacar as incapacidades de mercado.
E olhou-me como só os singulares e poderosos Professores podem olhar para os seus alunos.
O Professor Doutor Sousa Franco destacou-se, nomeadamente no ensino de Finanças Públicas, em Direito da Economia e Direito Comunitário e, de 1979 a 1985, na qualidade de Presidente do Conselho Directivo da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, constituiu o prumo de uma serena e segura igualdade de tratamento ao alcance dos alunos.
Ele queria muito que os alunos encarassem o futuro como um retorno à prometida forma de vida que no inicio desconhecíamos o que fosse.
Guardo as cartas que me escreveu. Todas me incentivavam ao trabalho de pesquisa. Todas reflectiam o afecto que só a amizade tem, e a aposta feita, de que, meu não seria o universo atrofiado.
Já Ministro das Finanças, se referiu numa breve carta - que me dirigiu na sequência do envio do meu último livro de então - ao que ele chamava de “a sua obra literária que tanto me engrandece”. E comovida pelo elogio que não merecia, buscava logo outras modos de explicar o multiplicador aos meus alunos, de jeito que honrasse o Professor, se viesse a saber o quanto a economia financeira e a distribuição de recursos na nossa Europa, eram por mim lados da mesma moeda, mesmo em tempos de incerteza, de opções e informações de contraste aberto.
Devo dizer que ter conhecido o Professor Doutor Sousa Franco nas vertentes que mencionei, foi o mesmo que abrir uma porta e reconhecer um habitat natural de honestidade, lealdade e modelo de estar enraizado ao burgo-planeta, com todos os desafios que isso implica.
Estava num hotel no Algarve quando o meu marido, num quadro pleno da gravidade e do entendimento da notícia revelada pela televisão, me disse quase sussurrando, quase amparando-me:
- Faleceu o seu Professor. Um ataque cardíaco, na campanha em Matosinhos. Sei que ambos sempre se lembrarão um do outro.
Vi-me enfim, muito pequenina no anfiteatro 1 da Universidade Clássica de Lisboa, a leccionar uma aula sob o atento escutar do Professor. Olhei para o mar e lembrei-me de uma frase da Bíblia
Não amemos de palavras nem de língua, mas por acções e em verdade.
M. Teresa Bracinha Vieira
Verão 2013