Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Vindos da capital contemporânea da China, chegamos à cidade de Xi’an - antiga capital da unificação do Império do Meio sob a acção de Ch'in Shih Huang-ti que reinou entre 221 e 210 a.C.. E se hoje falamos de China, tal deve-se à referência a este primeiro imperador. A cidade tornou-se também um destino da Rota da Seda, que partia de Ormuz mas que ligava o Mediterrâneo à China. Estamos perante uma realidade que permitiu a abertura de um império tradicionalmente fechado para algo que pôde ser conhecido dos europeus: foi a rota que levou o Budismo à China e que permitiu a Marco Polo dar a conhecer esta riquíssima cultura. Xi’an tornou-se mais conhecida nas últimas décadas graças à descoberta dos Guerreiros da Terracota: no túmulo do primeiro imperador, o gigantesco exército de que se conhece uma pequena parte. Os números são impressionantes e falam por si.
No primeiro pavilhão, vemos mil guerreiros expostos em onze corredores, o que é apenas um sexto do número existente de figuras enterradas no solo. No segundo, temos os restos de noventa carros, de quatrocentos cavalos e de mil guerreiros. E no terceiro, sessenta e oito figuras correspondentes ao comando do grande exército que protegia a viagem do genial imperador no reino dos mortos.
Os trabalhos arqueológicos continuam, são morosos e muitos complexos. Pode dizer-se que é a exploração arqueológica mais célebre da actualidade. A cidade de Xi’an está intimamente ligada às Dinastias de Qin e Han primeiro, e depois à Dinastia Tang. A história do império só pode ser compreendida nesta cidade, a começar pelo rigoroso sistema de recrutamento dos funcionários através de exames imperiais que valorizavam o mérito em lugar da existência de uma nobreza hereditária.
Uma visita da urbe leva-nos às muralhas da cidade e, simultaneamente, leva-nos também às Torres do Sino e do Tambor bem como aos Museus de Xi’an e à Floresta de Estelas.
Neste museu da Floresta de Estelas, nós encontramos aquilo que foi descoberto pelo Padre Álvaro Semedo em 1626 (padre natural de Nisa). E aquilo que foi descoberto dá conta da chegada à China em 781 da primeira missão de cristãos nestorianos vindos da Pérsia a que possivelmente Marco Polo faz referência, a primeira referência à terra de Preste João. A cidade era a cabeça do império com os seus seis ministérios: dos assuntos civis, dos ritos, das finanças, da guerra, da justiça e das Obras públicas. E simultaneamente temos dois grandes mercados que são como que os pulmões do corpo que era esta urbe. Por fim fomos às termas, as termas onde recordamos a tragédia amorosa da mitologia da Dinastia Tang.
Temos aqui referido textos de Fernando Amado recolhidos na coletânea intitulada "À Boca de Cena". E efetivamente, trata-se de intervenções sobre aspetos estéticos, mas também técnicos e de gestão das artes de espetáculo, e em particular do teatro. Hoje, recordamos uma análise notável de Fenando Amado sobre arte e técnica, à qual Almada, entre outros participantes, por exemplo António Dacosta, Afonso Botelho, Eduardo Viana, Vasco Futscher Pereira, deram réplicas em geral convergentes, num debate realizado no Centro Nacional de Cultura em 1951.
Fernando Amado discorre sobre as relações entre a arte e a técnica, na perspetiva de uma complementaridade em que a arte, isto é, a criação, prevalece.
“Não digo que a técnica não seja um tesouro. Mas para um artista a técnica é de ordem pessoal, intransponível, intimamente relacionada com o seu próprio trabalho. Nem de longe ele pode admitir que a técnica, isto é, o modo como ele tem de submeter (às vezes pela astúcia) a matéria, seja o que vai dar forma à poesia e lançar a ponte sobre as almas e corações”.
O primeiro aspeto que quero aqui ponderar é precisamente, esta distinção, por vezes esquecida, entre a criação propriamente dita e a expressão técnica da sua transmissibilidade. Claro que uma não se realiza sem a outra, pois arte é criação mas também comunicação, seja simples e direta por uma declamação, por exemplo, por uma recitação, seja pela complexidade crescente que impõe uma sinfonia executada por uma orquestra, ou um filme ou uma encenação do texto teatral.
E daí que Amado conteste uma convicção generalizada, aplicada às artes plásticas como exemplo, que “desde que (o pintor) saiba obter efeitos com as misturas das cores do espetro solar e saiba geometricamente contornar uma sombra e construir uma perspetiva, está pronto a entrar em colóquio com a obra de arte”… não chega; falta o principal, a criatividade a “ponte sobre as almas e corações”…
Almada diz que “a Arte é universalmente de todos os artistas. A técnica é exclusivamente de cada um. (,,,) É secreta”. António Dacosta gosta de avaliar uma obra de Arte pela reação que produz… Ainda que uma pessoa não perceba, teve uma reação boa ou má. Futscher discorre sobre as “incompatibilidades entre o artista - de qualquer tempo - e o seu público“, e Eduardo Viana insurge-se contra reações do público, no caso concreto, a uma exposição do pintor brasileiro Cicero Dias: “as senhoras, quando passavam diante dos quadros diziam todas uma à uma: Que horror! (…) E eu digo: onde está o horror naqueles céus, naquelas tonalidades deliciosas? Podiam ao menos dizer também: que lindas cores. Mas não! E Afonso Botelho questiona: “Será a Arte plástica uma arte pura, de tal modo que a forma e a cor, que fazem parte da sua essência, basta para a definir e portanto, para a tornar sensível?”
A conclusão de Fernando Amado é, apesar de tudo, no mínimo esperançosa: “Entre a gente nova está sucedendo qualquer coisa extraordinária na nossa terra. Vemos manifestar-se com vigor uma curiosidade sã, uma vontade generosa de realizar, que não se limita a devaneios. Surgem núcleos diferentes na música, nas letras, no teatro, nas artes plásticas. A atividade deste Centro Nacional de Cultura é um sintoma entre tantos”.