ALMADA - OS DESENHOS DE “DESEJA-SE MULHER” E DE “S.O.S.”
Já aqui falamos na peça central, digamos assim, de Almada Negreiros, “Deseja-se Mulher” (1928) e no que restou do “S.O.S.” (1928-29), peça que deveria continuar a anterior, mas de que existe apenas o 2º ato. Recorde-se aliás que o “Deseja-se Mulher” foi encenado em 1963 por Fernando Amado por iniciativa do CNC.
Mas em 1959 o “Deseja-se Mulher” foi publicado, ilustrado com oito esboços de cena do próprio Almada, que enriqueceu a edição com a capa, num grafismo do lema “1+1=1” e vermelho e branco sobre fundo negro. A inconfundível assinatura do autor, com o prolongamento da letra de Almada, valoriza a gravura da capa.
E este conjunto será retomado na edição das Obras Completas - Teatro, agora enriquecida com os esboços de duas cenas do “S.O.S:” - e sendo de lembrar ainda que Almada pintou e desenhou numerosos personagens da sua obra - Arlequins, Pierrots e outros, muitas vezes relacionando-os diretamente com as peças alusivas.
Mas aqui recordaremos apenas as ilustrações para o “Deseja-se Mulher” e para o “S.O.S.”, em função das respetivas notas de cena. São desenhos singelos, indicativos, mas sempre justificados pelo texto respetivo.
Assim, o primeiro quadro do primeiro Ato do “deseja-se Mulher” passa-se “numa boite de nuit. Pequenas mesas redondas com os baldes do gelo”. E lá estão, no esboço de cenário, sete mesas, duas delas parcialmente encobertas por um biombo. No segundo quadro temos “uma casita isolada no campo. Mesa e duas cadeiras diante da casa. Árvore ao lado. Vampa acaba de escrever na parede em grandes números 1+1=1” E vê-se uma árvore e uma mesa e duas cadeiras, não referidas mas desenhadas. O terceiro quadro é mais complexo: as “quatro paredes mestras de uma casa ao centro da cena. O seu material batido pelo tempo, Nasceu uma árvores no meio da edificação. A árvore é exuberantemente frondosa” - e realmente tem 4 ramos principais e 25 tufos de folhas numa dezena de ramificações.
O segundo acto - quarto quadro é mais simples; “Uma sala com a metade para o fundo elevada em estrado. Cadeiras no primeiro plano de costas para o publico”, seis ao todo. O quinto quadro passa-se no “hall de modesta pensão. Uma escada sobre para outro andar” - e há uma minuciosa descrição de mobiliário devidamente ilustrada - mala cadeiras e mesa.
O Terceiro Acto abre com um singelo sexto quadro: “um poste de iluminação com os três olhos: amarelo, vermelho e verde”, por esta ordem… “o sétimo quadro reproduz” a mesma cena do terceiro quadro sem a árvore”.
Finalmente, numa cena final, “aparece navegando um barco que para no meio do mar. O barco chama-se à proa 1+1=1. Traz um marinheiro” minuciosamente descrito…
Os dois esboços de cenário do que resta do ”S.O.S.” são mais complexos. No primeiro, temos “uma pequeníssima sala de espera num grande jornal. Para dar melhor impressão da sua pequenez, o cenário ocupará apenas um lado do palco” minuciosamente descrito. O jornal chama-se “O Estado - Diário Nacional, segundo se lê na parede. A sala tem mesa e 10 cadeiras alinhadas nas paredes. E numa porta lê-se, à transparência, (ao contrário) ALAS ED AREPSE” …!
E mais minuciosa é a descrição do outro quadro: “sala de Direção de um grande jornal. O gabinete do Diretor. A parede do fundo decorada com o mapa de uma nação imaginária com as suas províncias e fronteiras entre os quatro pontos cardeais”. O mapa tem uma bandeira ao centro, mesa do diretor, mesa da dactilógrafa com máquina de escrever, e na porta, à transparência lê-se OÃÇCERID”…
Mais detalhado não podia ser!
Duarte Ivo Cruz