Antonio Gamoneda
Este Verão também passará Gamoneda!, saberás tu, que, desiludindo, a minha espera de Junho, vai esta ser incauta? Não vou ser como Penélope. Quero desfazer a teia para me decidir. Eu, da minha parte, aguardo o som da tecla do piano que adie para amanhã o que devo repensar, serena, o mais possível.
Afinal, tudo aconteceu e os motivos do esvaimento também. Até parece que só Hamlet raciocinou com as sombras.
Ouves-me Antonio? Para qué las palavras desecadas.? Sou Luni, mas uma Luni diferente: veo la vida en el centro de la luz.
Sim escuto-te Luni e não entendo como podem existir corações amontoados pelo amor. A nossa sorte é difícil, é aprisionada. Não te sei dizer ainda se entendo as tuas palavras quando me dizes que não tens medo nem esperança. E eu ainda tenho o rouxinol para ti. Luni amor que duras en mis labios
Amor que duras: llora entre mis piernas
Ten piedad en mi boca
Eu dei-te uma arvore, Antonio, para apoiar as costas e o mundo atrás e à volta. Antonio, meu Antonio sem calendário. Quem afinal decidiu esta inquietação? Não te falo de outros barcos. Digo-te deste num mar sem fundo. E de que valeu?
Ah!, sim perguntas?,de que valeu ?, não saberás ainda que o mundo não é uma ideia. O mundo tem fome e adoece se lhe formos empestando o ar.
Fizemos deste o ano da necessidade ? ou só eu o fiz?
Si , Y la advertência de tu música explica todas las pérdidas y me acompaña.
Habla de mí como una vibración de pájaros que hubiesen desaparecido y retornasen.
Puedo …
Antonio que os teus espelhos não guardam as coisas reflectidas.
Yo permaneci… preciso de te ver, só assim me acordo por dentro e te escrevo uma carta.
Que dizes? O meu piano e o teu jornal completam-se? São apenas estrelas em desalinho?
Si, en tu niñez habitada por relámpagos.
Leio o jornal, sim leio o jornal e
Oigo tu llanto que nunca tuve en mis manos. Mas também quero permanecer desconhecido em ti,
y, cualquier dia,
de mi corazón.
Teresa Vieira
Sec. XXI